sexta-feira, janeiro 09, 2004
Heike Monogatari-II
A sociedade descrita no poema é profundamente complexa dadas as mutações que se estão a dar (a acção decorre na segunda metade do séc. XII embora sejam feitas referências a acontecimentos anteriores). O poema é em si reaccionário, pois não vê com bons olhos a tomada do poder pelos samurais, que vão perturbar o equilíbrio imemorial (vê-se assim que é um mundo muito diferente daquele que é descrito nos filmes de samurais, em que os guerreiros e os seus valores são o centro da sociedade). Os cortesãos monopolizavam os cargos e obtinham-nos pelas suas ligações familiares acrescido de redes de amizade (detentores de cargos, familiares imperiais, imperadores, imperadores retirados- pois era hábito ao fim de alguns anos estes abdicarem para se livrarem da rigidez da etiqueta, adquirindo maior liberdade de movimentos), ou pela sua mestria em artes importantes como o domínio da etiqueta, a caligrafia, a interpretação de um instrumento ou recitação de poesia. Uma vez obtido o cargo (digamos de ministro, ou governador) e recebendo-se os rendimentos, era nomeado um adjunto que exercia efectivamente o cargo e que tinha a trabalheira de se deslocar e governar. Como a hereditariedade era fundamental para se obter um cargo (embora as intrigas determinassem quem obtinha o quê), os “Busho” (guerreiros) provinciais estavam completamente sem hipótese de ascender mesmo que se deslocassem à capital, por não terem antepassados gloriosos, ficando sempre reduzidos a combater por ordens superiores. Esta é a sociedade considerada ideal pelo poema (várias vezes é lamentada a sorte de um cortesão ministro que é destituído e exilado por ter conspirado contra os Taira, apesar de ser um excelente tocador de flauta ou algo do género sendo substituído por um Taira que apenas se dedica ao cargo e a combater). Ora o ponto de vista destes era diferente do habitual: se alguém beneficiava do seu apoio, devia ser totalmente devotado e não devia andar a mudar de fidelidade; se o fizesse era um traidor. Lógica simples, pragmática, mas que caiu mal nos meios cortesãos, habituados a intrigas subtis. Os Taira rapidamente adquiriram os cargos-chave, apoiando-se na sua clientela militar, mas também se preocuparam em adquirir cargos de importância simbólica (ministro da direita, da esquerda, capitão de 1º, 2º, 3º grau, etc).
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