quinta-feira, novembro 24, 2005
As revoltas francesas-III
O assunto é tão complexo e tem tantas peripécias, que vou ter de fazer um resumo muito simplificado do que sucedeu.
A França estava na segunda metade do séc. XVIII com uma crise financeira; várias tentativas foram levadas a cabo para as resolver. A nobreza e clero que eram isentas de impostos, defendiam-se que só a reunião dos estado gerais daria a legalidade ao rei de os obrigar a ser contribuintes. Foram marcados os estados (1789), mas dado que a votação era feita por grupo, os privilegiados tinham dois terços dos votos o que inviabilizava qualquer mudança; ora o grupo do 3º estado declarou-se representante de 98% da população e assembleia nacional. O rei pressionado pretendeu aí fazer marcha atrás mas a população de Paris reagiu e tomou a Bastilha (14 de Julho), considerada o símbolo do poder absoluto, uma vez que funcionara como prisão dos adversários do rei (nessa altura já não era assim). O rei teve de ceder, reconciliando-se aparentemente com a assembleia nacional; nos campos fez-se o saque de muitos castelos levando à fuga da aristocracia para o estrangeiro contando a sua versão do que sucedera. Em Agosto, são abolidos os privilégios e títulos de nobreza, levando à igualdade política; no ano seguinte seria a vez do clero perder os seus privilégios (pensões do governo, propriedades, taxas especiais, etc), antes de começar a ser efectivamente perseguida. No auge do terror chegou-se mesmo a fundar um culto de uma suprema divindade símbolo da razão; ao mesmo tempo que os padres deveriam ser tornados simples funcionários públicos recusando-se a aceitar Roma; os que se recusassem seriam destituídos. Tudo isso acabou numa concordata feita por Napoleão, que normalizaria as relações com Roma.
Voltando à situação política, a assembleia era constituída por todo o espectro imaginável, desde defensores do absolutismo, até defensores do poder absoluto do povo (Robespierre); a maioria era ainda moderada (Mirabeau). Criaram-se grupos como os girondinos (defensores da redução do rei a figura decorativa ou mesmo a república, representando a burguesia, nesta altura eram radicais), os jacobinos (muito mais extremistas) e uma profusão de grupos menores.
Marcaram-se eleições e foi-se elaborando uma constituição. A nova constituição espojava o rei dos seus poderes absolutos e acabava de liquidar o que restava do antigo regime (abolindo todos os privilégios pessoas ou colectividades, taxas internas, considerando todos os cidadãos iguais, etc). A morte de Mirabeau que sempre pusera um freio aos grupos radicais, iria complicar a situação, pois entretanto, o rei que não aceitara de boa mente o papel que tivera, apoiou as tentativas de sedição dos grupos conservadores e tentou mesmo fugir (1791); capturado, viu a assembleia (que não lhe era completamente hostil) tentar entrar em entendimento com ele. A assembleia legislativa que lhe sucedeu, teve de enfrentar tumultos internos (à medida que os grupos radicais ganhavam poder) e a guerra com as monarquias absolutas. A assembleia foi-se despojando dos seus membros até que se formou a convenção. Esta para fazer face às várias oposições instituiu o que se chamou o terror: os adversários (e mais tarde simples suspeitos) deveriam julgados (no final já nem isso, eram apenas condenados) e executados. Estavam incluídos no princípio os aristocratas e padres refractários. A Convenção acabaria por mandar guilhotinar Luís XVI e a Maria Antonieta (1793). Os jacobinos de Robespierre (que criou o comité de salvação nacional, um órgão todo poderoso para condenar potenciais traidores) acabariam por eliminar as facções moderadas dentro da convenção por traição assim como os seus adversários pessoais (neste momento, até os girondinos eram considerados moderados e liquidados por oposição), quer os extremistas revolucionários por excesso de zelo e mesmo jacobinos “moderados”. Até um revolucionário como Danton que fora um dos criadores do terror, acabou guilhotinado por mostrar falta de zelo revolucionários. A revolução devorava os seus filhos. Formou-se uma reacção que acabou por levar à destituição de Robespierre e partidários e sua execução (1794). Uma nova constituição e um órgão que controlaria o poder (o directório) levariam a uma acalmia da situação (sem negar qualquer das conquistas sociais da revolução), até que o descontentamento devido a problemas económicos e políticos levariam ao advento de Napoleão.
Do ponto de vista ideológico, a maioria dos revolucionários se proclamava adeptos das doutrinas de figuras como Rousseau e Voltaire, a sua forma de as aplicar iria varia de acordo com as circunstâncias e com o tempo; o modelo inglês nunca foi bem visto por uma certa anglofobia por um lado e por outro pelo orgulho francês de querer criar algo de diferente, experimentado soluções novas (mesmo que pouco práticas).
As imensas dificuldades quer internas (revolta de departamentos, oposição sistemática de certos grupos), quer externas (as monarquias absolutas que decidiram colocar um travão à revolução), aliadas aos problemas económicos (que nunca mais se resolviam), levaram à radicalização e uma constante fuga em frente.
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