quarta-feira, janeiro 28, 2004

Algumas evoluções do exército romano-II

Claro que por vezes havia excepções e em situação de emergência recrutava-se quem estava disponível; como exemplo, Marco Aurélio recrutou duas legiões em Itália depois de um desastre porque precisava de tropas urgentemente; por vezes as unidades eram literalmente “arrebanhadas” num local da fronteira sem se preocupar com os elevados graus de exigência habituais. Marco Aurélio numa situação de aflição, chegou ao ponto de comprar escravos e gladiadores e pô-los a combater; essa tradição já vinha da república. Normalmente o prémio era a liberdade e a cidadania para os sobreviventes.
Quando chegamos ao reinado de Nero (assassinado em 69 DC), só metade dos legionários era originária de Itália; a outra metade era já constituída por
Colonos, pois pela amostra da onomástica que sobreviveu, vê-se que a maioria eram mesmo descendentes de oriundos de Itália. Como é que se vê isso? Bem, quando um auxiliar era desmobilizado e adquiria a cidadania, ele adoptava o nome do imperador da época para nome de família (ou do governador por vezes) e esse nome passava para os seus descendentes. Como muitos tinham o hábito de colocar nos seus túmulos uma estela com o seu nome, e breve descrição de vida (de onde vieram, anos de serviço, condecorações), os arqueólogos adquirem muita informação estatística sobre esses soldados. E consegue-se detectar há quanto tempo uma família é cidadã pelo nome imperial que tiver; se tiver um nome vulgar, é porque provavelmente são descendentes de uma família italiana comum que emigrou. Assim se consegue ver que no séc. I e II os soldados são a princípio maioritariamente italianos, depois descendentes a viver em colónias e finalmente soldados romanizados. Vemos também que o ocidente era aquele que fornecia mais soldados habitualmente (é normal, era mais pobre e considerado selvagem), vindo a princípio da Ibéria, Africa e Gália, muito pouco da Bretanha; depois a Ilíria e Dalmácia começam a fornecer soldados em abundância. No oriente, o Egipto sempre forneceu os seus soldados para defesa estritamente local (contra beduínos). As outras províncias forneciam soldados para as várias províncias. Infelizmente o número de elementos que sobreviveu é parcelar e tem de ser visto com muitas cautelas (até que ponto, alguns milhares de estelas sobreviventes são significativos? O caso das tropas é Africa e Egipto é bem conhecido devido à excelente conservação de registos devido ao clima). De qualquer modo, a arqueologia permitiu responder a questões que não passavam de debate teórico no séc. XIX por os textos clássicos não se preocuparem com esses assuntos.

Sem comentários: