quarta-feira, março 09, 2005

Blitzkrieg IX

Convirá lembrar, a propósito dos bombardeamentos da Alemanha, o tremendo preço que os norte-americanos pagaram por uma opção que os britânicos já sabiam, há muito, que era suicida - os ataques diurnos.

"Bomber" Harris e os seus colaboradores perceberam muito cedo na guerra que mandar Lancasters e Wellingtons para a Alemanha, durante o dia, e sem cobertura de caças, era convidar a desgraça. O que os Messerschmit e os Fock Wulf não destruíam, logo a fortíssima DCA alemã se encarregava de eliminar. Como o Parca escreveu no post anterior, as perdas atingiam níveis assombrosos. Não eram invulgares os raides em que 70 ou 80% dos aviões não regressavam à base. Dos que o conseguiam fazer, muitos vinham com enormes danos e boa parte da tripulação, senão toda, ferida ou morta. Frequentemente as equipas de terra tinham de usar baldes para tirar o sangue acumulado dentro dos bombardeiros.

Os americanos tentaram contrabalançar a falta de cobertura aérea com o conceito da fortaleza voadora - quadrimotores gigantescos, de que o B-29 foi apenas o último exemplo, carregados de metralhadoras para auto-defesa. É claro que isto apenas resultou parcialmente. Ter 15 ou 20 metralhadoras de calibre .50 a cobrir todos os ângulos de ataque certamente dificultava a vida aos pilotos da Luftwaffe, mas em última análise o caça tinha sempre a vantagem derradeira - a velocidade.

Não podemos esquecer que os últimos modelos do Fock Wulf 190, o grande terror dos bombardeiros, atingiam já velocidades de ponta superiores a 700 Km/h. Isto transformava qualquer B-17 ou B-24 num alvo praticamente estático, tanto mais que os aviões voavam em formações cerradas que não permitiam grandes manobras de evasão. Mesmo no poder de fogo, a certa altura a balança começou a pender para o lado dos caças: quer os últimos Fock Wulf, quer os Messerschmit 262, já tinham 4 canhões de 20 mm, que faziam estragos verdadeiramente terríveis nos alvos.

Apesar de todas estas enormes desvantagens, os norte-americanos persistiram na doutrina do ataque diurno. A razão para isto era simples: precisão.

Enquanto "Bomber" Harris se rendia à doutrina do bombardeamento de saturação, em que o que se atingia não era assim tão importante quanto isso (e a sua reputação, depois da guerra, pagou bem caro por causa disso), os norte-americanos continuavam a teimar em destruir alvos militarmente relevantes, como fábricas e vias de comunicação. Para fazer isso, face à tecnologia da época, a única hipótese era atacar de dia.

Daí que o número de baixas entre os aviadores tenha sido desproporcionalmente grande face ao total das baixas dos Estados Unidos no teatro de operações europeu. A situação só começou a melhorar (e de que maneira!) com a introdução de uma das máquinas de guerra mais eficientes da 2ª Guerra Mundial - o P-51 Mustang.

Este foi o primeiro caça de longo alcance ao dispôr dos Aliados - e que caça!

Bem armado, capaz de ultrapassar os 700 Km/h, com uma manobrabilidade excepcional e um raio de acção que lhe permitia ir à Alemanha e voltar sem problemas de combustível, o P-51 foi a resposta a todas as preces dos tripulantes das fortalezas voadoras. Tivesse ele ainda chegado em 1943, e certamente a 8ª Força Aérea nunca teria sido massacrada como foi.

1 comentário:

Anónimo disse...

"Dos que o conseguiam fazer, muitos vinham com enormes danos e boa parte da tripulação, senão toda, ferida ou morta"?? Se a tripulação estava toda morta, como voltavam?