No séc. XII deu-se um conflito no Japão que teria enormes repercussões na sua história: dois clãs de origem imperial degladiaram-se até ao extermínio total de um deles.
O Japão fôra fortemente influenciado pela cultura da China. No séc. VII tinham sido enviadas missões e embaixadas para aquele país, de onde se copiaram numerosos elementos: a arte, religião, técnicas, instituições. Procedeu-se a uma centralização do território tendo por base a figura do Imperador, auxiliado pela poderosa família Fujiwara (monopolizando os cargos de regente, chanceler e tudo o que tinha importância). A nobreza foi atraída para a corte, ocupando-se com cargos administrativos e funções honoríficas.
A partir do séc. IX, algumas famílias oriundas da família imperial ficaram encarregues de funções de guerra e pacificação contra a etnia Ainu, no norte (ou nas guerras entre facções); os guerreiros foram lentamente adquirindo um conjunto de valores e uma consciência de grupo à parte, que os levaria a desejar a tomada do poder. No séc. XII, as famílias tradicionais palacianas (nomeadamente os Fujiwara) tinham perdido a maior parte do seu poder fora da capital imperial, em favor dos clãs dedicados à guerra que controlavam a nova casta.
Os dois clãs mais importantes, os Taira e Minamoto (aqueles mais refinados devido à sua proximidade com o Imperador, estes mais rústicos) acabaram, depois várias peripécias e numerosos combates que duraram décadas, por resolver definitivamente a sua contenda numa batalha naval chamada Dan no Ura: os Taira foram completamente exterminados. Os Minamoto gozaram por pouco tempo a sua vitória, sendo substituídos poucas décadas depois pelos Hojo, e assim por diante. Mas mais importante do que estabelecer o vencedor, foram as alterações que essa vitória implicou. O grande vencedor, Minamoto Yoritomo, fora proclamado shogun, governador militar do país. Os cargos civis eram assim desprovidos de valor - o que importava era o controlo de homens, que dava acesso a territórios e à possibilidade de lhes pagar. Os Taira tinham tentado manter a ficção de que nada se modificara durante o período do seu governo, mas os Minamoto decidiram legalizar uma situação que já existia de facto. O Imperador ficava reduzido a mera figura decorativa religiosa e simbólica, assim como as velhas famílias palacianas. Mas, no entanto, nenhum dos vencedores alguma vez ousou proclamar-se imperador. E se a família dominante começava a perder força, imediatamente os outros clãs aproveitavam-se do facto para a destituir.
Do ponto de vista cultural deu-se um inegável empobrecimento: o grupo mais dinâmico era o dos samurais, cuja especialidade era a guerra, e só no séc. XVII este se dedicaria também às artes. Mesmo os monges iriam, por força das necessidades, dedicar-se às armas, criando os temíveis “sohei” - soldados levemente protegidos, mas especialistas em artes marciais. A composição de numerosas baladas e o épico “Heike Monogatari” (que relata as guerras entre Taira e Minamoto) não compensa a relativa seca da seiva artística.
Outro elemento que podemos constatar é a longevidade das famílias e a relativa estabilidade, que durou séculos, até se dar o corte no séc. XII.
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