segunda-feira, setembro 27, 2004

Perseguições

Nas vésperas da II Guerra Mundial, Estaline interrogava-se sobre o possível perigo que representaria a comunidade alemã na URSS de quase um milhão de pessoas, no caso de uma invasão nazi. Béria (chefe do NKVD, futura KGB) decidiu colocá-los à prova: enviou perto de 6000 agentes disfarçados de espiões alemães. Só menos de 10, não foram denunciados; concluí-se que a comunidade alemã representava um perigo e decidiu-se deportá-los. para a sibéria. Estando aí, achou-se que eles não representavam perigo e foram deixados no meio da tundra (sem alimentos ou abrigos- existem de facto coisas piores do que ser internado num campo de concentração). Boa parte deles morreu no primeiro inverno. Os sobreviventes dos descendentes estão actulamente a emigrar para a Suiça alemã (o único país que lhes reconhece o estatuto de etnia germânica). Para a próxima, conto uma estória sobre os E.U.A. para equilibrar as coisas.

terça-feira, setembro 21, 2004

Coreia do Norte

Estes últimos tempos têm sido muito atarefados, e por isso não tenho tido tempo para escrever. No entanto, fiz uma leitura este fim-de-semana que não podia deixar de referir, apesar de abordar assuntos que não aprecio muito (história contemporânea). Em casa dos meus pais, tenho em 6 volumes, uma série de discursos de Kim-Il-Sung; este fim-de-semana aproveitei para ler uma parte de um deles (referente ao ano de 1976).
Um dos discursos que mais me chamou à atenção, foi proferido perante um comité de representantes de agricultores (o nome oficial é diferente). O discurso começa com uma parte retórica (o capitalismo está a cair, o socialismo está cada vez mais forte, as massas oprimidas por todo o mundo irão levantar-se contra os exploradores, etc, etc). Depois temos uma parte referente à situação económica nacional (mais retórica: nunca se viveu tão bem na correia do norte, os resultados económicos são excelentes, etc). Finalmente temos a análise da situação que de facto interessa: neste caso, as dificuldades sentidas na agricultura. Aqui, temos uma análise fria e relativamente realista da situação. Em várias províncias, as colheitas de arroz e milho (o livro é uma tradução espanhola, e creio que o cereal era de facto este) tinham sido inferiores ao esperado. As justificações são várias: excepcional mau ano agrícola, mas sobretudo descoordenação entre vários ministérios, departamentos e organismos. Eu contei os que foram referidos: 5 pelo menos (um para planificar o ano agrícola, outro para fornecer máquinas, outro para adubos, e não me lembro dos outros). Kim-Il-Sung queixava-se também de que os funcionários do ministério da agricultura planificavam as estimativas das colheitas, as necessidades de material, e todos os pormenores, sem se preocupar em falar com os camponeses (ou melhor, com os chefes das cooperativas), o que dava mau resultado; eram demasiado burocráticos, não se conseguindo coordenar entre si (os funcionários); para dar resposta às necessidades em tempo útil da agricultura quando viam que era necessária mão-de-obra extra para outras actividades, desviavam-na da agricultura, atrasando o transplante do arroz (deitando assim a colheita a perder), ou transferindo operários para essa tarefa (sem lhes dar informação de como efectuar os trabalhos piorando a situação) desorganizando outros serviços, sem se preocupar em saber quantas pessoas eram necessárias. A substituição de máquinas e peças era também bastante complicada, dada a escassez de materiais do país e a desorganização dos serviços. No entanto (por motivos ideológicos provavelmente), nunca reconheceu, que as falhas de produtividades da agricultura poderiam ser remediadas, centralizando todos os assuntos relacionados com a agricultura num único ministério (e organismos por si dependentes), em vez de os ter partilhados por vários, já que deixar que fossem os próprios camponeses tratassem dos seus assuntos estava fora de questão. À medida que for lendo sobre outros assuntos, irei escrever mais.

segunda-feira, setembro 13, 2004

11 de Setembro

Foi nessa data em 1609 que foi ordenada a expulsão dos mouriscos de Valência, seguindo-se depois por toda a Espanha (o decreto original para expulsão é um pouco anterior).
Quando em 1492 Granada foi conquistada pelos reis Católicos (Fernando e Isabel, os futuros patrocinadores de Cristóvão Colombo), aos muçulmanos fora-lhes garantido num tratado o direito a manter a sua religião, hábitos e costumes. No entanto rapidamente os seus direitos começaram a ser cerceados o que os levou a revoltarem-se; tal foi o pretexto para lhes retirarem tudo o que fora acordado, exigindo-se-lhes a conversão. De facto, o que se pretendia na península ibérica era ter um reino, um povo e uma religião; a existência de minorias estragava esse panorama (Portugal também, mas isso é outra história). Continuaram a praticar a religião em segredo e os períodos de perseguição (com a inquisição) e revoltas (isso levou Guilherme de Orange a aperceber-se de que se um punhado de camponeses conseguia pôr em xeque a poderosa Espanha, as terras da Flandres muito mais ricas deveriam ter boas hipóteses de se tornar independentes), alternavam com uma relativa tolerância (eles viviam no sul e as suas terras pertenciam a membros da grande nobreza que os apreciavam pela sua capacidade de trabalho e por isso os protegiam). Depois de um endurecimento de posições (eram acusados de ajudar a pirataria muçulmana e outras traições), acabaram por receber ordem de expulsão. Assim terminava uma presença que se iniciara em 711, e o sonho do Al-Andalus.

sexta-feira, setembro 10, 2004

Akhenaton-II

Mandou construir a cidade Akhetaten, do nome da divindade (conhecida actualmente como Tel-El-Amarna, o seu nome árabe) para se afastar do clero tradicional e honrar o seu deus. A arte egípcia tornou-se de algum modo mais realista (o retrato de Nefertiti, as deformações e deficiências das pessoas não eram escondidas nos retratos). Mas enquanto mantinha o seu zelo religioso, esquecia-se do mundo temporal: os territórios dos pequenos potentados ao serviço do Egipto iam sendo conquistados pelos Hititas. Sabemos da situação, porque uma extensa correspondência diplomática do Egipto conservou-se numa parte do palácio (a língua usada era o acádico e eram gravadas em tabuinhas). Eis o excerto de uma carta:
“Eu escrevi repetidamente por tropas, mas nenhumas me foram concedidas, e o rei não ouviu as palavras do seu servo. E enviei um mensageiro para o palácio mas ele voltou de mãos vazias- ele não trouxe tropas”.
Ao fim de alguns anos morreu de forma algo controversa (ainda se está para descobrir a sua múmia, apesar de alguns arqueólogos dizerem que ela foi encontrada), sendo sucedido por Tutenkamon (sim, o do túmulo da maldição: provavelmente era um meio irmão de Akhenaton que casou com uma filha deste, morrendo aos 18 anos). A religião tradicional foi restabelecida, o palácio abandonado e a Akhetaten destruída (o que paradoxalmente salvou-a, pois ficaram os alicerces e materiais que teriam sido destruídos, caso se continuasse a construir por cima), e o nome de Akhenaton foi martelado das inscrições e votado à maldição. No entanto, o seu acto revolucionário (fanático ou inovador conforme as preferências), tornou-o relativamente popular perante o auditório moderno, fazendo-se filmes e mesmo uma ópera sobre ele.

terça-feira, setembro 07, 2004

Akhenaton-I

Recentemente ofereceram-me em CD a ópera “Akhnaten” de Philip Glass; parece-me um bom pretexto para fazer um post.
Amenófis IV pertencia aquilo que se considera a XVIII dinastia (um sistema bastante artificial mas prático de divisão). Essa dinastia levara o Egipto ao zénite do seu poder depois da dominação dos Hicsos (um povo vindo da Ásia). Boa parte do médio oriente estava sob a sua influência, estabelecendo pequenos reis que enviavam tributos e forneciam tropas; para sul, o Sudão era explorado nas riquezas (ouro, lápis-lazuli); também eram efectuadas trocas comerciais com toda a bacia do mediterrâneo. Enfim, foi uma excelente época para o país do Nilo. As velhas divindades continuavam a ser honradas, embora se destacasse Ámon e sobretudo o seu clero na riqueza.
Quando o novo faraó (Amenófis IV) subiu ao trono, decidiu alterar a tradição: de ora em diante, só se adoraria uma divindade, Aton (o termo significara até então o disco solar físico- o sol- por oposição à divindade que era Ámon); mudou o seu nome para Akhenaton (o servidor de Aton), considerando que as restantes divindades eram falsas, e proibindo o seu culto (estabelecendo-se assim a primeira religião monoteísta, pelo menos aparentemente). Akhenaton seria o seu profeta e divulgador na terra, não se considerando uma divindade (os faraós até então tinham sido considerados deuses, mesmo que menores em relação a outros do panteão).

sexta-feira, setembro 03, 2004

Os princípios de um exército-IV

Quando se compara todo amadorismo com o lado alemão, fica-se espantado por terem vencido. Os alemães combatiam como equipas, sem rivalidades entre as várias armas. Utilizavam os recursos de forma parcimoniosa, procurando explorar o terreno, fraquezas observadas, fazendo muitas manobras de envolvimento (evitando os ataques frontais, tão custosos em vidas humanas).
É certo que o autor lhes aponta imensas falhas, apesar de reconhecer a sua superioridade táctica e estratégica. Por exemplo, em Kasserine um destacamento blindado alemão que perfurara as linhas aliadas durante a noite, avançou cautelosamente embora não existissem tropas em frente de modo que quando de manhã retomaram a marcha a toda a velocidade já se tinha formado uma linha de defesa, que conseguiu atrasa-los; segundo o autor a exploração dessa brecha durante a noite teria permitido varrer as linhas aliadas num buraco de uma centena de kilómetros que poderia ter provocado (seguindo o resto do exército alemão) o desmoronamento de toda a frente (dado que os tanques americanos tinham acabado de ser destruídos e se estava a dar um movimento de pânico e de retirada das tropas por moto próprio, para não dizer deserção e fuga pura e simples). Ora para mim essa visão tem vários problemas: primeiro, os alemães não sabiam que o adversário fugira, e andar a toda a velocidade de noite sem fazer reconhecimentos pode dar mau resultado; depois, os alemães tinham de ser necessariamente cautelosos, pois as suas perdas eram muito difíceis de substituir, enquanto os aliados podiam-se dar ao luxo de perder unidades e equipamento sem problemas, que existia sempre mais há disposição (e se não era assim, agiam dessa maneira). E mesmo que o destacamento tivesse avançado, os aliados teriam colocado qualquer coisa no caminho, nem que fossem os cozinheiros e pessoal administrativo armados de pistolas como sucedeu em outras ocasiões, além de sofrerem de limitações de combustível e abastecimentos que não lhes permitiriam dar “passeios” de centenas de km à sua vontade. Além de que os ingleses do VIII exército não estavam assim tão longe, e Montgomery não teria perdido uma ocasião dessas para “brilhar” salvando os americanos. Kasserine foi um brilhante feito das armas alemãs em si mesmo, e esperar que os comandantes façam tudo correcto sem terem as informações necessárias é um pouco abusivo (mesmo que o adversário faça tudo mal, como foi o caso).
O maior problema do eixo, foi fruto do regime nazi: tinham um comando repartido ente 3 figuras, entre Rommel, Kesselring e Von Armin, cada um com a seu esfera de domínio, obrigando-os constantemente a debater entre si pela conduta a seguir. Embora fossem os três extremamente competentes (os dois primeiros sendo comandantes de primeiro plano), isso fazia-os perder tempo em vez de agirem imediatamente (e muitas vezes tendo as suas mensagens interceptadas pelos aliados graças à máquina Enigma). Isso foi ideia de Hitler que gostava de repartir os comandos, em vez de os unificar. As limitações que tinham de recursos (e sobretudo de reforços), obrigava-os a ser (como já referi) extremamente cautelosos, não arriscando mais do que o necessário (mesmo assim, eram mais audaciosos que os aliados).