quinta-feira, janeiro 08, 2004

Guerra Peninsular


Soube aqui que foram descobertos em Arapiles, Espanha, restos mortais de soldados que combateram num dos mais importantes confrontos da Guerra Peninsular - a batalha de Salamanca. Para quem não sabe, a designação "Guerra Peninsular" cobre a guerra sem quartel que opôs os exércitos de Napoleão Bonaparte às tropas anglo-portuguesas comandadas por Arthur Wellesley, mais conhecido por duque de Wellington. As nossas "Invasões Francesas" foram apenas uma parte (muito importante, é certo) de um conflito mais vasto que envolveu toda a península. A Guerra Peninsular, por seu lado, é também apenas uma parte (mais uma vez, muito importante) das Guerras Napoleónicas.

Na Grã-Bretanha há um verdadeiro culto do estudo da participação britânica neste conflito. Todos os anos, milhares de ingleses visitam Waterloo, na Bélgica, o local onde se deu a batalha final que ditou a derrota de Napoleão. A Guerra Peninsular e as Invasões Francesas de Portugal são também muito estudadas, porque é nos campos de batalha portugueses que Wellington começa a mostrar o seu génio militar. Muitos ingleses vêm a Portugal propositadamente para conhecer as Linhas de Torres Vedras, os campos da Roliça e Vimeiro e o Buçaco.

Em Arapiles talvez ainda se vá a tempo de salvar aquela parte do campo de batalha. Aqui em Portugal, infelizmente, já não há muito para destruir, porque quase tudo já foi destruído há muito tempo. Isto, aliás, só reflecte o interesse que esta parte da nossa história tem despertado - quase nenhum. O Exército, com os seus escassos meios, ainda tem feito alguma coisa para preservar aquilo que tem a ser cargo: edifícios e alguns campos de batalha que ainda estão dentro de áreas militares. Os historiadores, cegos pelos preconceitos da cartilha da Nova História, que considerava a História Militar como um género menor, devotaram um desprezo quase total a este tema, à documentação e, pior, ao património.

Nos últimos anos a situação começou a melhorar, mas o número de trabalhos sobre as Invasões é ainda muito pequeno. Espero que a publicação da «Nova História Militar» do Círculo de Leitores, que agora se iniciou, dê um grande contributo para trazer novos interessados para este capítulo tão importante da História de Portugal. Em 2007 vai-se celebrar o segundo centenário da primeira invasão francesa (comandada pelo general Junot), e sei que já há planos para assinalar o acontecimento. O Instituto de Defesa Nacional e a Comissão Portuguesa de História Militar têm gente a trabalhar nesse projecto. Gostava, pelo menos, de ver concretizados os planos de recuperação e aproveitamento das Linhas de Torres Vedras, um dos maiores conjuntos mundiais de fortificações. Gostava também de ver publicados alguns trabalhos de autores portugueses; à falta disso, ao menos que se editem algumas das excelentes obras britânicas que já existem - a começar pela monumental «History of the Peninsular War" de Sir Charles Oman. Já não era pouco...

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