segunda-feira, agosto 23, 2004

A Sul I

Liberto de outros compromissos literários, consegui finalmente acabar de ler um magnífico livro sobre a exploração antártica - "Endurance", de F.M. Worsley.

Já lá vão uns largos anos que me deixei enfeitiçar por tudo o que tem a ver com o Pólo Sul. A responsabilidade vai inteirinha para uma magnífica série de televisão sobre a fatídica viagem do capitão Robert Scott ao pólo. Foi emitida na RTP, ainda no tempo do monopólio, e o título original era "The Last Place on Earth" (já não me recordo da designação portuguesa).

A série mostra de forma extremamente realista a competição tremenda entre as expedições lideradas pelo britânico Scott e o norueguês Roald Amundsen pela chegada em primeiro lugar ao Pólo Sul. Ambas partiram em 1910 e ambas chegaram ao seu objectivo em 1912. Amundsen e os seus homens voltaram em triunfo; Scott e os seus companheiros na etapa final até ao pólo morreram no deserto gelado da Antártida, vítimas da exaustão, dos elementos e do escorbuto.

Apesar dos noruegueses terem sido os primeiros seres humanos a alcançar o Pólo Sul geográfico (o magnético é outra história), Scott acabou por se tornar uma figura mais conhecida e celebrada que Amundsen. Isso tem muito a ver com o facto de ele ser britânico (e, logo, mais mediático), mas também com o seu destino trágico.

Quando depois de um esforço sobrehumano os britânicos alcançam finalmente ao pólo, eles descobrem que os seus adversários já lá tinham chegado cerca de um mês antes. Desiludidos e exaustos, Scott e os seus homens acabam por perecer já no regresso, a poucos quilómetros do depósito de comida que os salvaria.

Em circuntâncias normais, tudo isto teria ficado desconhecido para sempre e a história de Scott não teria hoje a importância que tem. Só que a tenda onde os infelizes exploradores acabaram por morrer congelados foi descoberta por uma equipa de salvamento, e o diário de Scott e doze cartas escritas por ele poucas horas antes de morrer foram recuperadas. Apesar de muitos peritos na exploração antártica terem, desde então, atribuído boa parte da responsabilidade da tragédia a Scott, palavras como estas garantiram-lhe o estatuto de herói nacional e a imortalidade:

..."but for my own sake I do not regret this journey, which has shown that Englishmen can endure hardships, help one another, and meet death with as great a fortitude as ever in the past. We took risks, we knew we took them; things have come out against us, and therefore we have no cause for complaint, but bow to the will of providence, determined still to do our best to the last...Had we lived, I should have had a tale to tell of the hardihood, endurance, and courage of my companions which would have stirred the heart of every Englishman. These rough notes and our dead bodies must tell the tale, but surely, surely, a great rich country like ours will see that those who are dependent on us are properly provided for".

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