quarta-feira, novembro 26, 2003

Vikings-III

Para terminar este assunto, o que levou ao fim da saga dos vikings?
Várias explicações são normalmente apresentadas. Por um lado, as populações dos países atacados na Europa reagiram agrupando-se e refugiando-se junto aos senhores locais que os protegeriam (instituindo o feudalismo), e tornando menos proveitosas as pequenas expedições. Com o ano mil, começaram também a reorganizar-se os estados, preparando-os melhor para a defesa contra essas razias.
Aos poucos, foram-se formando estados cada vez mais centralizados que foram instituindo alguma ordem nos emergentes estados escandinavos e diminuindo os conflitos internos (e a necessidade de grupos se porem à aventura), e dedicando-se à guerra entre nações, formando os núcleos do que seriam um dia a Dinamarca, Suécia, e Noruega.
Depois das primeiras levas andarem a pilhar o que podiam, os grupos seguintes foram-se fixando e fundando estados (Normandia, sul de Itália, Sicília, Rússia), aliviando a pressão demográfica que for apresentado como causa dessa migração e aumentando a ordem e estabilidade (e permitindo que novos grupos de vikings migrassem pacificamente). Esses novos estados iriam é certo manter uma forte agressividade (os normandos da Normandia invadiram a Inglaterra, os do sul de Itália iriam provocar dores de cabeça ao Papa e ao Sacro-Império), até progressivamente perderem a sua identidade nos finais do séc. XII e XIII. A cristianização dos vikings, deveria também, ter levado a uma certa diminuição do seu ardor guerreiro (ou pelo menos a uma escolha mais selectiva dos seus alvos do que os mosteiros indefesos), com o abandono da moral que lhes garantia a entrada no Valhahala se morressem de espada na mão. E apesar de continuarem a dedicar-se à guerra, esta era feita de uma forma mais respeitável, contra estados e barcos com o qual se estavam em guerra e muçulmanos e não contra aldeias que apenas estivessem na rota de viagem.

sexta-feira, novembro 21, 2003

Derrotas coloniais-IV

Que se note que o conselho dos XIX (órgão que liderava a companhia) se esforçava para resolver esses problemas, nomeando pessoas competentes com uma folha de serviço o mais adequado possível; o problema era que a estratégia perfeita para corso e enriquecimento rápido não se coadunava com investimentos a longo prazo de retorno duvidoso; uma expedição de saque trazia lucros imediatos, enquanto que preparar e manter a conquista exigia a manutenção de guarnições, tropas e frotas de socorro durante anos a fio para a guerra, ou seja unicamente dinheiro a sair e pouco ou nenhum a entrar. Portugal podia dar-se a esse luxo, uma vez que a manutenção do seu império era vital para a sua sobrevivência como estado independente, enquanto que nos Países-Baixos, via-se o comércio como a actividade prioritária, a guerra só em caso de último recurso ou se os riscos fossem mínimos. Ou seja, sobreviveria não apenas quem tivesse recursos, mas quem os sacrificasse sem remorsos à guerra.
Claro que os cenários foram muito diferentes uns dos outros: S. Tomé povoada por portugueses que se dedicavam à plantação de açúcar, pouca resistência ofereceu, colaborou activamente com os neerlandeses e só deu problemas no fim (e mesmo assim, “comprou” a retirada dos ocupantes). Em Pernambuco, a anos pacíficos sob o governo do Conde de Nassau, sucederam confrontos e guerrilhas quando a ocupação endureceu um pouco (mas não tanto assim que justificasse a reacção portuguesa!). Em Angola, a guerra pode-se dizer que foi praticamente contínua, com uns breves intervalos, usando-se as tribos indígenas como auxiliares, devastando-se aldeias e massacrando-se populações (alguns acabaram por ser mais astutos e iam balançando de acordo com a sorte das armas).
A Companhia das Índias Ocidentais depois de um começo promissor acabou por perder em quase todas as frentes: foi corrida de Angola, S. Tomé, Brasil, da Baia de Hudson, do comércio no Canadá. Conseguiu sobreviver com algumas feitorias na costa do Ouro e com os escravos obtidos aí, lá pode manter e desenvolver os territórios das Caraíbas que conquistara.

quinta-feira, novembro 20, 2003

OBITUÁRIO

Não fazia ideia que a personagem ainda fosse viva. Só em Setembro, aos 101 anos, é que Serrano Suñer deixou este mundo. Como é normal nesta idade, foram os pulmões que lhe falharam.

O cunhado de Francisco Franco, «caudillo de España por la gracia de Dios», foi o mais importante pró-germanista do país vizinho nos anos difíceis da 2ª Guerra Mundial. Nessa época de fervores falangistas, o “cunhadíssimo” foi mesmo o homem mais poderoso de Espanha, com excepção, claro está, do próprio “generalíssimo”, que não deixava que ninguém lhe fizesse sombra por muito tempo.

Bem, mas a razão deste post tem a ver com as ideias peculiares de Suñer sobre Portugal. Ainda como ministro do Interior, e depois, a partir de 1940, já como ministro dos Negócios Estrangeiros, ele foi o principal interlocutor espanhol de Hitler e Ribbentrop. Por isso, foi um dos actores fulcrais da cimeira de Hendaya entre Hitler e Franco. Como é lógico, Portugal era tema recorrente dessas discussões.

Segundo Paul Preston, provavelmente o melhor historiador do franquismo, Suñer teria dito a Ribbentrop, o ministro dos Negócios Estrangeiros alemão, que «geograficamente falando, Portugal não tem qualquer direito de existência». Ao embaixador italiano em Madrid, Francesco Laquio, foi mais longe ainda: «Portugal deveria fazer parte de uma grande Espanha».

Não admira, pois, que surja neste contexto a ideia de que Serrano Suñer negociou com Hitler a anexação de Portugal pela Espanha, no que seria uma das moedas de troca pela participação espanhola na guerra ao lado do Eixo, e de que teria havido mesmo uma proposta alemã nesse sentido.

Na verdade, a documentação conhecida não nos diz isso. Franco nunca deu muita rédea solta às ambições anexionistas da Falange (ou de parte dela). Tal como António José Telo mostra na sua magistral obra «Os Açores e o Controlo do
Atlântico», Hitler nunca teve um interesse profundo na Península Ibérica. Os planos de invasão que existiam tinham como objectivo a tomada de Gibraltar. Esse é o único ponto de interesse estratégico alemão para além dos Pirineus, e, mesmo assim, só subsiste até 1941, quando a invasão da União Soviética vira o esforço de guerra nazi definitivamente para Leste.

Quanto aos devaneios iberistas de Serrano Suñer, o que poderia restar deles foi definitivamente enterrado em 1942, com a assinatura do Pacto Ibérico, que estabelece um entendimento duradouro entre os dois regimes.

Franco tinha mais que fazer.

quarta-feira, novembro 19, 2003

Derrotas coloniais-III

Se os portugueses eram corruptos, a Companhia das Índias com a sua avareza conseguia exasperar os seus subordinados: muitas vezes eram embarcados alimentos já com bicho por serem mais baratos, e água em pouca quantidade. Os produtos para comerciar com os indígenas escasseavam devido ao desejo de poupar e muitos dos escravos morriam nas viagens por não lhes ser atribuída alimentação. Os oficias do exército ignoravam assim muitas vezes os protestos dos representantes da companhia nas suas instruções por considerarem que por a Companhia não cumprir a sua parte ao assegurar-lhes roupas, comida e medicamentos, eles e os seus homens deveriam arranjar-se por outros meios (leia-se ficar com parte do espólio conquistado). As tropas rapidamente se trocavam indisciplinadas, recusando-se a cumprir ordens.
Outra praga era a cupidez devido ao espírito comercial: estando a decorrer combates, os representantes da companhia vendiam produtos aos portugueses. E se os portugueses raras vezes desertavam, o mesmo não sucedia com os neerlandeses (para quem ficar surpreendido pelo facto de eles desertarem para os “papistas”, é preciso não esquecer que a esmagadora parte da população do campo era católica, sendo calvinista a elite das cidades, mercadores e nobres, mas o medo aos espanhóis era tão grande, assim como o nacionalismo, que o país conseguiu manter-se unido), sob a promessa de melhores condições de alimentação. E esses desertores nunca eram entregues pelos portugueses, mesmo que acordos assim o estipulassem. Essa gente acabou por ficar integrada na população branca local.
Ou seja, se as pessoas pareciam tolerar que as coisas corressem mal, por o sistema ser todo corrupto e incompetente (acabando por ser uma justificação para o próprio comportamento), outra bem diferente, é tratar mal as pessoas deliberadamente para poupar custos e aumentar os lucros dos accionistas (coisa que já não era tão bem aceite).

segunda-feira, novembro 17, 2003

Derrotas coloniais-II

A política que os portugueses tinham desde cedo procurado implementar, passava pelo povoamento das colónias. Rapidamente se formou uma casta intermédia composta por mestiços filhos das indígenas. Logo, ao fixar-se, os portugueses consideravam aquele o seu território e não apenas um local para ganhar dinheiro (embora este motivo fosse sempre fundamental). Por um sistema de alegre corrupção, nos territórios africanos, toda a gente vivia do comércio (do simples soldado ao governador), desfalcando o monopólio do estado quando este existia. Daí que quando eram conquistados, às propostas de trabalhar para as Províncias Unidas, os portugueses reagiam fugindo na maior parte das vezes para o interior e fazendo uma guerra de guerrilha. Mesmo os que ficavam, consideravam o domínio dos “heréticos” calvinistas insuportável (apesar de lhes ser concedida uma razoável tolerância religiosa), criando focos de instabilidade. A religião era assim um elemento inconciliável. Os “Holandeses” pelo contrário não tinham qualquer problema em se retirar se as coisas corressem mal; assim os indígenas que a princípio os tinham acolhido bem, começaram a considerar que não valia a pena dar o seu apoio a esses visitantes, se depois, tivessem de ficar à mercê da vingança dos portugueses. Não eram feitos esforços significativos pela Companhia para enviar colonos para esses territórios, por medo que as autoridades militares locais tentassem obter a independência da Companhia (mas teria sido tal motivo alguma vez válido?).
E o clima: as guarnições lusas estavam sempre com baixos efectivos mal-alimentadas e com pólvora estragada o que facilitara a conquista por tropas frescas neerlandesas, mas rapidamente a malária veio impor o seu tributo, assim comos as chuvas, equilibrando as coisas.

sexta-feira, novembro 14, 2003

Derrotas coloniais-I

Não tenho podido escrever nestes dias mas tenho uma boa desculpa: uma crise de gastrite que me deixou (literalmente) de rastos. Aproveitei a minha convalescença para ler um livro que me despertou a atenção “Os holandeses no Brasil e na Costa Africana : Angola, Kongo e São Tomé (1600-1650)” por Klaas Ratelband, editado recentemente entre nós. De um historiador holandês completamente desconhecido entre nós, parece-me fundamental para quem se interessar sobre a problemática da manutenção do império português no séc. XVII, ao debruçar-se do porquê do falhanço do estabelecimento de um império holandês duradouro nesses territórios apesar das condições aparentemente tão favoráveis.
Vou poupar os pormenores fastidiosos e a cronologia, limitando-me a um breve resumo: desses acontecimentos e as conclusões que é o que interessa: com a união ibérica em 1580, o bom entendimento entre Portugal e as Províncias Unidas que estava em guerra com a Espanha terminou, e os territórios lusos passaram a ser cobiçados. Com a fundação da companhia das Índias Ocidentais tentou-se não só pilhar os barcos e estabelecimentos portugueses, mas também tentar criar um comércio alternativo com os povos indígenas (tratando-os bem e pagando preços mais razoáveis), e estabelecer feitoria ou mesmo conquistar territórios aos portugueses; estes deviam ser plenamente integrados no novo estado desde que prometessem não revoltarem, permitindo assim que a economia continuasse a funcionar sem as interrupções, que a substituição e confisco dos bens inevitavelmente traria. As décadas de 30 e 40 iriam ver a conquista de Luanda, São Tomé, Pernambuco, sem que os portugueses parecessem conseguir travar a maré invasora. Um acordo assinado depois, iria legitimar essas conquistas. No entanto, os portugueses conseguiram (na maioria das vezes sem receber qualquer apoio da metrópole) recuperar esses territórios (outros como S. Jorge na Mina ficaram definitivamente perdidos). Como sucedeu isso? Normalmente os “Holandeses” são apresentados como muito mais eficientes que os portugueses nos seus métodos comerciais, dominando a corrupção e incompetência do lado dos fidalgos portugueses, passando metade do tempo à guerra com Jesuítas pela conquista do poder, só lhes restando uma imensa coragem que teria permitido nalgumas vitórias providenciais recuperar tudo. A realidade é bem mais complicada.

sexta-feira, novembro 07, 2003

Vikings-II

Para Ocidente começaram as suas incursões pela Inglaterra (que a princípio decidiu livrar-se deles pagando um tributo; acabaram por conquistar o país até Alfredo lhes fazer frente, depois conseguiram mesmo ter um rei seu com Cnut), a Irlanda (destruindo os mosteiros que tinham possuído um incomparável brilho intelectual e cultural na triste Europa de até então), França (para se livrar deles, um rei de França entregou-lhes mesmo uma província que se chamaria Normandia), Península Ibérica (fizeram mais estragos na zona controlada pelos muçulmanos porque eram os únicos que tinham cidades dignas desse nome), Itália, e um pouco do mediterrâneo oriental e sul.
Para leste, dirigiram-se até à Rússia, criando estados em território eslavo; em Bizâncio formaram a guarda Varegue, uma unidade de elite, absolutamente fiel ao Imperador.
Para ocidente, chegaram à Islândia onde criaram uma república razoavelmente igualitária (pelo de acordo com os padrões da época), fundaram colónias da Gronelândia (a última extinguiu-se por inícios do séc. XVI, por pouco que os portugueses não tropeçaram neles) e existe elevada probabilidade de terem atingido a América. Digo “elevada probabilidade”, porque não há vestígios arqueológicos irrefutáveis. Existem sim sagas, e crónicas da descrição de terras que correspondem a esse continente e respectivos habitantes. Numa dessas crónicas descrevem como encontraram um grupo que os foi receber, mas dois conseguiram depois escapar com vida (dois índios que se entenda)... Supostamente passaram um Inverno numa povoação algures no norte, mas o seu temperamento algo “fogoso”, levou à guerra com os indígenas. Acabaram por levantar âncora e partir de volta à Europa (muito semelhante com o que se passou com os espanhóis de Colombo, com a excepção de que estes voltaram). Claro que mesmo que tenham sido eles os primeiros a chegar à América (ou outros povos anteriormente como já se sugeriu- chineses, fenícios, romanos, egípcios, para não falar dos próprios índios), a realidade é que a viagem que interessou para colocar a América no circuito dos mapas foi a de Colombo e não Leif Erikson (ou do mercador que lhe deu a informação para ser mais exacto).
Com os seus barcos pequenos e robustos, passaram rapidamente de meros assaltantes (como ainda se nota por tesouros arqueológicos descobertos na Escandinávia), a piratas/comerciantes dado os lucros que podiam obter juntando as duas actividades(nunca perdendo a sua faceta violenta quando necessária).

quinta-feira, novembro 06, 2003

Vikings-I

Juntamente com os cavaleiros e castelos, são uma das imagens de marca da Idade Média. Grupos de ferozes guerreiros em drakkars (barcos estreitos e compridos que funcionavam a remos e vela), assaltando as costas, pilhando e raptando gente. E surpresa, desta vez a imagem corresponde à realidade, (embora seja apenas uma das facetas).
Os antepassados dos vikings entre o séc. V e VI desalojaram os frísios do sul da Escandinávia (que juntamente com os anglos, saxões e outros, acabaram com os reinos celtas na Grande-Bretanha e instalaram-se também numa parte do que é agora os Países -baixos), e profundamente fragmentados, foram vivendo sem que alguém lhes desse importância.
Ora no séc. IX, sem que se tenha a certeza porque, começaram a expandir-se. Alguns argumentam que se teria dado um aumento do nível das águas que os teria privado das terras mais férteis, outros que a fuga dos saxões vítimas das campanhas de Carlos Magno teria levado a um aumento demográfico e a uma consequente hostilidade aos reinos cristãos; a mais credível pretende que o aumento demográfico numa terra não de si rica, levaria aos filhos segundos da nobreza a querer fora, as oportunidades que não tinham na sua terra. Em todo o caso, primeiro em pequenos grupos (1 ou 2 barcos), depois em autenticas frotas de dezenas de drakkars, assolaram as costas europeias e semearam o terror.
Eram denominados colectivamente por normandos (homens do norte) e deram origem a uma oração (da fúria dos homens do norte, livrai-nos senhor)
O seu sistema social embora simples estava longe de ser igualitário, como muitos pensavam: em primeiro lugar vinham os Karls (nobres), depois os Jarls (homens livres indo do agricultor, artesão, comerciante) e finalmente o Thrall (escravo ou servo, normalmente um prisioneiro de uma razia ou seu descendente, embora situações excepcionais pudessem levar à escravatura de homens livres). As expedições eram lideradas e financiadas pelos Karls, que compunham uma parte da tripulação, embora Jarls também fizessem parte. O objectivo era obviamente o enriquecer, mas como a sociedade não era muito rígida nas suas funções, o ganhar dinheiro negociando não era visto como desonroso (desde que não fosse actividade única).
Nas suas incursões se um grupo de vikings se apercebesse que as suas potenciais vítimas era demasiado poderosas para se atacar de forma segura, a resposta era a adaptação à situação: limitavam-se a fingir que eram negociantes, comerciavam (normalmente mercadorias não lhes faltariam) e depois assaltavam outra povoação menos preparada.

segunda-feira, novembro 03, 2003

Arianismo-III

Mas fora do Império as coisas passavam-se de forma diferente.
Wulfila, um descendente de romanos da Capadócia que vivia no meio dos Germanos, ao visitar o império assistiu a um dos concílios de meados do séc. IV no período em que os arianos eram dominantes. De volta aos germanos, pregou naturalmente o arianismo, traduzindo mesmo a bíblia para a língua germânica, usando as runas como escrita; a maioria desses povos adoptaria essa religião (com excepção dos francos, lombardos e anglo-saxões que continuaram pagãos), desenvolvendo um clero próprio.
Com as invasões do séc. V e VI, os novos estados bárbaros enfrentaram uma situação delicada: os germanos representavam uma pequena minoria (1%? 2%? Mais ou menos?), que estava isolada perante a maioria da população que possuía outra cultura, língua e religião.
Os Vândalos instalados no norte de Africa foram os que fizeram mais esforços para estabelecer a unidade religiosa: confisco dos bens da Igreja católica, exílio de bispos e padres. No entanto não conseguiram convencer a população líbio-romana a converter-se (que iria acolher os bizantinos como libertadores com as vitórias de Belisário em 533).
Na Península Ibérica, os suevos, primeiro pagãos, converteram-se ao arianismo e em 556 ao catolicismo, antes de serem anexados pelos visigodos em 585. Estes, apesar de algumas perseguições esporádicas acabaram por ser relativamente tolerantes. Depois de 587, foi a sua vez de se converteram ao catolicismo. O mesmo se passou com os burgúndios que acabaram por ser absorvidos na mesma pelos francos logo em princípios do séc. VI.
Os ostrogodos merecem um destaque especial: convertidos ao arianismo, revelaram uma certa tolerância que seria afectada mais pelas vicissitudes das relações com o Império Romano do Oriente do que propriamente por motivos religiosos (o que não quer dizer que isso não fosse mais um motivo de fricção). Pagaria com a vida o filósofo Boécio (talvez o último latino por longo tempo a conseguir pensar e escrever em grego), a acusação de traição a favor dos Orientais. As guerras góticas em Itália que levariam à ocupação bizantina (535-555 entre batalhas, pausas e revoltas), destruíram o reino ostrogodo e o baluarte político do arianismo.
De se notar, que quando o soberano se convertia (para qualquer religião), o resto da população germânica seguia-o rapidamente, uma vez que se pretendia mostrar a fidelidade ao rei; a religião era quase como um património do clã que se adoptava como outras coisas, ou se abandonava conforme as necessidades.
Como já sucedera dentro do Império Romano, por conversão voluntária ou à força, só ficaria uma Igreja Católica.