segunda-feira, agosto 30, 2004

Os princípios de um exército-III

A relação com os aliados era bastante conflituosa. O caso dos franceses é caricato.
Os franceses de Vichy depois de uma resistência acabaram por se passar para o seu lado. O general Gamelin, que nada representava para além de ele próprio (dado que as F.F.L. obedeciam a De Gaulle e os antigos seguidores de Vichy iam por Darlan), foi considerado como parceiro na coligação, mas ele exigiu “apenas” o lugar de comandante das forças aliadas dada a sua qualidade de general francês (que o colocava acima dos ingleses ou americanos). Inexplicavelmente, isso deu imensas dores de cabeça aos aliados, dado que eram estes que os equipavam e lhes forneciam as bases. Curiosamente, vemos já as sementes de conflitos futuros em germe: os franceses ao recuperar os seus territórios coloniais, trataram de se vingar dos colonos italianos e sobretudo dos árabes, com fuzilamentos de populações, prisões arbitrárias e detenção em campos de concentração de forma a chocar os seus aliados (que não eram propriamente meninos de coro por essa época). Por outro lado, os alemães tinham feito uma intensa propaganda, associando os americanos com os Judeus, dizendo que estes procuravam destruir a religião e cultura muçulmana.
Os ingleses consideravam que os americanos eram infantis, pouco competentes na arte da guerra e maus soldados, acabando por boicotar as suas iniciativas.

terça-feira, agosto 24, 2004

A Sul II

Um dos grandes rivais de Scott na exploração antártica foi outro britânico, Ernest Shackleton. É precisamente de uma das viagens deste que trata grande parte do livro que mecionei no post anterior: "Endurance", de F. M. Worsley.

O título da obra é igual ao nome do navio que levou a expedição até à Antártida. Worsley era precisamente o comandante da embarcação e um dos homens em que Shackleton mais confiava.

O objectivo da viagem, que começou um dia depois do início da 1ª Guerra Mundial, era fazer a travessia do continente gelado com recurso a trenós puxados por cães. Todavia, quando o "Endurance" procurava chegar junto do melhor ponto para desembarcar a expedição, o gelo fechou-se e prendeu o navio para sempre.

O que se passou a seguir foi uma das aventuras mais duras, perigosas e extraordinárias alguma vez enfrentadas por um grupo de seres humanos.

Durante um ano, Shackleton e os seus homens esperaram que aparecesse uma abertura que lhes permitisse continuar viagem. Tal nunca aconteceu e o gelo acabou mesmo por esmagar o navio e afundá-lo. Shackleton já tinha previsto que isso ia acontecer, pelo que foi possível salvar praticamente todo o material necessário e três barcos salva-vidas.

Com o afundamento do "Endurance", não restou outra solução senão arrastar tudo isso, à força de braços, durante muitos quilómetros. Com as placas de gelo em que se deslocavam a quebrarem-se constantemente, foi com algum alívio que finalmente lançaram as embarcações ao mar. Com poucos alimentos (até aí tinham sobrevivido comendo pinguim e foca), os 28 membros da expedição rumaram à ilha do Elefante, o pedaço de terra firme mais próximo. O tempo e o mar estavam horríveis, mas nada comparável com que alguns deles iam enfrentar a seguir.

Shackleton sabia que ficar na ilha do Elefante era a morte certa. Nenhum barco se atrevia a navegar por aquelas paragens. Não iria haver socorro. A única solução era pegar num dos dois barquitos que tinham trazido e tentar alcançar território habitado. Assim, depois de algum tempo de preparação, Shackleton, Worsley e mais quatro outros membros da expedição embarcaram no "James Caird" e rumaram em direcção à colónia baleeira do Geórgia do Sul, a cerca de 1200 quilómetros de distância. Levavam comida só para três semanas, porque sabiam que se não chegassem ao seu destino nesse espaço de tempo não tinham qualquer hipótese de sobreviver. Os restantes membros da expedição ficaram na ilha do Elefante, à espera que os outros trouxessem a tão esperada missão de salvamento.

As semanas seguintes no "James Caird" foram de um sofrimento atroz e de um heroísmo gigantesco. Praticamente toda a viagem foi feita no meio de tempestades ciclónicas (as do Antártico são as mais intensas dos sete mares). Todos os tripulantes estiveram encharcados desde o primeiro ao último dia - e isto com temperaturas de muitos graus negativos. Como cama tinham as pedras que serviam de lastro ao barco.

Nestas condições, a sobrevivência só se tornou possível porque, por incrível que pareça, mesmo assim conseguiam cozinhar a bordo. Com um pequeno fogão alimentado a gordura de foca, preparavam uma mistela de vários componentes e aqueciam bebidas. Cedo se habituaram a tomar tudo a escaldar, e provavelmente foi isso que lhes salvou a vida.

Outro dos problemas gravíssimos que tiveram que enfrentar e vencer foi a orientação. Ver o sol ou o horizonte, só por milagre; com os balanços, Worsley só conseguia manter-se de pé para fazer as medições astronómicas com a ajuda de dois homens, e mesmo assim só correndo o grande risco de todos serem cuspidos para o mar. Ao todo, nessas duas terríveis semanas, o capitão do "Endurance" só conseguiu fazer quatro medições - e nenhuma delas dava a miníma garantia de ser correcta.

Por tudo isto, não admira que a viagem do "James Caird" até à Geórgia do Sul seja considerada um dos maiores feitos de navegação da era moderna. Só um grande marinheiro como Worsley conseguiria guiar por estimativa uma "casca de noz" por 1200 quilómetros do mais tempestuoso mar da Terra. Ao fim de 14 dias de tormento incalculável, o pequeno barco conseguiu alcançar a costa da ilha, mas as provações ainda não estavam terminadas.

Apesar da enorme proeza que tinha sido chegar até ali, a acostagem tinha acontecido do lado oposto da ilha àquele onde se situava a estação baleeira. Voltar a embarcar no "James Caird" era suicídio, pelo que Shackleton decidiu fazer a travessia da Geórgia do Sul a pé. Ele, Worsley e outro homem partiram, deixando para trás os elementos mais enfraquecidos. Nunca antes algum homem tinha feito tal viagem. O interior da ilha era preenchido inteiramente por glaciares e enormes montanhas geladas, tão inóspitas que nunca ninguém se tinha atrevido a explorá-las.

Durante quase dois dias os três homens caminharam praticamente sem parar. Descansar mais do que alguns minutos era a morte certa. O vento fortíssimo e a temperatura glacial condenavam rapidamente quem parasse.

Finalmente, ao fim de meses e meses de martírio, Shackleton, Worsley e Crean conseguiram alcançar a salvação na estação baleeira da baía de Stromness. Bateram à porta do administrador local, e este, apesar de já os ter acolhido numa anterior paragem, não os reconheceu. Há mais de um ano que nenhum deles tomava banho ou mudava de roupa.

Salvar os outros três homens que tinham ficado no outro lado da ilha foi relativamente fácil. Muito mais complicado foi resgatar os membros da expedição que estavam á espera na ilha do Elefante. Só passados muitos meses e três tentativas falhadas devido ao gelo, é que Shackleton conseguiu finalmente salvar todos os membros da missão. Apesar do enorme sofrimento por que todos tinham passado, nem um único homem sob o comando directo de Shackleton morreu.

Mesmo com todas estas as provações, o apelo do Antártico era demasiado forte para estes homens. Em 1922, muitos deles voltaram a acompanhar o seu líder em mais uma expedição. Mais uma vez escalaram a Geórgia do Sul, e foi aí que Sir Ernest Shackleton faleceu aos 48 anos de idade.

Foi também aí, por vontade da sua mulher, que foi sepultado. Afinal, pensou ela, era muito mais apropriado que a sua última morada fosse tão perto quanto possível da parte do mundo que ele mais amava: o Antártico.

segunda-feira, agosto 23, 2004

A Sul I

Liberto de outros compromissos literários, consegui finalmente acabar de ler um magnífico livro sobre a exploração antártica - "Endurance", de F.M. Worsley.

Já lá vão uns largos anos que me deixei enfeitiçar por tudo o que tem a ver com o Pólo Sul. A responsabilidade vai inteirinha para uma magnífica série de televisão sobre a fatídica viagem do capitão Robert Scott ao pólo. Foi emitida na RTP, ainda no tempo do monopólio, e o título original era "The Last Place on Earth" (já não me recordo da designação portuguesa).

A série mostra de forma extremamente realista a competição tremenda entre as expedições lideradas pelo britânico Scott e o norueguês Roald Amundsen pela chegada em primeiro lugar ao Pólo Sul. Ambas partiram em 1910 e ambas chegaram ao seu objectivo em 1912. Amundsen e os seus homens voltaram em triunfo; Scott e os seus companheiros na etapa final até ao pólo morreram no deserto gelado da Antártida, vítimas da exaustão, dos elementos e do escorbuto.

Apesar dos noruegueses terem sido os primeiros seres humanos a alcançar o Pólo Sul geográfico (o magnético é outra história), Scott acabou por se tornar uma figura mais conhecida e celebrada que Amundsen. Isso tem muito a ver com o facto de ele ser britânico (e, logo, mais mediático), mas também com o seu destino trágico.

Quando depois de um esforço sobrehumano os britânicos alcançam finalmente ao pólo, eles descobrem que os seus adversários já lá tinham chegado cerca de um mês antes. Desiludidos e exaustos, Scott e os seus homens acabam por perecer já no regresso, a poucos quilómetros do depósito de comida que os salvaria.

Em circuntâncias normais, tudo isto teria ficado desconhecido para sempre e a história de Scott não teria hoje a importância que tem. Só que a tenda onde os infelizes exploradores acabaram por morrer congelados foi descoberta por uma equipa de salvamento, e o diário de Scott e doze cartas escritas por ele poucas horas antes de morrer foram recuperadas. Apesar de muitos peritos na exploração antártica terem, desde então, atribuído boa parte da responsabilidade da tragédia a Scott, palavras como estas garantiram-lhe o estatuto de herói nacional e a imortalidade:

..."but for my own sake I do not regret this journey, which has shown that Englishmen can endure hardships, help one another, and meet death with as great a fortitude as ever in the past. We took risks, we knew we took them; things have come out against us, and therefore we have no cause for complaint, but bow to the will of providence, determined still to do our best to the last...Had we lived, I should have had a tale to tell of the hardihood, endurance, and courage of my companions which would have stirred the heart of every Englishman. These rough notes and our dead bodies must tell the tale, but surely, surely, a great rich country like ours will see that those who are dependent on us are properly provided for".

quinta-feira, agosto 19, 2004

Os princípios de um exército -II

Analisando agora a capacidade combativa dos U.S.A.
A nível táctico a situação era má. O máximo que os soldados recebiam de treino físico eram três meses, a maior parte das vezes sem munição real, mas rapidamente com as necessidades, nem isso passaram a receber; pouca predesposição para combater e uma relutância em combater os alemães a quem não conseguiam odiar. Desorganização nos desembarques, enviando tropas com munições trocadas (as bazucas quando foram enviadas, ficaram em regimentos de guarnição na retaguarda sem sequer lhes explicarem para que serviam, enquanto outros soldados enfrentavam os panzer em Kasserine com espingardas), equipamentos desmontados que só iam com parte das peças (e o resto ia para outro lado qualquer). Incapacidade de montar ataques coordenados entre tanques, aviação, infantaria e artilharia (e que normalmente resultavam em banhos de sangue contra os alemães). Persistência em lançar ataques frontais em posições entricheiradas; ataques feitos sem reconhecimentos primeiro ou bombardeamentos.
À medida que a campanha foi progredindo, ao lidar com populações civis, deram-se casos de indisciplina flagrande (morte de árabes por prática de tiro ao alvo, violação de mulheres); se as ordens eram de castigar de forma rigorosa tais actos, muitos oficiais davam livre pulso a esses actos para ver se as tropas endureciam (numa expediçaõ de rangers contra italianos, foi dada a ordem de só fazer 10 prisioneiros, devendo os outros ser abatidos; no regresso descobriram que tinham feito 11 por engano e mataram o 11º).
A nível das altas esferas as coisas eram piores. Os oficiais não tinham experiência de guerra, ou esta reportava-se à 1ª guerra. A descoordenação e incapacidade de compreender os princípios da guerra moderna por muitos, resultavam em derrotas consecutivas.
O pior de tudo era a relação entre ingleses e americanos: estes desprezavam-se mutuamente e raramente se apoiavam, mesmo com unidades vizinhas a ser esmagadas pelos alemães (aliás não o faziam mesmo com os da própria nacionalidade).
Ora como é que os americanos conseguiram vencer a campanha? Porque à medida que o tempo foi passando, os oficiais que se notavam como incompetentes eram enviados para casa, enquanto que os outros que se destacavam pela positiva foram sendo promovidos (Paton, Bradley). E sobretudo revelaram uma boa capacidade de aprendizagem; sem atingir a mestria dos alemães, conseguiam com o tempo evitar erros básicos que os ingleses nunca se libertaram, apesar de alguns bons comandantes.

terça-feira, agosto 17, 2004

Os princípios de um exército-I

Este post é longo e portanto vai ter de ser repartido em várias partes (umas 4 ou 5).

Li recentemente nas férias um livro chamado “An army at dawm”; ganhou o prémio Pulitzer e foi escrito por Rick Atkinson. Não gosto muito do estilo de escrita (muito patriótico), mas é de facto uma mina de informações sobre a entrada do exército americano na segunda grande guerra.
O livro aborda a campanha africana, desde os desembarques em Marrocos e Argélia em 1942, até à capitulação alemã na Tunísia em Maio de 1943.
Fica-se siderado com a falta de preparação dos norte-americanos. A economia teve de ser reconvertida para as necessidades de guerra, mas os militares não sabiam exactamente o que era necessário; eram utilizados dados referentes à primeira guerra.
Diga-se em boa verdade que os americanos queriam desembarcar imediatamente em França para apoiar os soviéticos que estavam à mercê da grande ofensiva de Verão de Hitler em 1942 (e os americanos tinham a noção de que se a URSS caísse, a guerra seria interminável) e também para poder seguir para seguir directamente para a Alemanha vencendo a guerra de forma rápida; simplesmente os ingleses (que tinham interesses diferentes), argumentavam que um ataque directo em França seria um suicídio dada a força alemã nesse período e argumentavam com dados estatísticos sobre a relação de forças contrapondo um ataque contra uma zona periférica como o norte de africa que enfraqueceria o eixo, enquanto que os americanos ainda muito inexperientes nas reuniões apenas se defendiam com o uso de bom senso. Eram duas estratégias provenientes de culturas e recursos diferentes: os ingleses que estavama há séculos habituados a lançar ataques indirectos até enfraquecer o adversário, evitando um confronto decisivo e os americanos que carregavam imediatamente possuíndo recursos quase inesgotáveis que lhes permitia vencer pela superioridade de meios de forma vassaladora. Os ingleses venceram, e provavelmente foi o melhor que podia ter sucedido, pois como veremos a seguir, nem com meios os americanos conseguiam no princípio derrotar os alemães.

quinta-feira, agosto 12, 2004

Jogo Musical -VI

Retomo o passatempo do top-10 de obras musicais.
Terminei com a música dita erudita e sigo com outros estilos (todos eles do séc. XX, obviamente).
O estilo que escolhi foi o Jazz; como percebo pouco, tive de ler e perguntar a pessoas entendidas. Pedi um álbum que fosse considerado como representativo e um marco; embora protestassem que não fazia sentido escolher só um dada a diversidade e riqueza nesse género musical, acabou por sair um nome (podia ter sido outro qualquer); Miles Davis (1926-1991) e “Kind of Blue”. Emprestaram-me um exemplar e informei-me sobre o autor, portanto não esperem uma opinião de verdadeiro conhecedor, dado que não o sou.
Começou como trompetista, dedicando-se também à composição e adaptação de obras e improvisação de outros autores ao seu estilo. Na década de 60 e 70 começa a incorporar elementos electrónicos na sua música tornando-se mais experimentalista.
O álbum é muito elogiado pela sua interpretação e diversidade (sonoridade única, riqueza de timbre- eu sei que sem se ouvir, estes elogios tornam-se apenas lugares comuns sem sentido). Pessoalmente acho a música suave e até agradável como fundo sonoro e uma boa introdução ao jazz, mas sou incapaz de a apreciar muito para além disso; questão de treino suponho. http://www.amazon.com/exec/obidos/tg/detail/-/B000002ADT/002-2839632-0884022?v=glance

segunda-feira, agosto 09, 2004

Regresso

Voltei das férias. De entre vários locais, estive em S. Maria da Feira. Assisti a um torneio, visitei o castelo, (que tinha figurantes e mobiliário), lancei dardos (tenho jeito para a coisa), disparei flechas (aí sou uma miséria), vi saltimbancos, músicos, aves de rapina, muitas tendas com todo o tipo de produtos (desde sangria a amuletos como é costume), comi bem e vi imensa gente: parecia um S. João no Porto. Realmente, quando as coisas da cultura são bem organizadas, atraem as pessoas e são populares. Só que é preciso meios e muito, muito trabalho. Único pormenor negativo, foi a não realização do casamento no dia acordado (quarta-feira): é que houve uma falha de energia o que inviabilizou os sistemas de som e luz (irónico, não é?).
E de leituras? Bem, hoje falo só de um livro “A história de Genji” (Genji Monogatari). Foi escrito no Japão em princípios do séc. XI (apogeu do período Heian), por uma mulher membro da corte imperial. É conhecida por Murasaki (o nome de uma personagem do livro já que se ignora o seu real nome), sabe-se que pertencia a um ramo menor da família Fujiwara (toda poderosa na época).
A sociedade nada tem de parecido com a que nos é familiar dos filmes de samurais. É uma sociedade palaciana, que se dedica à poesia, música e outros prazeres da vida. Quem domina o país são os Kuge, aristocratas imperiais, descendentes longínquos de um imperador, ou dos clãs que a ele se aliaram quando se deu a centralização. Estão divididos em vários graus de nobreza (pode-se ser nobre de 1º, 2º, 3º, ou mais ordens); desempenha-se um cargo de acordo com a sua hierarquia, embora o favor imperial e as influências possam favorecer um indivíduo ou uma linhagem... até certo ponto. Mesmo para se ser uma humilde concubina (já não falo de esposa) de personagens ilustres, não estava ao alcance de qualquer uma (as restantes esposas, concubinas e sobretudo as que dessem herdeiros podiam dificultar a escolha do interessado, dado que um filho de uma concubina de humilde proveniência -leia-se, nobreza pobre ou rural que um século depois seriam samurais- tinha os mesmo direitos se reconhecido ao filho de uma primeira esposa. A poligamia era de facto algo complicada.
Os que desempenham cargos administrativos, governadores e militares são vistos com um desprezo mal disfarçado: se deixam as mulheres na corte, elas enganam-nos (depois de oferecer uma certa resistência claro), se vão acompanhados, as mulheres são lamentadas por irem para o desterro em territórios longínquos fora dos encantos da capital). Os maridos são assim descritos como boçais, gordos, velhos.
O herói é um filho do imperador (e de uma mulher de baixa extracção, isto é baixa nobreza e não de uma poderosa família): os seus passatempos são tentar conquistar belas mulheres por quem se vai interessando (algumas casadas), arranjar esquemas para entrar nos seus aposentos sem ser apanhado (numa das aventuras, ele é rejeitado, e para se consolar dorme com o irmão mais novo dela que é uma criança ainda, até nova tentativa). As personagens descritas são muito sensíveis, entrando em melancolia, depressão e morte com desgostos amorosos. À medida que o tempo vai passando, é descrito a mudança nas flores, o chilrear dos pássaros, o evoluir das estações.
Completamente oposto assim ao “Heike Monogatari”, que descreve batalhas, e o processo que pôs fim à sociedade cortesã um século e meio depois.