quarta-feira, outubro 29, 2003

Arianismo-I

Hoje decidi meter-me num belo vespeiro e falar de teologia, mais concretamente do arianismo.
A fé ariana que tanta importância teve nas relações políticas entre bárbaros e romanos teve a sua origem em Arius um padre de Alexandria da primeira metade do séc. IV. Ao pretender valorizar a posição do Pai no seio da Santíssima Trindade vinha de algum modo desvalorizar a posição do filho. O Pai seria o único verdadeiramente não criado, existente desde sempre, eterno, enquanto o Filho (logos) embora não fosse criado do ponto de vista cronológico e estivesse acima de todas as outras criaturas pela sua condição divina, não partilhava de todos os privilégios do Pai. Não pretendia negar a Trindade, mas apenas valorizar o pai (e não como alguns diriam mais tarde, negar a divindade de Cristo). Foi imediatamente contestado e depois de algumas peripécias, fez-se um concílio em Niceia em 325 do qual saiu a fórmula ainda hoje usada: “Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado e não criado, consubstancial ao Pai”. Homoousios.
Os arianos saíam completamente derrotados, pois esta posição dava um total equilíbrio entre os vários elementos da Trindade. Esta expressão iria provocar polémica, pois alguns consideravam que se estava a valorizar em demasia o elemento Divino do Filho, em detrimento do elemento humano do Logos. O ocidente latino, pouco afeito às polémicas teológicas ficou satisfeito com essa conclusão, mas o oriente grego ficaria em polvorosa entre arianos, niceianos e outras posições ainda mais subtis. O Imperador (Constantino) iria vacilar entre várias posições. O seu filho Constâncio II iria ficar pela fidelidade ariana. O comportamento dos que conseguiam a colaboração Imperial (independentemente da posição) seguiria sempre o mesmo padrão: calúnia sobre o comportamento moral dos adversários e seu exílio. Os arianos divididos também entre si, iriam fazer concílios (Antioquia em 345), existindo posições que eram praticamente não se distinguiam das niceianas a não ser pelo uso do termo Homoousios.
Passados uns anos surgiria um diácono de Antioquia elaborou uma nova doutrina saída do arianismo, mas que levava este a um maior rompimento com as doutrinas Niceianas: o filho não era em nada semelhante ao Pai. Essa posição seria mitigada anos mais tarde com uma posição mais moderada, considerando que o filho era semelhante ao Pai (homoios). Ora alguns arianos chegariam a considerar que o filho era em tudo igual ao pai, mesmo em substância. Sem o pretenderem, acabavam por partilhar a posição dos defensores do Homoousios. Mas as suas opiniões iniciais tornavam-nos suspeitos, o que dificultava um acordo.

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