Ora se as províncias unidas em meados do séc. XVII pareciam ter um ímpeto a que nada detinha (eram a maior potência naval, arrebatavam as colónias portuguesas umas a seguir às outras, detinham uma fatia considerável do comércio com o oriente), meio século depois eram claramente uma potência de 2ª ordem, muito abaixo dos 3 grandes (Espanha, Portugal e a crescente Inglaterra). Como é que sucedeu isso?
O controle e a responsabilidade do império recaía sobre 2 províncias, a Holanda e a Zelândia (especificamente, as respectivas companhia); as restantes dedicavam-se sobretudo à agricultura e artesanato, recusando-se a contribuir com impostos, barcos e dinheiro para algo que elas não consideravam que lhes dizia respeito (de forma indirecta, investindo nas companhias); mesmo sendo as duas províncias mais ricas, isso significava um esforço desmesurado para a força dessas 2 províncias que tinham de competir com nações que tinham mais população do que as 2 acrescidas das 5 que não contribuíam. Pelo contrário, nos países ibéricos (e na Inglaterra e França), os impostos eram comuns e toda a gente contribuía para a defesa do império.
As guerras contra a França na metrópole desviaram-lhe recursos e as 2 guerras contra a Inglaterra provocaram-lhe terríveis perdas na marinha. A manutenção de territórios coloniais implicava custos permanentes que não existiam quando apenas comerciava e assaltava outras potências: funcionários, barcos de patrulha, guarnições. A perda dos territórios conquistados aos portugueses implicava que os enormes investimentos feitos pelas companhias não tinham tido retorno. Pior, enquanto que os outros países só tinham de levantar mais impostos e estavam dispostos a enormes sacrifícios (dado que estava também envolvido uma questão de prestígio e não apenas lucro), as companhias demoraram algum tempo até começar a receber apoios oficiais e não podiam arriscar-se a defender os territórios como se fosse a sua tábua de salvação: se a coisa corria mal, as companhias abandonavam os territórios. Finalmente, o recrutamento condicionava os combates. Se os Holandeses tinham melhor logística, organização e disciplina, os seus soldados sendo mercenários não lutavam com uma convicção por aí além. Um par de derrotas ou o espectro da fome e rendiam-se imediatamente. Além de que os alemães, franceses e nórdicos (que representavam metade ou mais dos soldados) muitas vezes luteranos e por isso desprezados detestavam quase tanto os seus chefes que acusavam de mesquinhez como aos adversários. Os ibéricos eram indisciplinados mas lutavam mesmo em situação de grande inferioridade numérica; em cercos aguentavam a fome e tinham um enorme ódio aos holandeses por razões religiosas. Dado que se tinham estabelecido numerosos colonos, além das guarnições toda a população masculina podia pegar em armas dando um reforço importante e podiam muitas vezes recorrer aos indígenas que tinham sido convertidos e assimilados pelos missionários (e muitas vezes ao fim de pouco tempo, podiam recorrer aos indígenas não assimilados assim que estes viam que os holandeses não representavam grande alteração de domínio). Em campanhas prolongadas acabavam por levar a melhor.
Sem comentários:
Enviar um comentário