sexta-feira, outubro 07, 2005

Béria-III




Na década de 20. Béria foi com habilidade livrando-se sucessivamente dos seus superiores e rivais na Geórgia, escrevendo relatórios e acumulando provas contra eles por incompetência ou falta de firmeza revolucionária, acabando por se tornar num líder local, e colocando os seus amigos em todos os cargos de confiança. Aproveitava também as visitas de Estaline à Geórgia para se tornar seu íntimo e da sua família. Quando se decidiu acabar com os Kulaks (proprietários fundiários), como estes eram praticamente inexistentes mas tinham de ser cumpridas quotas de prisioneiros, qualquer pessoa com um talhão de terra era incluída nessa categoria; Béria aproveitou-se da renitência dos seus superiores em prender e deportar os camponeses para os denunciar.
Ora a leitura do capítulo sobre as purgas dos anos 30 é surreal para se compreender o funcionamento do sistema soviético. Estaline substituiu o chefe do NKVD (futura KJB) e começaram-se a descobrir numerosos inimigos internos (dentro do partido comunista) a soldo de potências estrangeiras sendo boa parte deles, velhos membros do partido comunista que sempre tinham sido fiéis. Por alto, deu-se uma “renovação” em cerca de 10% do partido e a esmagadora maioria dos oficiais a partir de coronel. A explicação actualmente encontrada, é de que Estaline teria procurado eliminar todas as figuras que tinham alguma independência e que poderiam opor-se ao seu domínio absoluto (para além de uma paranóia inerente). Para tal, contou com a colaboração de pessoal mais jovem, e de segundo plano que colaborou activamente na eliminação dos seus superiores ascendendo aos cargos; numa segunda vaga, também foram eliminados, para acentuar o clima de terror, e não ficarem com a ideia de que o chefe dependia deles. Parece-me que o assunto é um pouco mais complexo (nomeadamente a desorganização na economia que a eliminação dos quadros superiores provocou, deve ter levado à necessidade de arranjar bodes expiatórios).
E Béria no meio de isto tudo? Ajudou a denunciar traidores (normalmente adversários seus ou pessoal com quem tinha velhas contas a ajustar), mas as purgas afectaram-no pois quase foi executado e viu vários dos seus apoiantes a caírem (não tendo a paranóia de Estaline, criara uma clientela na Geórgia que lhe era fiel e a quem cumulava privilégios).
Ordenou que fosse escrita um a biografia de Estaline que exaltava o seu papel na sua juventude (teria organizado ainda no seminário manifestações, sabotagens e jornais), absolutamente inventada; ao aperceber-se que outras biografias e histórias da URSS anteriores não “provavam” esses factos, mandou prender os historiadores traidores. Aliás, mandou mais tarde fuzilar os colaboradores que tinham escrito esse livro de história, dado que poderiam por em causa a autoria de Béria. Boa parte dos intelectuais e artistas Georgianos acabaria por ser presa também.
Quando depois de uma série de purgas, foi necessário substituir o chefe da NKVD (que foi eliminado depois de conduzir as purgas, deixando de ser necessário), Béria foi chamado a Moscovo e substituí-o. Ora parece que de modo geral, a melhoria foi para melhor (de acordo com a lógica soviética). Béria mandou executar toda a cúpula da NKVD (se o chefe fora um traidor, os subordinados logicamente também o eram), como era natural, mas abrandou o terror (que já não era tão necessário). Os presos deixavam de ser espancados muitas vezes até à morte e depois convencidos a assinar a confissão e (como fora a regra), e passavam a ser instados a assinar, dado que seriam condenados de qualquer modo (a menos que Béria tivesse assuntos pessoais a resolver, o que era em casos pontuais e aí ele poderia ser verdadeiramente selvagem). Começou a haver alguma preocupação em alimentar os presos de forma conveniente (mesmo assim, morriam todos os anos milhares de presos pelas más condições) e em aproveitá-los de forma eficaz para trabalhos úteis ao país. Construindo-se barragens, pontes, estradas e explorando fontes de riqueza, (petróleo, carvão), Béria pôde mostrar brilhantes resultados económicos a Estaline e construir um pequeno império particular. Os subordinados de Béria gostavam dele, dado que ele lhes garantia a segurança e condições de vida.
A menina ao colo de Béria, é a filha da figura com o cachimbo; a foto foi tirada ainda nos anos 30, antes da ascenção de Béria ao NKVD.

Sem comentários: