terça-feira, junho 28, 2005

Aniversário


Fizemos ontem 2 anos de existência.
Como quadro, vai um de Masaccio, a expulsão de Adão e Eva.

segunda-feira, junho 27, 2005

O período Heian- III

De grande relevo na cultura Heian foi a Academia. Foi fundada para divulgar o conhecimento da literatura e cultura chinesas de modo a cultivar as elites. Aí, professores (muitas vezes de origem chinesa), ensinavam o direito, os clássicos, um pouco dos cânones. Diversos anos de estudos e exames eram exigidos. Mas no entanto algumas limitações foram reduzindo o alcance desse projecto. Para se alcançar um cargo importante, o fundamental era pertencer-se a um clã importante não sendo necessário o comprovativo da academia (embora para obter cargos de menor relevo pretendidos por membros de clã pouco importantes já fosse uma quase garantia a posse do certificado, o que é paradoxal). Rapidamente os cargos na academia foram-se tornando hereditários (e não por nomeação pelos governantes ou pelo professor) dentro de certos clãs; começaram a surgir acusações de favoritismo na passagem de exames (os professores apenas passavam os seus familiares para mais ninguém poder ser mestre). A academia foi-se tornando cada vez mais fechada, o seu prestígio caiu, até estar em ruínas e no final do período Heian (séc. XII), depois de um incêndio foi abandonada.
Sendo o chinês a língua literária em que eram escritos poemas, jogos, histórias, e tudo o que valia a pena ser escrito, vemos curiosamente que foi na língua Japonesa que foram escritas as obras-primas e por mulheres, que sendo menos cultas, não deviam ter esgotado a sua criatividade a decorar os clássicos chineses.
A epopeia de Genji por Murakami (desconhece-se o nome da autora, por isso é usado este nome), uma estória que se prolonga por várias gerações é considerada uma das obras maiores da literatura mundial. Descreve a sociedade corte com numerosas descrições psicológicas de forma viva (pessoalmente ainda não terminei de o ler, mas concordando com o que é descrito, acho o livro entediante, decididamente não tenho preferência por sociedades cortesãs). Um outro livro contemporâneo escrito por outra mulher, é uma colecção de descrições com todos os preconceitos de uma mulher de corte (um exemplo: ela refere-se à vista repugnante de um homem peludo a dormir à sombra de uma árvores considerando que o homem se tivesse um mínimo de bom gosto ficaria escondido durante o dia e só sairia à noite quando ninguém o visse).
O Japão mantendo-se fiel à sua religião tradicional (o xintoismo, numa qual são adorados os Kami- algo que tanto podem ser deuses como espíritos dos antepassados) e existem rituais praticamente para tudo, deu um enorme relevo ao budismo. Faziam parte das embaixadas para a china, grupos de monges que deviam aprender tudo o que podiam, copiavam textos sagrados, mantras, etc. Ora, Um dos monges numa expedição, tratou de aprender o máximo que pôde sobre esoterismo. Aprendendo numerosos encantamentos de protecção, acabou por criar a sua própria versão de budismo. Otras seitas seguiram os seus passos (iniciando-se com monges da sua seita ou aprendendo directamente na China), diminuindo assim a importância do conhecimento literário na religião em favor de uma religião mais “prática”.
Outro monge considerou que se estava a cair num período de decadência em que as pessoas eram incapazes de ter força para cumprir os preceitos budistas (não matar, comer carne, etc) e o melhor era esforçar-se mais pela atitude e simplificar as exigências (basicamente, baixar a fasquia). Esta doutrina tornou-se popular para com todos os que não podiam cumprir o budismo a preceito (que se limitava aos monges, e mesmo destes falarei depois) como guerreiros, pescadores, caçadores. Também existiam discussões entre seitas que defendiam que todos tinham a possibilidade de reencarnar e tornar-se melhor, e outros que defendiam que os eta (equivalente aos pária) estavam excluídos desse ciclo.
As seitas tradicionais de Nara (a antiga capital), com a sua prosperidade económica (doações de dinheiro e terras pelo estado e aristocratas) tinham-se relaxado disciplinarmente. Chegavam a ter filhos, emprestar dinheiro (num caso chegou aos 180% de juros anuais!), beber e comer como grandes senhores. Logo eram incapazes de cumprir com os seus deveres de zelar com orações pelo país. As novas seitas que referi anteriormente, embora se mantivessem mais disciplinadas moralmente lutavam entre sí por pontos de prestigio edoutrina, chegando a criar verdadeiros batalhões de monges que saqueavam mosteiros vizinhos (surgindo futuramente os temíveis exércitos de sohei).

sábado, junho 25, 2005

O período Heian-II

Do ponto de vista cultural, o período heian manteve a tradi~ção: absorção de tudo o que podia da cultura chinesa. Enviavam-se embaixadas com centenas de estudantes para aprender direito, poesia, religião (budista), arte; ainda por cima estando a China no seu auge cultural com a dinastia Tang, o brilho e atracção eram maiores. À medida que os séculos foram passando, a situação começou alrerar-se: os Japoneses consideravam que já tinham aprendido o que precisava, a dinastia Tang foi perdendo o controlo do país tornando perigosas as viagens de sí caras (agravado pelo facto da própria corte japonesa estar a empobrecer).
Todo o aristocrata com pretensões de fazer carreira devia aprender o chinês escrito; o chinês falado era privilégio de alguns professores descendentes de chineses que formavam uma casta especializada no ensino. Aprendidos os caracteres considerados básicos, e um pouco de literatura, era dado grande relevo à aprendizagem da poesia, e sobretudo à arte de fazer poemas de forma a brilhar na corte.

quarta-feira, junho 22, 2005

Outra Anunciação


Mas desta vez de Fra Angelico





Entretanto, já estou a usar bogu no kendo. Estar uma armadura de cerca de 5 kg, com máscara e a roupa (kendogi e Hakama) que de sí já é quente torna-se um verdadeiro forno e suamos permanentemente. Depois dos aquecimentos e dos exercício a sério (1h 30) fica-se com uma sensação de esgotamento. Imagino que numa batalha a sério com mais uns kgs de armadura a sério, espada e afins, isso encurtaria consideravelmente a batalha em tempo.(antes que perguntem, não sou nenhum dos praticantes da foto).

domingo, junho 19, 2005

Pestes e Epidemias I

Resolvi abordar uma temática sobre uma das maiores causas de morte durante a história: as epidemias e/ou pestes.

É sabido que os seres humanos não sofrem da mesma maneira relativamente a todas as doenças. Meras doenças infantis numa zona tornam-se epidemias mortíferas noutra. Até uma tosse convulsa (Bordetella pertussis) ou mesmo a varicela (virus varicela-zoster) podem matar milhões numa "zona epidemicamente virgem", se ninguém (de entre esse milhões de pessoas) tiver qualquer resistência a eles. Por exemplo, a tosse convulsa pode ter morto metade da população no Japão nos finais do século IX d.C. Mas o caso mais conhecidona história é a taxa de mortalidade de 90% (aproximadamente) de Ameríndios após os contactos constantes mantidos com os Europeus desde 1492. Embora os conquistadores tenham morto grande parte da população em várias zonas, era fisicamente impossível terem massacrado tão vastas populações. Grupos pequenos demais para levarem com eles as doenças do "Velho Mundo", estabeleceram-se no "Novo Mundo" durante as Glaciações, e poucas doenças surgiram nos 30 mil anos seguintes.
(continua)

sexta-feira, junho 17, 2005

O período Heian

Em 794, uma intriga de corte, levou ao trono do Japão o neto de um anterior imperador, em vez de um filho. A mudança dinástica teria consequências importantes. Depois de vários problemas, o imperador Kammu decidiu abandonar a capital Nara, e depois de sucessivas mudanças foi construída uma definitiva, Kyoto. Embora essas mudanças custassem caro ao estado, foram ruinosas para a aristocracia que em poucas décadas teve de pagar sucessivos palácios. Por coincidência, a morte por conspiração ou velhice de vários elementos seniores da nobreza e menoridade dos seus sucessores, garantiu ao imperador um controle dos assuntos de estado como nunca sucedera. Apontando governadores locais a seu bel-prazer, Kammu e os seus sucessores imediatos tinham um razoável nível de controle, podendo mesmo organizar expedições contra os ainu (ou emishi, um povo aborígene) que controlavam ainda o nordeste do Japão. No entanto, vários elementos minaram esse poder. Os gastos na capital e nas expedições eram muito elevados sem trazer retornos (os ainus eram uma povo muito primitivo). Outro problema foi o sustento da família imperial: cada membro tinha direito a receber alojamentos, uma generosa pensão e criados (sabendo que vigorava a poligamia e que vários imperadores irmãos subiam ao trono sucessivamente abdicando pouco depois em favor dos parentes próximos, vemos a multiplicação que isso gerava). Um imperador decidiu limitar o direito a ser príncipe/princesa até descendentes de 5ª geração, reduzindo mais de 500 membros ao estatuto de nobres (que se tornaram taira ou minamoto), mas mesmo assim o número era enorme. E finalmente, a perca de controlo das terras em favor da formação de uma nobreza terratenente: os taira e minamoto para arranjarem colocação casavam-se com nobres locais, obtinham cargos de administração provincial, ou partiam à conquista de territórios com os seus efectivos. O poder central via assim perder lentamente o controlo do país.
Progressivamente, na própria corte os clãs apoderaram-se do exercício de funções, sendo de todos o mais poderoso, o clã Fujiwara do norte (existiam mais 3 clãs Fujiwara aparentados entre si). Este, graças a uma rede de clientelas, menoridades imperiais e casamento de filhas suas com os imperadores conseguiram tornar-se os senhores da corte.

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O templo de cima localizado em Kyoto, e dedicado aos imperadores Kammu e Meiji, é uma réplica em menor escala de um palácio imperial do séc VIII.

quarta-feira, junho 15, 2005

Botticelli

Um quadro agora de Botticelli, uma Madona como pedida...


Entretanto, ninguém votou ainda em quadros renascentistas extra-itália.

segunda-feira, junho 13, 2005

Como se tornar num deus involuntariamente

Nos finais do séc. IX, em pleno período “Heian” um ex-imperador que governava em nome do imperador (que era uma criança), decidiu para suplantar a influência do clã Fujiwara, promover um funcionário de origens modestas (leia-se: de um clã de importância secundária) de nome Michizune para servir de contra-poder. Michizune fora governador nas províncias e conhecia bem os seus problemas. Com o apoio de outros semelhantes a si, tentou efectuar reformas que permitissem evitar a perda de autoridade e rendimentos que o estado estava a sofrer devido à apropriação da autoridade do estado pelos governadores e senhores locais. Mas os clãs da corte opuseram-se, e o chefe do clã Fujiwara conseguiu convencer o imperador quando este chegou à maioridade, que Michizune pretendia destroná-lo em favor de outro parente. Michizune foi então exilado para a província (e o ex-imperador seu protector colocado num mosteiro). Mas a história seria caprichosa. Michizune que já era idoso, morreu pouco depois e por coincidência, o mau tempo e tempestades assolaram o Japão. Os adivinhos foram peremptórios: o fantasma do defunto estava a vingar-se. Foram efectuados sacrifícios e cerimónias de expiação e algum tempo depois o tempo melhorou. Começou-se a associar o nome de Michizune a um deus dos raios, e (não percebo bem como) a protector dos letrados; ainda actualmente ele tem um culto no Japão, com templos.
Algumas das suas reformas seriam implementadas um século depois, mas por essa altura já era tarde demais para fazer frente aos senhores feudais e os Fujiwara tinham um poder reduzido à corte; no séc. XII começaria o conflito Taira/Minamoto. Vou assim começar uma série de posts sobre o período Heian.

quarta-feira, junho 01, 2005

Concurso de arte

Bem, posso dizer que no concurso de maio todos foram vencedores (literalmente), já que houve 5 votos para 5 autores diferentes. Vou colocar durante o mês quadros desses artistas. E seguindo a ordem de votação, começo com Rafael.



Entretanto para o mês de Junho o tema será pintura renascentista extra Itália. Portanto vale tudo: flamengos, ibéricos, ingleses.