quarta-feira, março 31, 2004

Jogo musical-II

A nossa segunda peça é o Orfeu (1607) de Cláudio Monteverdi (1567-1643): foi durante anos considerada a primeira ópera e embora agora se saiba que não foi assim, continua a ser considerada importante. Vários elementos estiveram por base desse novo género musical: o teatro medieval (que por vezes era cantado), as pastorelas e madrigais que eram compostos de forma a contar uma história e um esforço deliberado de tentar imitar o antigo teatro grego; tudo isso deu origem a uma nova forma de arte, no qual um libretista escrevia a estória (nós diríamos o argumento) com as falas que era musicada pelo compositor. Monteverdi adaptou o modelo, incluiu uma verdadeira orquestra e não alguns músicos de acompanhamento (tinha recursos para isso na corte de Mântua), e a sua popularidade adquirida em outros géneros permitiu-lhe fazer mais algumas (já em Veneza). Orfeo conta a estória do mito grego de Orfeo e Eurídice: ela morrera e ele um mestre da música desce aos infernos onde consegue comover Hades (senhor dos infernos) a deixá-la partir embora o senhor dos mortos põem como condição de que ele não olhe para trás a confirmar que ela o segue; ele concorda mas mais tarde por não ouvir os seus passos, não resiste e ela desaparece de vez .
Entretanto o género (que surgira em Florença) foi-se difundindo nos anos seguintes em Roma onde os eclesiásticos patrocinavam o novo estilo. Nesses primeiros anos, as óperas eram pagas por um mecenas que encomendavam a peça para comemorar um acontecimento importante (subida ao trono, casamento, etc) que podia ser aberto ao público ou unicamente representado perante um pequena assembleia; uns anos depois os Venezianos pragmaticamente resolveram o problema dos mecenas, permitindo o acesso do público ao teatro onde seria representada a ópera em troca de um pagamento. As óperas variavam de acordo com as tradições culturais: maior importância à música e subordinação do libreto (que era um mero pretexto para efeitos líricos) ou pelo contrário era realçada a estória, sendo a música apenas um acompanhamento; quando existissem meios, era utilizadas máquinas para fazer efeitos cénicos e encenações que espantassem os espectadores (efeitos especiais como agora se diz).


Sem comentários: