quinta-feira, agosto 07, 2003

Artur-III

Em finais do séc. XII Chretien de Troyes, um francês escreve contos sobre as aventuras do rei Artur, Lancelot, Guinivera, Gawain, Perseval. Sabe-se que Artur e os seus cavaleiros eram personagens populares na época e as estórias a partir da Bretanha de língua céltica e de Gales tinham-se espalhado por outros países. Mas Chretien apropriando-se de mitos conhecidos dá-lhe um cunho pessoal e sobretudo ficam guardados para a posterioridade. A partir daí, é um nunca mais terminar: o ciclo da vulgata francesa, o Parzival alemão, o Le mort d’Artur de sir Mallory só para citar os mais conhecidos. Alguns escrevem sobre todo o ciclo desde a morte de Jesus Cristo até à morte de Artur, criando uma narrativa de séculos, outros descrevem apenas episódios que acontecem a cavaleiros. São incorporados mitos exteriores sem ligação inicial (a estória de Tristão e Isolda, o mito do Graal, a távola redonda), novas personagens são criadas (Galahad). As obras são traduzidas para todas as línguas do ocidente cristão, reescritas, fundidas, influenciando muito a maneira de pensar (ou pelo menos o conceito do que deveria ser o ideal) dos cavaleiros. No séc. XVII dá-se uma certa diminuição do interesse, mas não muito, pois na ópera continua-se a pegar no tema. E o romantismo do séc. XIX com o seu interesse na idade média restaura o interesse (até escritores americanos como Mark Twaine o fazem). O séc. XX graças ao cinema e desenhos animados completa o trabalho, mantendo o interesse vivo e permitindo que um maior público tenha acesso; os grupos neo-pagãos também tentam apropriar-se da lenda devido ao seu lado mais místico (centrando-se em Morgana, Viaviane e Merlim por contraposição ao elemento cristão).
Os historiadores depois de terem feito uma critica feroz aos mitos arturianos chegando mesmo a negar a sua existência, limitam-se a uma prudente reserva
O que nos fica então para além de uma belas estórias? Não podemos afirmar com toda a certeza que Artur existiu, pois não existem relatos contemporâneos.
Os arqueólogos com as limitações que a ausência de registos implica, preferem falar dum período sub-romano para definir aquilo que é o período arturiano: séc. V e VI.
Artur era de facto um nome até relativamente vulgar na época. Sabe-se que um comandante romano de um destacamento sármata do séc. II na Bretanha tinha esse nome. Outras figuras antes e depois do “Artur” que nos interessa tinham esse nome. Uma divindade do norte também tinha um nome semelhante. Os nomes de origem romana ainda comuns no séc. V e VI nas crónicas vão progressivamente desaparecendo à medida que empurrados para gales, os celtas vão-se tornando galeses. Teria sido criado um herói a partir dos feitos de várias personagens que foram amalgamados pela memória colectiva? Ou de facto houve alguém que guerreou os saxões depois de Ambrosius e conseguiu depois adquirir um estatuto lendário? Ou nunca existiu ninguém assim e aos poucos surgiu uma lenda que foi crescendo. São várias as hipóteses mas nenhuma pode-se impor de momento.


Sem comentários: