quarta-feira, novembro 02, 2005
Béria- VII
Para evitar um conflito aberto, os “notáveis” do regime evitaram hostilizar-se ostensivamente. Mas Béria possuía uma imensa vantagem: controlava os serviços de espionagem e a polícia política, para além de ter numerosos aliados. Béria, foi tentando assim ganhar terreno aos pouco.
Um das primeiras medidas que aplicou foi a libertação de prisioneiros que não fossem considerados um perigo para o estado (incluíam-se mulheres grávidas, mulheres com crianças, menores de 18 anos), ou seja mais de um milhão de pessoas. Também ordenou que fossem suavizadas as condições, acabando os maus-tratos arbitrários e as prisões indiscriminadas. Retirou uma série de atribuições do partido no estado, para reduzir a força do partido (controlado por Krustchev, enquanto ele tinha maior poder no aparelho governamental).
Suspendeu a construção de grande obras públicas que não tivessem vantagens óbvias dado os gastos, assim como o estabelecimento das “cidades camponesas” (desmontavam-se as pequenas aldeias para se juntar tudo em autenticas cidades agrícolas), uma vez que estavam a afectar a produção e provocavam a resistência das populações. Ordenou a substituição dos líderes das repúblicas soviéticas que eram russos ou pró-russos por outros nativos, assim como a utilização das línguas locais como línguas oficias da administração. Ordenou a reabilitação de vítimas de Estaline e denunciou a conjura dos médicos como um embuste (e mostrou-se desrespeitoso com a sua memória em discursos oficiais). Livrou-se de alguns adversários que tinham substituído apoiantes seus nos últimos tempos de Estaline (mandando-os prender ou fusilar- os velhos hábitos demoram tempo a morrer). Do ponto de vista externo, pediu aos satélites da URSS para se “moderarem” na construção do socialismo, evitando a expropriação de camponeses e pequenos lojistas o que desorganizaria a economia. Tentou-se mesmo uma normalização das relações com os E.U.A. e com o Vaticano (libertando-se na ucrânia os unionatas, católicos de rito ortodoxo, o que era um ataque directo a Krustchev que os tentara esmagar em prol dos ortodoxos). Mas na Alemanha de leste o apoio aos moderados, provocou uma sublevação da população contra o PC, o que levou ao envio de tanques para esmagar a sublevação. Ora, este caso seria a gota de água que levaria à queda de Béria (e também o seu desprezo por Krustchev que considerava um camponês sem subtileza e fácil de vencer). Tendo tomado numerosas decisões importantes apenas informando os seus colegas, gerara numerosos descontentamentos. E Krustchev aproveitou-se disso. Numa reunião de emergência com alguns membros do Presidium, convenceu-os que Béria estava a tentar apoderar-se do poder (o que não deveria ser grande surpresa) e que as suas medidas estavam a destruir a URSS; conseguiu convence-los a prende-lo (o que era ilegal, dado que o presidium não tinha poderes para mandar prender alguém, ainda menos quando faltava a maioria dos membros). Entre essa reunião e a prisão de Béria correram menos de 12 horas (foi só o tempo de conseguir o apoio de alguns militares como Jukov que detestavam Béria pelo seu papel nas purgas e constantes interferências no exército, o que se pode considerar um golpe simples, rápido e com uma boa dose de sorte). Agora o que sucedeu em seguida está aberto a discussões: segundo uma versão, logo de madrugada, um grupo de soldados com Krutschev teria ido à sua casa e assassinando, resolvido o problema. A versão oficial, é de que tendo Béria ido a uma reunião do presidium, teria sido aí preso por traição, espionagem e o habitual cliché estalinista. Efectuou-se depois um julgamento (sem defesa, unicamente com testemunhas de acusação ou sequer ouvir-se o preso), sendo então sentenciado à morte, com meia dúzia de colaboradores. Mas os tempos eram definitivamente outros: a sua família foi presa por pouco tempo (em vez de executada), e depois libertados sendo-lhes permitido que reconstruíssem as suas vidas.
No interior e exterior, toda a gente pensou que o caso se limitara a uma luta de poder, embora, alguns pensassem que o regime estava enfraquecido politicamente. Nos vários países aliados, as linhas duras iriam sair reforçadas, aproveitando-se para efectuar purgas. O comum soviético, não se preocupou muito, não tendo associado as reformas à figura repressora de Béria (as decisões saíam sempre em nome do colectivo, mesmo quando era ele que as tomava), e as posteriores reformas de Krustchev iriam reforçar essa crença.
E aos conspiradores? O núcleo duro (Molotov, Malenkov, Jukov e mais uns quantos), afastou-se rapidamente de Krustchev e tentou afasta-lo, mas com a ajuda de um jovem talentoso (Brejnev, como o mundo é irónico), prendeu-os. Foram expulsos do partido, perderam os seus privilégios mas não foram fuzilados. Tiveram de ir trabalhar como vulgares cidadãos, e morreram idosos e esquecidos.
Krustchev acabou por aplicar numerosas medidas preconizadas por Béria ou ficou com o crédito delas. Mas teve de fazer numerosas concessões: ao novo KGV, que acabara por ficar neutral com a prisão do seu chefe, com o exército e o partido que o apoiara; a sua margem de manobra para reformas ficou seriamente limitada, acabando por ser substituído quando as coisas começaram a correr mal.
O livro concluí perguntando-se o que teria feito Béria na via da destalinização, e se era possível com mais reformas salvar o sistema: controlando o aparelho policial e de informação, tendo numerosas informações sobre o que estava mal, e profundamente pragmático (sem provavelmente pudores ideológicos), faria o que fosse necessário para salvar o sistema. O livro tendo sido escrito após a queda do muro, considera que com todos os defeitos inerentes ao regime, ele estaria condenado de qualquer modo; mas a sobrevivência de diversos casos (nomeadamente China), prova que não teria de ser assim.
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1 comentário:
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