Ao pregar e prometer a salvação a todos os que morressem em combate contra os pagãos (leia-se, muçulmanos) em 1095, o Papa Urbano II estava a criar um novo ciclo. É certo que a ideia não era totalmente nova: parece que já no séc. IX se declarara que os guerreiros mortos em combate contra os muçulmanos na Itália mereciam a salvação. Mas desta a salvação não era prometida numa situação excepcional. As várias versões que nos restam do seu apelo, mostram que Urbano relatou também os infortúnios dos cristãos do oriente, e sublinhou que se até então os cavaleiros do ocidente habitualmente combatiam entre si perturbando a paz, poderiam agora lutar contra os verdadeiros inimigos da fé, colocando-se ao serviço de uma boa causa. O apelo foi feito a todos sem distinção, pobres ou ricos.
E foi de facto o que sucedeu. Mas os ricos e pobres rapidamente formaram cruzadas separadas.
A dos pobres, sob o impulso de Pedro o eremita, mal equipada, mal alimentada, massacrou judeus pelo caminho, pilhou e destruiu; sendo mal recebidos e atacados, a maior parte morreu antes de chegar à Ásia; aí foram dizimados pelos turcos e só um reduzido número consegui juntar-se à cruzada dos cavaleiros.
A cruzada dos cavaleiros possuindo recursos, embora progredindo devagar, fez um acordo com o imperador de bizâncio de lhe devolver os territórios conquistados aos turcos. Liderada por grandes senhores, levava quer proprietários, quer filhos segundos da nobreza. Esse acordo seria desrespeitado, à medida que o mal-entendido entre as duas partes cresceria. Os bizantinos pretendiam um grupo de mercenários solidamente enquadrados de que se pagasse o soldo e obedecesse às ordens e não aquelas turbas indisciplinadas; os cruzados não estavam dispostos depois de tantos sacrifícios entregar o que obtinham. Antioquia, a 1ª cidade conquistada depois de um longo cerco e um saque terrível (1098), foi guardada por Bohemundo, o chefe dos normandos. Godofredo de Bulhão conquistou Jerusalém em 1099, ficando só com o título de protector; à sua morte Balduíno seu irmão proclamou-se rei. Muitos dos combatentes retiraram-se uma vez conquistada Jerusalém (incluindo os grandes senhores), mas um núcleo ficou (cálculos chegam a falar de algumas centenas de cavaleiros e um milhar de homens a pé). As cidades principais (como Antioquia, Edessa) tornarem-se capitais de principados e reinos (embora Jerusalém fosse de certo modo o centro político e religioso), com outras marcas a protege-los. O sistema feudal foi transplantado para oriente com algumas alterações: muitas vezes em vez de receber feudos, os cavaleiros eram pagos com direitos ou rendas (modalidade que existia também na Europa aliás). As cidades mercantis italianas vão-se tornar fundamentais para a sobrevivência desses estados: permitiram a chegada de reforços e interceptar os movimentos das esquadras muçulmanos, tornando o mediterraneo novamente um mar navegável pelos ocidentais.
Mas rapidamente os muçulmanos iriam reagir.
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