quinta-feira, janeiro 20, 2005

Alexandre- o filme

Bem, vi o Alexandre; vou limitar-me à componente histórica de algumas partes do filme.
Queria no entanto dizer o seguinte: todas as fontes sobre Alexandre são muito posteriores a ele. Todos os textos feitos por si ou os seus amigos (como uma história do Ptolomeu) perderam-se. A mais antiga biografia que temos é de Plutarco, uns bons 300 anos posterior e de Arriano. Estes usaram fontes contemporâneas de Alexandre que tiveram acesso e parecem pelo sentido crítico que demonstraram ser dignos de crédito (por exemplo, Plutarco recusa a história de Alexandre ter encontrado amazonas por nenhum seu contemporâneo o referir). Alexandre torna-se assim um pouco lendário; o filme pelo que eu li tem por base um romance actual, mas que parece ter tido cuidados em não inventar muito.
A batalha de Gaugamelos mostra o correcto procedimento de um exército helenístico. No centro temos a falange de Alexandre, que tinha uma lança (sarissa) que não era tão comprida como seria um par de séculos posteriores o que permitia o transporte de um pequeno escudo (quando se deu a batalha de Cinescefalos contra os romanos já não o usavam), mas que era obviamente inútil contra os arqueiros persas (daí a necessidade da cavalaria serolver o assunto primeiro). Avançavam lentamente e só baixavam a sarissa um pouco antes de entrar em contacto com o inimigo (e aí empalavam tudo). Também estão presentes psiloi (os homens com fundas) que atiravam pedras para quebrar o ímpeto do inimigo (arma terrivelmente eficaz e barata embora exija muito treino). Finalmente nos flancos, temos os companheiros, que são a cavalaria pesada de Alexandre (não vi lá os Tessálios) acompanhados nos pelos Peltasts, que são uma infantaria armada de escudo e lanças curtas ou espada; serviam para proteger os flancos da falange (o seu ponto fraco) e de apoio à cavalaria para segurar o terreno (andar tantos anos a jogar computador sempre serviu de algo: conheço todos estes nomes gregos!). Do lado Persa, primeiro envia-se os carros falcados (mesmo que o adversário se desvie existem sempre alguns desgraçados que acabam triturados e as linhas perdem parte da coesão), arqueiros, mercenários gregos e muita cavalaria.
Os principais episódios da vida de Alexandre estão lá, tomando-se determinadas posições. Pensa-se que Alexandre também tenha participado na conspiração com Olímpia que matou Filipe. É referido que Alexandre era louro, mas a peruca que lhe meteram era excessiva. O incêndio de Persepólis é apenas referido por Ptolomeu, não sendo mostrado (os produtores do filme devem ter achado suficiente reproduzir a Babilónia). Não compreendi porque colocaram uma negra a fazer de Roxana dado que ela era indo-europeia: uma jovem como a que foi capa de revista da national geographic há uns anos atrás, que era afegã estaria mais próxima da realidade. Não tiveram medo de colocar a sua grande paixão por Hefestion (quando este morreu Alexandre mandou massacrar a população masculina de uma povoação que lhe resistia como sacrifício). Foi pena não terem colocado a mãe de Dário III: dado o cavalheiresco tratamento de Alexandre e respeito pela morte do filho, ela ficou a tratar dos seus assuntos domésticos e quando Alexandre morreu, limitou-se a deixar-se morrer à fome. São mostradas as festas de Alexandre e as fantásticas bebedeiras (podiam ter mostrado que num concurso morreram 40 convidados e o vencedor bebeu o equivalente a 13 litros de vinho - também morreu). Os episódios das conspirações dos pajens e dos velhos soldados também estão correctos (mas pensa-se que o velho Parménion nunca soube de nada, que foi o filho que tudo engendrou sozinho). A morte de Cleitos em Plutarco surge como uma zaragata motivada pelo álcool (Alexandre depois de um pesadelo obrigara Cleitos a fazer um sacrifício), mas também de uma real repulsa perante as atitudes de copiar os soberanos orientais que Alexandre tomava: é preciso não esquecer que a Macedónia até uma geração atrás era dominada pela nobreza e só Filipe alterou isso. São distinguidos os macedónios dos gregos o que é positivo, dado que estes consideravam os macedónios bárbaros por não compreenderam a sua língua (ainda não consegui encontrar explicações claras se as línguas era aparentadas mesmo que diferentes ou se de facto apenas tinham o parentesco por serem indo-europeias): em Plutarco, diz-se que Alexandre (que usava sempre o grego) numa discussão começou a falar muito depressa, a praguejar e falar em macedónio.
Para completar a história, podiam ter acrescentado que a Estaira (a filha de Dário que também casou com Alexandre) foi morta por Roxana. Ou que a velha Olímpia matou o meio-irmão atrasado mental de Alexandre (bem como mulher e filho), uns anos depois; limitaram-se a referir que o Cassandro acabou com o que restava da família que não era muita coisa, dado que eles se tinham massacrado (não havia primos, pois Filipe, o pai de Alexandre eliminara a concorrência por esse lado). Só sobrou o primo Pirro que iria nascer sendo parente de Olímpia e que tanto trabalho iria dar a Roma uns anos depois. Uma família feliz...

1 comentário:

Anónimo disse...

ola tudo bem eu asisti o filme e adorei muito por isso esse filme é muito legal poderia ter continuação ...