Esta mulher como numerosas outras com influência política foi acusada de todos os males possíveis e imaginários da França do final do reinado de Luís XIV. Nascida em 1635 e oriunda de uma família huguenote (protestante) arruinada, foi pressionada em jovem a converter-se ao catolicismo, de que seria mais tarde uma fervorosa adepta. Desprovida de recursos financeiros, acabou por receber o inesperado apoio do escritor Scarron que a propôs em casamento-1651 (ele era inválido e assim obteve uma reconhecida enfermeira); neste período foi adquirindo contactos com a alta sociedade e meios literários. Enviuvando 9 anos depois, ficou novamente em situação difícil, mas a Favorita do rei Luís XIV (madame de Montespan), entregou-lhe a educação dos seus bastardos (dado que estava demasiada ocupada com a vida da corte). O seu carácter demasiado sisudo levou a que o rei a desprezasse, mas lentamente ao ver a maneira afectuosa como tratava os seus filhos começou a apreciar a sua companhia (por oposição a Montespan que ignorava completamente os seus filhos), e recompensou-a tornando-a marquesa. Madame de Maintenon esforçou-se por tornar a corte mais virtuosa e o rei acabou por correr com Montespan (um processo de feitiçaria e envenenamento em que esta esteve envolvida também devem ter ajudado a decidir o rei, apesar de ele ter abafado o caso; aliás quem ficou encarregado de a expulsar do palácio de Versailhes foi um dos seus filhos que a odiava e adorava aquela que considerava a sua verdadeira mãe, Maintenon). Bem, por conselho de Maintenon, o rei aproximou-se da rainha Maria Teresa (quem já viu uma das versões do filme com Richard Chamberlain “O homem da máscara de ferro” lembra-se da mulher idosa e careca) e voltou a ser afectuoso com ela; a família real e sobretudo Maria Teresa ficaram extremamente gratas a Maintenon. Com a viuvez de Luís XIV em 1683, o rei provavelmente acabou por casar com ela em segredo (digo provavelmente, porque embora os historiadores o aceitem de forma pacífica, não ficaram registos escritos da cerimónia, mas apenas testemunhos de outras pessoas). A partir daí, é um pouco delicado avaliar a sua influência. Vários autores atribuem-lhe a responsabilidade da revogação do édito de Nantes (1685) ou pelo menos o seu apoio a essa medida (que implicou o fim da tolerância de que os protestantes tinham tido até então, optando muitos pelo exílio - boa parte deles eram artífices o que foi um golpe na economia - ou a luta aberta, ao mesmo tempo que aumentou a hostilidade dos países vizinhos). Também lhe é atribuída responsabilidade pela intervenção francesa na guerra da sucessão de Espanha. Conseguiu também que fosse afastada da regência o boémio duque de Orleães em caso de morte do rei (e na prevista menoridade do futuro Luís XV), mas este conseguiu que depois do falecimento de Luís XIV (1715) o parlamento anulasse essa decisão (que teria graves consequências nos reinados seguintes).
De concreto sabemos que criou um colégio para jovens aristocratas empobrecidas (Saint Cyr) de vida austera, ajudou raparigas pobres, procurou remodelar conventos que não vivessem de acordo com o modelo de vida proposto. Fez um esforço para moralizar a corte francesa de Versailhes (essa corte que fora das mais alegres e dissolutas acabaria por segundo as palavras de um observador "tornar-se tão religiosa que até um calvinista se aborreceria"). Boa parte da nobreza aí residente acabaria por se afastar para além dos período obrigatórios de presença. Faleceu no colégio que criara em 1719.
3 comentários:
Ora bolas, uma barregã chata!
Podias era desenvolver o impacto do duque de Orleães nos reinados de Luís XV e XVI...
O problema é que o duque morreu pouco depois de Maintenon (a vida agitada que levou mandou-o para o túmulo cedo). Mas posso depois postar umas coisas sobre essa figura.
O filme de Richard Chamberlain não é correcto. A rainha não era careca nem mais velha do que o Rei. Aliás eram praticamente da mesma idade com a diferença de poucos dias. Em relação a Madame de Maintenon, Saint-Cyr era um Inferno para as miudas...
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