sexta-feira, setembro 08, 2006

Griko

Aprende-se no 7º ano que os gregos colonizaram vários territórios e um deles foi o sul da Itália a que se chamou Magna Grécia (nome curioso dado que é latino) e parte da Sicília. Mas que foi feito dessas colónias? Caídas sob o domínio romano, tornaram-se bons aliados; nas guerras sociais do séc. I AC, mantiveram-se fieis a Roma e obtiveram a cidadania romana. O romance Satyricon (supostamente passado no reinado de Nero) desenrola-se no sul da Itália com personagens gregas, e assim se manteve o sul de Itália por mais algum tempo. Quando Bizâncio conquista o sul de Itália (no séc. VI), existem ainda cidades de língua grega, que se manterão assim pelo menos até ao séc. XI (enquanto se manteve o domínio bizantino). Mas por um processo mal conhecido, o sul fora-se latinizando progressivamente (provavelmente tendo começado com os romanos e prolongando-se com os diferentes conquistadores que guerreavam bizâncio e adoptavam a língua latina), de modo que mesmo Nápoles a outrora maior cidade grega, já falava um romance no séc. X. Perdido todo o contacto com a Grécia, as cidades latinizam-se, e os grego fica reduzido a algumas comunidades isoladas no campo. Quando chegamos ao séc. XX, ainda são algumas dezenas de milhar, mas o êxodo rural e a emigração para a América liquidam essas comunidades: restam actualmente menos de 2000 falantes, todos idosos (os jovens aprendem italiano, que lhes facilita arranjar trabalho). Assiste-se actualmente a um certo despertar de interesse pela língua e cultura, aparecendo grupos etnográficos que tocam músicas tradicionais e ensinam a língua.
Os antigos colonos que se estabeleceram eram jónicos e dóricos; o griko (ou melhor, os vários dialectos), manteve muitos arcaísmos e embora tenha evoluído de forma autónoma ao grego da Grécia, recebeu também influências do grego do período bizantino e de termos latinos. Um grego que eu conheço diz que com muito esforço consegue-se compreender o que eles dizem, e que não é muito pior do que ouvir um grego pôntico (nem sabia que ainda existiam) ou de certos gregos de zonas isoladas do interior que falam dialectos dóricos.

3 comentários:

João Moutinho disse...

De onde provinham os dóricos?
Faço esta pergunta por que sempre os associei aos espartanos e, como tal, não seriam uma fonte de cultura como os jónios o seriam (de onde provêem os atenienses).
Outra questão, os bizantinos eram gregos ou romanos?
Eles consideravam-se herdeiros dos romanos mas falavam grego.
Poderemos encontrar algum resquício de democracia no governo bizantino?

Fabiano disse...

O sdóricos eram um dos povos gregos que se instalou na grécia depois dos jónios e outros (a maioria foi para o peloponeso).Mas serem dóricos não significa menos cultos (os corintios tinham um elevado desenvolovimento cultural). Esparta representou uma excepção. Várias cidades dóricas criaram colónias no ocidente (siracusa é a mais famosa, criada aliás por esparta).Os bizantinos representam a parte oriental do império romano (balcãs, asia, egipto) que era território mais influenciado pela cultura grega (e semita, e persa...), mas as instituições continuavam a ter origem em Roma (e eles continuavam a chamar-se romanos do oriente).
Não a democracia grega já tinha desaparecido, mesmo a nível das cidades.

João Moutinho disse...

Grato.