quinta-feira, dezembro 28, 2006

Línguas semitas

As línguas semitas fazem parte de um grupo mais vasto, aparentado com línguas da Africa oriental (desse grupo fazia parte o antigo egípcio). Desconhece-se de onde vieram os semitas (Ásia? Africa?). A partir do 3º milénio, foram lentamente aparecendo diversos povos na mesopotâmia (povoada anteriormente pelos sumérios de origem desconhecida) que falavam línguas semitas: os amorreus, os acádios, só para citar alguns dos mais importantes. Lentamente o acádico foi substituindo todas as línguas que aí existiam, até que por sua vez os aramaicos surgiram e acabaram por impor a sua língua (estes processos deram-se numa uma lenta aculturação feita a partir das elites e não propriamente por imposição pelo uso das armas).
O aramaico entretanto foi-se expandindo até se tornar a língua mais falada no médio oriente (até ao período árabe), desde a fronteira egípcia até territórios dominados pelos persas. Obviamente uma língua falada num período tão vasto (1500 aC até 700 dC)e em zonas tão dispares tinha de sofrer modificações, de modo que o aramaico se dividiu em diversas línguas (de que sobreviveram algumas ainda actualmente). Não foi afectado pelo grego, nunca tendo os soberanos helenísticos ou romanos conseguido substituir a língua.
Outra língua semita é o árabe: de facto, existiam diversas línguas e dialectos árabes mas uma delas por ser a língua em que foi registado o corão (o chamado árabe clássico) conseguiu impor-se e levou à quase extinção das outras. Com a conquista muculmana, o árabe acabou por substituíro aramaico como língua falada pela maioria dos habitantes do médio oriente, conseguindo-se expandir para além dessa área. Apesar das diferenças regionais que acabaram por surgir, a existência de um livro sagrado de gramática fixa de leitura obrigatória (nem que seja para as classes cultas), consegue manter uma certa inteligibilidade entre as variantes do árabe dos vários países (fenómeno que não se deu com o latim). Acabou por dar origem a outras línguas como o maltês (ou deixar uma marca profunda nomeadamente nas línguass da península ibérica ou na Sicília).
O hebraico é uma língua semita aparentada com o fenício. Impôs-se por volta do ano 1000 aC na palestina, mas as guerras e deportações com os assírios/babilónios levou a que a língua fosse lentamente substituída pelo aramaico (sobrevivendo como língua litúrgica e influenciando as línguas faladas pelos judeus, quaisquer que fossem). Só foi recuperada como língua oficial de um estado no século XX com Israel.
Uma menção especial para o fenício: este povo de mercadores criou o primeiro alfabeto e conseguiu que a sua língua sobrevivesse até à conquista árabe.
Ainda existem diversas línguas semitas no chamado "corno de AFrica" que são faladas por milhões de pessoas.

quarta-feira, dezembro 27, 2006

Guns, germs and steel-I

Ofereceram-me este natal o livro “Guns, Germs, and Steel”. Foi escrito por um biólogo (entre outras coisas) que decidiu investigar sobre as razões do sucesso da civilização ocidental (Europa e EUA). A sua abordagem é original: em vez de estudar os europeus, estuda todos os povos não europeus para chegar a conclusões. Ainda vou no início do livro, mas vou já apresentar algumas ideias (o que estiver a negrito é meu).
O autor dá uma enorme importância aos factores geográficos que condicionam (quase que diria que determinam) as hipóteses de sucesso de um povo criar uma civilização tecnologicamente avançada (leia-se: fortemente hierarquizada, com agricultura e criando máquinas). Outro factor que ele considera é o do tempo de colonização: um território povoado há mais tempo terá na teoria uma vantagem por ter um maior número de pessoas que possibilitarão mais inovações (só que isso só se aplica depois da descoberta/invenção da agricultura há cerca de 11.000 anos, anteriormente o uso da caça recolecção por todos os povos garantia uma certa igualdade de condições).
Examinando os continentes, a Austrália estava em clara desvantagem: tendo uma massa de território pequeno, ainda por cima a maioria é deserto, suportando uma população ínfima. A Africa estava em vantagem: possui uma maior massa e um povoamento muito anterior (sendo o berço da humanidade). Simplesmente o sul do sahara estava quase isolado dificultando a transmissão de inovações, e os vários acidentes geográficos (rios e florestas quase intransponíveis levavam a que quaisquer reinos que se fundassem não pudessem expandir-se muito ou entrar em contacto em sí, impedindo também a transmissão de conhecimentos).
A América tendo uma clara massa maior (mais do dobro) estava em vantagem devido à possibilidade da formação de várias civilizações. Nesse aspecto a eurásia é a que possui mais vantagens: a sua vastidão é tão grande (além de ainda estar em contacto com o norte de africa) que obrigatoriamente teria um maior número de pessoas. Possuía outra notável vantagem: em climas tão diferentes, tinha diferentes espécies de animais que poderiam ser domesticados quando fosse inventada a agriculta e que estando familiarizados com o homem fugiam-lhe para evitar ser caçados no paleolítico até que no neolítico o homem recorreu a eles aumentando a sua força de trabalho, (enquanto que na América e Oceânia, todos os animais de grande porte passíveis de domesticação foram rapidamente exterminados provavelmente pelos humanos assim que estes apareceram, dado que não conhecendo o homem não tinham técnicas de fuga); assim mal começou o neolítico, mesmo que diferentes continentes tivessem a agricultura, já existiam povos em clara vantagem em relação a outros (mesmo que isso não fosse visível de imediato).
Em seguida o autor estuda a Oceânia. Vemos como os povos polinésios (de origem comum, agricultores com alguma estratificação social) povoaram uma extensão de ilhas que se estendia por vários milhares de km. Tendo enfrentado meios muito diferentes, tiveram de se adaptar. Nas ilhas Chathan (sul da Nova-Zelândia) tendo um clima sub-artico tiveram de reverter para a caça-recolecção; tendo um povoamento muito esparso de poucas dezenas de pessoas por grupo, os moriori recorriam a negociações para resolver as disputas entre grupos. No outro extremo os maoris da nova-zelândia, tendo agricultura e uma sociedade fortemente hierarquizada usavam a guerra como meio de resolução de conflitos (e em 1830 uma frota de canoas maoris atacou e conquistou os morioris, liquidando a sua identidade como povo independente, actualmente apenas existem descendentes mistos). No Havai formaram-se mesmo pequenos impérios que se estendiam por ilhas a centenas de km umas das outras, tendo a maioria da população que se dedicava à agricultura intensiva, possuindo artesãos especializados, castas de sacerdotes, chefes e guerreiros hereditários, e construindo grandes monumentos funerários, o que os assemelhava aos impérios da antiguidade. Não possuíam a escrita (mas que se poderia ter vindo a desenvolver) e não tinham o acesso a metais (utilizando outros substitutos de pedra); simplesmente a tardia colonização e desenvolvimento desses estados na Oceânia (depois de 500) levou à sua fácil conquista pelos países da Europa que já tinham vários milhares de anos de avanço (a um ritmo bem mais lento).
Finalmente, é apresentada a conquista do México e do Peru pelos espanhóis: porque é que grupos constituídos por poucas centenas de homens conseguiram conquistar impérios tão vastos? A resposta aqui é mais tradicional. O Peru sofrera uma guerra civil, os aztecas estavam à espera de um deus, os espanhóis tinham armas muito mais avançadas (aço e cavalos). Mas outro factor é também importante: nenhum dos soberanos indígenas acreditava que pudessem ser derrotados por exércitos tão minúsculos, de modo que se apresentaram em pessoa perante os conquistadores; estes pelo contrário tinham na sua bagagem cultural histórias de pequenos exércitos que venciam hordas inumeráveis e arriscaram. Existia assim uma diferença do maior número de experiências e contactos entre povos diferentes que dava aos espanhóis um maior leque de soluções.

sexta-feira, dezembro 22, 2006

quinta-feira, dezembro 21, 2006

A dança macabra




O comet’inganni
Se pensi che gl’anni
Non hann’da finire,
Bisogna morire

(Como estás enganado
Se pensas que os anos
Não vão terminar
É preciso morrer)

É com estas palavras que começa a canção “homo fugit velut umbra”, uma dança macabra anónima do séc. XVII.
Com todo o cortejo de desgraças que se deram no séc. XIV (epidemias, guerras, fomes), desenvolveu-se um intenso pessimismo. A dança da morte era uma alegoria que tratava da inevitabilidade da morte: fossem ricos, pobres, bons, maus, a todos no final ela estava reservada. Tendo diversas representações gráficas, as mais comuns era a de pessoas de todos os quadrantes da sociedade (jovens, belos, idosos, nobres, mendigos) a dançar numa roda com esqueletos.
As imagens aproveitavam para mostrar a futilidade da vida e do apego aos bens e glórias terrestres, devendo-se sobretudo obter bens espirituais (formando um maior contraste com a procura desesperada dos gozos terrenos de que as pessoas representadas pareciam tentar obter).
Eram pintados frescos, esculpidos relevos e compostas músicas com este tema.
Ao longo do séc. XVII e XVIII, este género artístico iria ser progressivamente esquecido, sendo recuperado por vários músicos no séc. XIX (uma das músicas mais famosas seria a de Camille Saint-Saens) e XX.

terça-feira, dezembro 12, 2006

Filipe IV

Há alguns anos atrás li esta história que se passou no reinado de Filipe IV (III de Portugal). Todos já vimos filmes sobre piratas a assaltar barcos espanhóis, mas o que é menos conhecido, é que existia também corso do lado espanhol (sobretudo da Cantábria). Muitos católicos da Holanda fugiam para os países baixos espanhóis e colocavam-se ao serviço dos reis espanhóis. Foi o caso de um jovem que se alistou como simples grumete. Com o passar dos anos foi sendo promovido até comandar uma pequena frota que fazia a vida negra aos seus ex-compatriotas. Ora depois de uma infeliz expedição (apanhou mau tempo e acabou aprisionado, a Coroa espanhola foi imediatamente resgata-lo pagando por ele e pelos seus marinheiros uma pequena fortuna (com os protestos dos negociantes holandeses que queriam que as suas autoridades os deixassem apodrecer nas prisões), tal era a importância estratégica que lhe era reconhecida. Uns anos depois esse marinheiro foi a Espanha numa missão. Filipe IV mandou imediatamente que ele fosse à corte pois queria conhece-lo: ele tinha uma enorme admiração por esses marinheiros que o serviam e levavam vidas aventureiras. Quis dar-lhe uma das ordens (creio que era a de Santiago), e perante os protestos das comissões que diziam que não havia possibilidade de comprovar a sua pureza de sangue (eram necessários papéis comprovativos vindos da Holanda, o que era impossível dado o estado de guerra), Filipe IV arranjou uma série de testemunhas abonatórias da pureza da fé do velho marinheiro, tendo-lhe depois arranjado um lugar num conselho consultivo sobre os assuntos da Flandres (isto tudo com o apoio do Duque de Olivares que queria misturar ao máximo as populações das várias partes do império para aumentar a sua solidariedade e diminuir o seu nacionalismo).

terça-feira, dezembro 05, 2006

Toyotomi Hideyoshi (1536-1598)

É um dos mais notáveis japoneses da história do Japão. No século XVI, o Japão estava dividido entre diferentes senhores feudais (os daymios) que lutavam pelo controlo de províncias. Toyotomi, era filho de camponeses o que lhe limitava as possibilidades de ascensão; prestou serviço militar como soldado, acabou por se juntar ao clã Oda como criado (era apertador de sandálias). Oda Nobunaga que era o chefe do clã, notou as suas capacidades de se desenvencilhar e começou a ouvir os seus conselhos e a dar-lhe missões, até Toyotomi se tornar general. As suas origens camponesas deram-lhe uma enorme popularidade no meio dos ashigarus (soldados de origem popular, que formavam a maioria dos exércitos por oposição ao samurais). Com o assassinato do seu protector, Toyotomi apressou-se a enfrentar o seu assassínio de modo a reivindicar a sucessão dos numerosos aliados dos Oda (que continuaram a existir, se bem que diminuindo o seu poder); depois de um breve confronto com os Tokugawa os seus maiores rivais, estes aceitaram reconhecer a sua autoridade, e tornou-se com mais um par de campanhas o líder do Japão. Não pôde tornar-se Shogun (dadas as suas humildes origens). Lançou 2 expedições contra a Coreia, que correram bem a principio; a posterior intervenção chinesa, juntamente com o mau tempo e dificuldades de abastecimento acabou por levar à retirada das tropas nipónicas (onde é que eu já li isto?). Proibiu a posse de armas por camponeses (o que é irónico) e tornou hereditárias as profissões, eliminando qualquer possibilidade de ascensão social (ainda mais irónico). Toyotomi que não tivera filhos, estabelecera um sobrinho como herdeiro, mas assim que lhe nasceu um filho, eliminou o sobrinho; morrendo Toyotomi e sendo o seu filho bebé, a guerra civil rapidamente rebentou, vencendo os Tokugawa (que acabaram por dar ao seu filho mais tarde o mesmo destino que Toyotomi dera ao seu sobrinho).