segunda-feira, março 29, 2004
Veneza-III
Quando chegamos ao séc. XI, Veneza já é uma potência com que é preciso contar no Mediterrâneo; as cruzadas ampliaram enormemente a sua esfera de acção: só Veneza podia dispor de uma frota consistente para transportar homens e víveres (sendo paga com privilégios nos novos estados, ditando a política desses reinos ou recebendo territórios). A IV cruzada, que se pode considerar um terrível crime contra a cultura (uma cruzada desviada para atacar uma cidade cristã que fora um baluarte do cristianismo como pagamento de dívida), representou para Veneza uma fantástica benesse: livraram-se de um rival, apanharam partes do seu império e embelezaram a sua cidade (os cavalos da Basílica de S. Marcos vieram de Constantinopla), dando-lhe o toque oriental e exótico em relação às outras cidades italianas (pronto, a influência já vinha de trás e manteve-se); ficaram também com uma fama de traiçoeiros de que nunca se livraram. Em rivalidade com Génova, espoliaram o novo Império restaurado, contribuindo para a ascensão dos turcos; quando estes transformaram a cidade milenar em Istambul, Veneza começa a preparar a retirada: combatendo a cada passo, vai aumentando o seu território na terra ferma (entre vitórias e derrotas), competindo com outros estado italianos, com o Papado, o Império, a França... Se não consegue fazer a unificação (mas provavelmente nunca esteve nos seus planos), perdendo o seu império comercial e colonial, obtém uma última esplêndida vitória em Lepanto em 1571; provavelmente inútil, e apenas simbólica, pois os turcos estavam a perder o fôlego das conquistas devido a transformações sociais e mentais no seu império que estavam a provocar uma estagnação), mas que deu um enorme alívio e orgulho à Europa da época (pois já não podemos falar de Cristandade). A perca da Cândia em 1669 representa o último estertor do estado marítimo. E no entanto, dois séculos depois, quando as tropas de Napoleão invadem o Veneto, as tropas recrutadas combatem ao grito de “Marco, Marco” e a população recebe silenciosa os anúncios de libertação com a igualdade e liberdade e fraternidade, sinal de que o patriotismo Veneziano mantinha-se. Em 1849, depois de um longo cerco, a recém formada república Veneziana, rendia-se depois de meses de cerco às tropas austríacas; em 1866 entrava para o reino de Itália.
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