quinta-feira, agosto 21, 2003

As cruzadas-IV

A quarta cruzada... Pode-se-lhe verdadeiramente chamar cruzada?
O Papa Inocêncio III apelou a uma cruzada em 1198 para conquistar Jerusalém (o objectivo falhado da III cruzada), mas os preparativos começariam 2 anos depois. Vários grandes senhores trouxeram exércitos e estipularam um acordo com Veneza que transportaria essas tropas na sua frota em troca de uma quantia. O problema é que muitos dos senhores acabaram por não ir, e os que foram não tinham condições para pagar o valor estipulado (que era fixo). Foi criado um novo acordo então: os cruzados conquistariam Zara, uma cidade veneziana na Dalmácia que se revoltara em troca de um adiamento do pagamento. Entretanto chegaram notícias de Bizâncio. O Imperador Isaac II fora derrubado pelo seu irmão Alexius III e fora cegado. Ora o filho de Isac II, de nome Alexius IV conseguira fugir e apelara aos cruzados para o ajudarem: em troca de o colocarem no trono prometia-lhes dinheiro e os recursos do império para a conquista de Jerusalém. Ainda hoje os historiadores discutem se as coisas se passaram assim ou se foi uma justificação para o que se iria suceder. Os cruzados aceitaram imediatamente uma vez que isso parecia resolver os seus problemas. Partiram em 1202. O Papa considerou que se atacassem território cristão (nomeadamente Zara) ficariam excomungados. A cidade foi conquistada e depois de deixarem passar o Inverno atacaram Constantinopla. A cidade resistiu, mas o imperador Alexius III acabou por fugir com o tesouro da cidade. Com novos impostos a ser lançados para pagar as promessas feitas aos cruzados, rapidamente a população ficou à beira da revolta. Alexius V, um parente afastado fez um golpe matando Alexius IV e colocando novamente na prisão Isaac II que fora libertado pelos cruzados e governara com o filho. Os cruzados decidiram então conquistar em proveito próprio o império, nomear um imperador latino e dividir os territórios. Alexius V fugiu com algum tesouro e a cidade foi saqueada pelos latinos durante 3 dias. Estátuas, mosaicos, relíquias, riquezas acumuladas durante quase um milénio foram pilhadas ou destruídas durante os incêndios. A cidade sofreu um golpe tão terrível que nunca mais conseguiu se recompor, mesmo depois de voltar a ser grega em 1261. E assim terminou a IV cruzada, pois ninguém pensou mais em dirigir-se para Jerusalém: a maioria regressou com o que roubara, alguns ficaram com feudos no oriente.
O Papa Honório III pregaria uma nova cruzada que arrancaria em 1217 (a V). Decidiu-se que para se conquistar Jerusalém era necessário conquistar o Egipto primeiro, uma vez que este controlava esse território. Desembarcados em Acre, decidiram atacar Damietta, cidade que servia de acesso ao Cairo, a capital. Depois de conquistar uma pequena fortaleza de acesso aguardaram reforços e meteram-se a caminho. Depois de alguns combates, e quando tudo parecia perdido, uma série de crises na liderança egípcia, permitiam os cruzados ocupar o campo inimigo. O sultão acabou por oferecer o reino de Jerusalém e uma enorme quantia se os cristãos retirassem; o cardeal Pelágio que se tornara num dos chefes da expedição acabou por convencer os restantes a recusar. Começaram a cercar Damietta e depois de algumas batalhas sofreram uma derrota. O sultão renovou a proposta, mas foi novamente recusada. Depois de um longo cerco que durou de Fevereiro a novembro a cidade caiu. Os conflitos entre os cruzados agudizaram-se e perdeu-se tanto tempo que os egípcios recuperaram forças. Reforços até 1221 chegaram aos cristãos. Lançaram-se numa ofensiva, mas os muçulmanos foram retirando e levando os cruzados a uma armadilha; sem comida e cercados acabaram por ter de chegar a um acordo: retiravam do Egipto e tinham as vidas salvas.
A VI cruzada foi protagonizada pelo Imperador Frederico II. Partiu com um exército que foi diminuindo com as deserções, e uma semi-hostilidade das forças cristãs locais devido à sua excomunhão pelo Papa. Com negociações conseguiu que Jerusalém e outras cidades fossem entregues, embora fosse muito criticado por não ter combatido. Algum tempo depois de se ir embora, a cidade seria novamente perdida.
Finalmente a VII cruzada foi novamente obra de um só soberano, Luís IX de França (ou S. Luís como foi recordado), em 1249.
Desembarcou directamente no Egipto e depois de alguns combates, conquistaram Damietta. Novamente o sultão ofereceu Jerusalém e novamente foi recusado. Em Mansurá, depois de quase terem vencido, os cruzados são derrotados pela imprudência do irmão do rei, Roberto de Artois. Depois de uma retirada desastrosa, o exército puramente rendeu-se. Só a resistência da rainha francesa em Damietta, permitiu que se conseguisse negociar com os egípcios. Luís ficou mais algum tempo e conseguiu salvar o território de Outremer (indirectamente, as invasões mongóis deram o seu contributo), e décadas mais tarde preparou uma nova cruzada, mas morrendo na expedição.
Deste modo terminavam as cruzadas no oriente. Alguns grupos ainda partiram para, mas nunca mais se gerou entusiasmo nem foram preparadas grandes expedições. Rapidamente os poucos territórios que restavam seriam reconquistados pelos muçulmanos.

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