...É o nosso grande mal. É extraordinário como a homenagem de ontem do Presidente da República aos prisioneiros do Tarrafal passou completamente despercebida. Em qualquer país que vivesse um bocadinho melhor consigo próprio este acontecimento teria sido transformado, no mínimo, num dia de reflexão nacional. A cerimónia teria sido transmitida nas televisões em directo, teria havido solenidade e emoção. Não é todos os dias que se lembra um dos episódios mais negros da história contemporânea portuguesa, e seria bom que as gerações mais novas soubessem que Portugal também teve o seu campo de concentração.
O que vimos foi a tristeza envergonhada do costume: uns discursos, umas coroas de flores, e acabou. Espero que isto, para os sobreviventes que estiveram presentes, tenha parecido melhor do que me pareceu a mim. Com o passar dos anos (e já lá vão quase 70 desde a abertura do campo), não é previsível que haja muitas mais oportunidades para homenagear os antigos prisioneiros.
Nestas alturas, a comunicação social está sempre à mão para servir de bode expiatório do nosso desconforto com a nossa própria História. Mas não tenhamos ilusões: se estes acontecimentos são quase ignorados, não é porque os jornalistas não lhes dão importância; nós, enquanto povo, é que os usamos apenas como descarga da nossa má consciência; não os assumimos, queremos que passem depressa; frequentemente, tornam-se em exercícios fúteis e indignos.
Como outros já o disseram, Portugal tem História a mais, e o pior é que vivemos mal com ela. Continuamos a misturar a política e a ideologia com tudo o resto. Preferimos continuar divididos onde devíamos estar unidos. Não gostamos de nós próprios, e quando não gostamos de nós próprios a História e as pessoas que a fizeram são maltratadas.
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