segunda-feira, dezembro 05, 2005
Ran
Decidi apresentar neste blog alguns filmes históricos ou vagamente históricos. E o primeiro vai ser um dos que considero um dos melhores do realizador Akira Kurosawa.
O contexto do filme passa-se algures na segunda metade do séc. XVI (uma vez que os portugueses introduziram as armas de fogo em 1542 e demorou-se algum tempo a divulga-las). A estória é vagamente baseada na do rei Lear: um velho senhor (Hidetora) abdica em favor dos filhos (eram 3) esperando que eles se dêem bem, o terceiro discute com o pai dizendo que não deve fazer isso que o entendimento entre eles não durará e o pai exila-o; claro que rapidamente os dois irmãos se coligam contra o pai e assiste-se a batalhas excelentes do ponto de vista visual (nomeadamente o massacre do seu séquito e a destruição do castelo). Hidetora acaba por passar por um período de loucura e deambula acompanhado por dois servidores, encontrando antigas vítimas suas e reflectindo sobre o vazio em que se encontra. Quando percebe (e reconhece) que a razão estava do lado do seu filho mais velho, junta-se a ele, vendo-o ser assassinado às ordens de outro filho e morre de desgosto.
O filme sem se basear numa história verídica, acaba por ser uma excelente amostra do que foi o séc. XVI japonês, com as suas traições e combates. Numa determinada cena, Hidetora pede aos seus filhos para tentarem partir 3 flechas juntas e nenhum o consegue, dando como lição de moral de que se ficassem juntos seriam invencíveis, mas o filho mais novo replica-lhe que o mundo real não se compadece com essas estórias e parte-lhe as flechas sozinhas; depois de tanto sangue que ele derramou, tem de manter o poder, se abdicar será destruído por todo o ódio que semeou (a parábola das flechas foi efectivamente contada por um daimyo do séc. XVI e admira-me ninguém ter feito uma mensagem das que se reencaminham nada na Internet com isso). Uma das personagens que ajudaria à sua destruição foi a mulher de um dos seus filhos que fora casada à força depois de ver o seu clã aniquilado pelo velho Hidetora.
Por curiosidade: não conseguindo Kurosawa financiamentos para os seus filmes no Japão, foram admiradores seus no ocidente (Copola, George Lucas, Steven Spielberg) que lhe pagaram os últimos filmes, nomeadamente Ran.
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2 comentários:
Tive o privilégio de ver o "Ran" no grande écrã do Cine-Teatro Aveirense, na altura em que esteve em exibição pela primeira vez. Tinha 13 ou 14 anos (portanto já lá vão quase 20), e nunca mais encarei o cinema da mesma maneira. Inesquecível!
Gostei muito de estar nesto espaco.
Felicidades e muito obrigada pela sua visita.
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