Bem, gostaria em primeiro lugar dar as boas vindas ao Jorge; embora sempre tivesse feito parte do grupo do Tempore, é a primeira vez que escreve. Espero que o continue a fazer.
O meu post de hoje vai fugir bastante ao normal, dado que vai ser sobre recordações pessoais; a origem da reflexão foi a morte da irmã Lúcia a última vidente de Fátima (mesmo que não vá falar dela, acho que acaba por estar relacionado).
Conheci duas “videntes” (utilizo esse nome à falta de melhor). Uma delas era minha vizinha. Quando era pequeno, não percebia o que se passava, só que imensos carros lá paravam. Vi a casa crescer muito no sentido literal do termo, aumentando anexos e andares. Brincava muito com os seus filhos (só com os 3 mais velhos, os 2 mais novos eram muito crianças). De qualquer modo não simpatizava muito com a senhora, achando-a muito arrogante (os filhos e o marido eram completamente diferentes dela). Ela bem tentou que os filhos estudassem mas eles não quiseram (de facto ter dinheiro não basta, teria sido necessária toda uma educação em casa e o estímulo da leitura). Apesar irem para lá pessoas relevantes a nível social e com estudos (pelo menos para nós), como as vizinhas diziam, “ela dava-lhes a volta”.
A 2ª “vidente” que conheci era muito diferente. Era a avó de uma amiga minha, uma senhora portanto idosa. Era bastante humilde, analfabeta, e simpática (o que se espera de uma avó). Mas tinha uma excelente capacidade de análise, e quando estávamos a brincar, ela falava connosco, perguntava-nos coisas, completava o que dizíamos. Não aceitava dinheiro dos seus clientes (quanto muito poderia receber prendas de coisas inúteis), por isso continuou a ser uma pessoa pobre. Ela achava que tinha um dom que não era dela e portanto nada devia cobrar. Acho que a minha vizinha teria sido uma boa advogada, e a avó da minha amiga uma excelente psicóloga, dados os seus talentos naturais. Mas como tiveram a tragédia de nascer em Portugal, ficaram condenadas a ser mulheres incultas usando as suas capacidades como bruxas de aldeia, desprezadas pela vizinhança, pelas igrejas locais e por todas as pessoas mais instruidas que as viam como focos de superstição.
2 comentários:
Um Ensaio de Ego-História bastante curioso
Gostei! E fez-me recordar também a minha infância... abraço1
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