quinta-feira, fevereiro 23, 2006

Carnaval

A origem do Carnaval é incerta. Normalmente atribui-se a uma festa romana, as saturnalia, em que as pessoas gozavam de enorme liberdade, chegando os escravos a ser servidos pelos seus donos (o mundo às avessas), para além de se beber e comer muito. Passava-se no entanto no final de Dezembro (enquanto que o nosso Carnaval é em Fevereiro).
Só na Idade Média, é que se pode falar em verdadeiro Carnaval, dado que tem esse nome e as características actuais: o hábito das pessoas se mascararem, um cortejo, um rei do Carnaval e muita troça. O nome vem aparentemente do latim ou do italiano (carnem vale-adeus carne, tanto podendo significar a despedida da carne como alimento devido à Quaresma ou carne como prazeres terrenos). A festa mais popular começou a ser a de Roma (sendo patrocinadas pelos Papas até ao Concílio de Trento), mas Veneza começou lentamente a suplanta-la, tornando-se (à medida que perdia a sua importância política) uma capital de prazeres. É um exclusivo dos países católicos (e ortodoxos), não se festejando nos países protestantes até muito recentemente. A partir de meados do séc. XX, o Carnaval brasileiro tornou-se o mais popular do mundo.

quarta-feira, fevereiro 22, 2006

Um roubo bem sucedido.

Philetaerus era um eunuco da época de Alexandre o grande, que depois da morte deste e de algumas confusões recebeu ordens do seu novo senhor Lisímaco (301 AC,) para comandar a fortaleza de Pérgamo (no território da actual Turquia) e o tesouro acumulado. Sendo Philetaerus um eunuco, não haveria perigo de este se revoltar e tentar criar uma dinastia, certo? Errado, pois possuía sobrinhos. Uma vintena de anos depois, desertou para um outro diadoque, Seleuco (criador da dinastia Seleucida) e este eliminou Lisímaco, sendo assassinado pouco depois por um filho de Ptolomeu que acolhera. Philetaerus aproveitou para criar um pequeno estado, distribuindo dinheiro a templos e comunidades gregas necessitadas, arranjou amigos, manteve-se à margem dos conflitos da época tudo isto de forma discreta e reconhecendo e apoiando verbalmente o novo rei seleucida (Antíoco), mas tornando-se progressivamente independente. Quando faleceu, passou a sucessão para o seu sobrinho; por essa altura já era tarde demais para os seleúcidas reconquistarem o enclave de Pérgamo, dado que tinham outros problemas em mão.

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Alcibiades




Acabei de ler este fim-de-semana a guerra do Peloponeso de Tucidides. Portanto decidi escrever sobre a personagem que domina o final da obra (a bem dizer, a segunda metade), Alcibíades.
Nascido por volta de 450 AC, era parente de Péricles, o que significa que pertencia a uma das mais ricas nobres e influentes famílias atenienses. Teve os melhores mestres da época, e foi mesmo discípulo de Sócrates (aparecendo mesmo nalguns diálogos de Platão). Bem parecido, rico, inteligente, culto, bom conversador tinha tudo para agradar; o problema é que era vaidoso, cínico, e muito, muito ambicioso; enquanto que o seu ilustre parente fora o primeiro homem da cidade, mas respeitara sempre a democracia e servia a cidade, Alcibíades pretendia (pelo menos assim foi apresentado) apenas o poder e as honrarias. Participou na guerra do Peloponeso, e depois de alguns combates, conseguiu convencer os seus concidadãos a romper a trégua assinada (421 AC) com os espartanos. Tendo entrado a princípio no partido aristocrático, como este o olhara com desconfiança, acabou por virar-se para o partido popular favorável à guerra (que o poderia dar a glória que pretendia). Conseguiu que fosse aprovada uma expedição contra Siracusa na Sicília, que forneceria dinheiro, homens e matérias-primas que dariam a vantagem definitiva contra Esparta. Mas então a sua sorte mudou. Foi acusado de várias blasfémias (a mutilação das estátuas de Hermes, a profanação dos mistérios de Eleusis, de que ainda hoje se discute se ele foi de facto culpado), e depois de uma série de peripécias teve de fugir. A expedição terminou num desastre, perdendo-se mais de 20.000, uma centena de barcos e muito dinheiro; expedição fora de facto decisiva, mas não como planeado. Refugiou-se junto dos espartanos e deu-lhes vários conselhos contra a sua pátria, que foram muito úteis (nomeadamente, a escolha do comandante que esmagaria os atenienses na sicília). Mas acabou por ter de fugir (por uma questão de amores com a mulher de um dos reis de Esparta (eram sempre 2) para a corte de um dos satrápas persas, que dominava a costa asiática. Convenceu este que em vez de apoiar os espartanos como fizera até então, devia manter um equilíbrio entre os dois adversários para se enfraquecerem e deixarem a Pérsia em paz. Entretanto, entrara em negociações com Atenas, e exigiu para o seu regresso (prometendo o apoio da Pérsia para esmagar Esparta), que fosse abolido o regime democrático e nomeado uma oligarquia. Atenas resignou-se mas a oligarquia não o chamou de volta. A frota de Atenas em Samos revoltou-se e considerou-se a única representante legal de Atenas seguindo a democracia (o resto das forças atenienses fieis à cidade foram esmagadas). Alcibiades conseguiu convencer as forças em Samos a reconhece-lo como chefe democrático, e venceu os espartanos em vários reencontros e reconquistando territórios; a oligarquia caiu. Voltou e foi recebido triunfalmente em Atenas (407). Mas no ano seguinte vários dos seus lugares-tenentes foram derrotados e acabou por se retirar. Tentou ir para a Pérsia para convencer o grande rei a atacar Esparta, mas um dos satrápas a comando dos espartanos mandou assassina-lo. Era um final algo inglório mas de certo modo apropriado para quem levara uma vida tão movimentada.

terça-feira, fevereiro 07, 2006




A propósito da exposição na Holanda de Rembrandt, coloco aqui a "Ronda da Noite".