quarta-feira, julho 28, 2004

FALLUJAH E O TALMUDE

Por incrível que pareça, Fallujah, um dos principais centros da guerrilha iraquiana, poderá muito bem ter sido o local onde foi escrito o Talmude, o principal texto jurídico e consuetudinário judaico.

Quem o diz é Hershel Shanks, editor da "Biblical Archaelogical Review", uma das mais reputadas publicações dedicadas à história e arqueologia do Médio Oriente (infelizmente, o artigo em causa não foi aí publicado).

Parece que há 1500 anos a actual Fallujah se chamava Pumbedita, e era a sede de uma das mais importantes academias rabínicas da antiga Babilónia.

A evolução do nome da cidade é assaz interessante: em aramaico seria Pum-Bedita; daí passou para a Pallughtha do sírio antigo; e em árabe transformou-se em Falluga ou Fallujah.

O ZEPELLIN DE VOLTA?

Bem, não propriamente...

A DARPA, a agência do Pentágono que está encarregue dos projectos científicos e tecnológicos loucos (como a Internet, por exemplo), está a planear construir um dirígivel gigantesco, capaz de transportar uma das novas "unidades de acção" do exército norte-americano para qualquer parte do mundo, em quatro dias. São 1800 homens e o respectivo equipamento de apoio. Imaginem o tamanho da coisa!

Para ter uma ideia do aspecto do "bicho" e saber mais alguma coisa, ver aqui, aqui e aqui.

Desde o desastre do "Hindenburg", em 1937, que há esforços periódicos para recuperar o dirígivel como meio de transporte de uso comum. Até agora não têm tido muito sucesso, mas pode ser que o "Walrus" (assim se chama o projecto da DARPA) possa mudar a situação.

Já agora, se quiser ouvir a famosa reportagem radiofónica do incêndio do "Hindenburg", pode encontrá-la aqui (basta clicar no link que aparece no meio da página).

segunda-feira, julho 19, 2004

NAGASAKI

Morreu Charles W. Sweeney, o homem que pilotou o bombardeiro que lançou a bomba atómica sobre Nagasaki. Tinha 84 anos e nunca se arrependeu.
 
Nos últimos anos, uma série de historiadores mais ou menos políticamente motivados têm acusado a administração norte-americana da altura, liderada pelo presidente Harry Truman, de ter usado a bomba atómica contra um país que já estava derrotado.
 
Baseando-se numa enorme quantidade de informação que era desconhecida ou inacessível para os decisores políticos e militares da altura, estes autores passam um duro julgamento sobre a decisão de usar a bomba. Para eles, o Japão estava prester a render-se. Bastava manter os bombardeamentos convencionais (que, por sinal, eram quase tão mortíferos como os atómicos) e invadir as principais ilhas do arquipélago japonês.  Ou seja: usar as bombas atómicas foi não só desnecessário, como criminoso.
 
Isto é o que dá olhar o passado com as lentes (bastante deformadas) do presente. Isto é o que dá ignorar ou desmentir a previsão, feita na altura, de que a invasão do Japão ia matar um milhão de pessoas. Isto é o que dá preferir não ver que o teatro do Pacífico foi o mais cruel e brutal (com excepção de algumas áreas da frente Leste) de toda a 2ª Guerra Mundial. Em mais parte nenhuma se viram exércitos a lutar até ao último homem, como em Iwo Jima, Tarawa e Okinawa. Em Tarawa, por exemplo, dos 4800 defensores japoneses e coreanos, só 17 é que foram feitos prisioneiros no final da batalha. Todos os outros foram mortos pelos marines ou suicidaram-se. Em Okinawa, os civis japoneses lançaram-se do alto das falésias da ilha para evitarem a captura.
 
Ignorar tudo isto é a pior das cegueiras. É não perceber que, no Verão de 1945, o cansaço provocado pela guerra era enorme. O fim estava à vista, mas ninguém estava disposto a adiá-lo um dia mais para além do necessário. A invasão do Japão iria prolongar os combates pelo menos mais um ano. Um ano de carnificina.
 
Imaginem o que aconteceria se Truman tivesse decidido não usar a bomba? Por muito que custe aceitar aos revisionistas, a grande responsabilidade do presidente era ganhar a guerra, gastando o menor número possível de vidas americanas. Não usar uma arma tão decisiva como a bomba atómica era pura e simplesmente impensável.
 
Nos dias de hoje, a ideia da guerra total repugna-nos. Em 1945, os líderes e a população dos países aliados não tinham esse luxo. Todos sabiam que era matar ou morrrer. O nazismo e o imperialismo japonês não teriam qualquer piedade caso vencessem.
 
Cinquenta anos depois de ter largado a bomba em Nagasaki, Charles Sweeney foi a uma comissão do Senado dos Estados Unidos lembrar que, às vezes, é preciso tomar decisões duras e assumi-las. Era bom que as suas palavras não fossem esquecidas:
 
«Não estou aqui a celebrar o uso de armas atómicas. Bem pelo contrário. Espero que a minha missão [atómica] seja a última deste tipo. Nós, como nação, devemos abominar a existência de armas nucleares. Essa é, aliás, a minha opinião».
 
«No entanto, isso não significa que, em Agosto de 1945, dados os acontecimentos da guerra e a recalcitrância do nosso inimigo, o presidente Truman não estivesse obrigado a usar todas as armas ao seu dispôr para acabar com a guerra. Concordei com Harry Truman na altura, e ainda concordo com ele hoje».

sexta-feira, julho 16, 2004

VOZES DO PASSADO

E se fosse possível restaurar gravações áudio julgadas perdidas para sempre? E se esses cilindros de cera e discos, gravados em finais do século XIX e inícios do século XX, contivessem as vozes nunca escutadas de figuras como a raínha Vitória, o kaiser Guilherme ou Florence Nightingale? Ficção científica? Nem por isso. Basta ir aqui e ler. E digam lá que a ciência não é maravilhosa...


sexta-feira, julho 09, 2004

partida

Vou estar ausente por uma temporada (umas 3 semanas), portanto será complicado actualizar o blog até o meu regresso. Como despedida, coloco este link da Biblioteca Nacional.

quarta-feira, julho 07, 2004

Justiça nazi

Um prisioneiro num campo de concentração é seleccionado para ser gaseado no dia seguinte. Tem direito por isso a receber uma ração dupla de sopa. Quando chega com a malga, o cozinheiro recusa-se, diz que ele não tem direito, que ninguém lhe disse nada; o prisioneiro insiste, diz que foi escolhido para as câmaras de gaz, que o cozinheiro verifique; este de mau grado vai confirmar e ao aperceber-se que de facto o prisioneiro tem razão, dá-lhe a dose regulamentar; o prisioneiro vai comer a sua dose e no dia seguinte é enviado para as câmaras de gaz.
A estória retirei-a do livro de Primo de Levi “Se isto é um homem”. Muito bom para as pessoas terem uma noção do que era o regime.

segunda-feira, julho 05, 2004

Afrika Korps-III

Uma das maiores desvantagens dos alemães vinha dos seus aliados: os italianos. Mal equipados (a maioria dos seus tanques e artilharia não tinham possibilidade de competir com armamento inglês), mal comandados, desmotivados, as tropas italianas tinham uma tendência para se render mal as coisas corressem mal (do género, uma unidade de infantaria italiana ter de enfrentar blindados sem apoio, mas quem os pode criticar?). O mau exemplo vinha de cima: os oficiais exigiam refeições com vários pratos e raramente combatiam, enquanto que os soldados por vezes tinham de mendigar a alimentação aos alemães (Rommel estabelecera que os oficiais germanos comessem os mesmo que os soldados, aumentando a solidariedade do Afrika Korps). Sem possuírem tranportes, eram obrigados a caminhar pelo deserto muitas vezes a pé para a frente de batalha; a maioria dos oficiais não serviam para uma guerra moderna com grandes iniciativa e rapidez. Em itália, uma intensa burocracia travava o envio de reforços ou qualquer modificação que se tentasse impôr (mesmo que fosse o envio de reforços ou a adopção de armamento mais moderno). É certo que existiam excepções: um comandante de artilharia era tão apreciado por Rommel (pois colaborava com as suas peças em unidade com os alemães em perfeita sintonia), que este foi visita-lo na enfermaria onde jazia ferido de morte. Em combate corpo-a-corpo, os italianos saiam-se razoavelmente, e algumas unidades lutavam ferozmente como os paraquedistas da Folgore ou a divisão blindada Ariete que combateu em El Alamein para proteger a retirada dos DAK, resistindo até ao fim (por outras palavras, ardendo com os seus tanques). Algumas armas (em pequena quantidade é certo) ainda provocavam sustos aos aliados (como o semovente 75/18, um canhão de assalto). Mas tudo isto era muito pouco, e os alemães eram obrigados a vir constantemente em auxílio dos seus aliados para evitar que sectores da frente se desmoronassem.


sexta-feira, julho 02, 2004

Afrika Korps-II

Quais as razões para o Afrika Korps (DAK) não ter sido bem sucedido na conquista do Egipto? Algumas são óbvias: nunca receberam os abastecimentos (comida, combustível, munições, reforços, armas) que necessitavam em pleno, o que condicionava os planos de batalhas (necessitando mensalmente 150.000 toneladas recebiam em média 100.000, embora em ocasiões de maior eficiência inglesa podiam apenas receber 30.000). Tendo os seus reforços de vir de Itália estavam à mercê da RAF e Royal Navy (a partir de Malta), nem sequer tendo bons portos de desembarque. Pelo contrário, os ingleses tratavam de que nada faltasse ao 8º exército, de modo que após cada grande vitória de Rommel, poucas semanas depois os seus adversários tinham as forças refeitas (e os seus reforços vinham pelo Egipto que estava fora do alcance do eixo).
O facto do DAK ser visto pelo alto comando alemão (OKW) como uma expedição de ajuda aos italianos que apenas desviava recursos do que interessava (a frente russa), garantia toda a má vontade para o reforçar (mesmo Hitler que apreciava Rommel, acabava por não poder fazer muito); acrescentamos que Rommel não era um aristocrata prussiano mas um plebeu oriundo de Wurtemberg o que o tornava mal visto pelo comando alemão (daí a preferência que Hitler lhe dava), o que tornava a sua posição algo insegura com tentativas de o desacreditar (um enviado para estudar o DAK, concluiu que não tendo recursos suficientes, Rommel devia limitar-se à defesa sem atacar mais- o enviado era Von Paulus o futuro marechal alemão de Estalinegrado- ironias da história). Outro elemento a favor dos ingleses foi terem descodificado o código alemão de comunicação dando-lhes informações vitais (embora por vezes desastradamente interpretadas como foi no caso dos comunicados de Von Paulus, pois Rommel atacou os ingleses desprevenidos fazendo tábua rasa das considerações dos seus superiores).

quinta-feira, julho 01, 2004

Afrika Korps-I

Estou a acabar de ler um livro sobre o Afrika korps; este conseguiu obter uma fama admirável para os “fãs” da segunda grande guerra. Composto pela 5ª ligeira, as 15ª e 21ª divisões panzer tendo um cenário de guerra único (os desertos do norte de africa), e colocando por 2 anos em cheque exércitos bastante superiores, obtiveram uma fama de cavalheirismo pouco comum nos alemães (recordados sobretudo pelas sua eficiência... e extrema brutalidade).
Tudo começou em 1941 quando os italianos depois de sofrerem uma série de derrotas na Líbia contra os britânicos (rendiam-se aos milhares) foram obrigados a pedir ajuda aos alemães: Hitler enviou 3 divisões e Rommel. Nos 2 anos seguintes cobriu-se de glória, na vitória e na derrota. Não vou fazer uma cronologia desse exército prestigiado, mas apresentar algumas ideias do livro.
O afrika korps combateu num meio privilegiado para fazer a guerra: o deserto. Logo, nunca sofreu o problema de provocar vítimas civis (dado de que estes viviam nas poucas cidades que existiam e não viam combates ocorrer dentro delas). O facto de não terem unidades das SS, Gestapos, e outras unidades do género, reduzia o perigo de contaminação dos ideais nazis; a estadia num local tão remoto, sem grandes contactos e com raras licenças contribuiu para lhes dar valores e uma cultura próprios (e desenvolvendo uma identidade que os levaria 30 anos depois a continuarem a reunir-se); e sobretudo a influencia de Rommel que ignorava as ordens que considerava que violavam o espírito militar (fuzilamentos de comandos, retaliações contra actos de sabotagem): num incidente em que soldados italianos tentaram violar mulheres árabes e foram mal sucedidos (alguns deles sendo mortos), pediram a Rommel que fosse feita uma expedição punitiva para castiga-los; ele recusou e disse que não se insistisse mais no assunto.