sexta-feira, setembro 03, 2004

Os princípios de um exército-IV

Quando se compara todo amadorismo com o lado alemão, fica-se espantado por terem vencido. Os alemães combatiam como equipas, sem rivalidades entre as várias armas. Utilizavam os recursos de forma parcimoniosa, procurando explorar o terreno, fraquezas observadas, fazendo muitas manobras de envolvimento (evitando os ataques frontais, tão custosos em vidas humanas).
É certo que o autor lhes aponta imensas falhas, apesar de reconhecer a sua superioridade táctica e estratégica. Por exemplo, em Kasserine um destacamento blindado alemão que perfurara as linhas aliadas durante a noite, avançou cautelosamente embora não existissem tropas em frente de modo que quando de manhã retomaram a marcha a toda a velocidade já se tinha formado uma linha de defesa, que conseguiu atrasa-los; segundo o autor a exploração dessa brecha durante a noite teria permitido varrer as linhas aliadas num buraco de uma centena de kilómetros que poderia ter provocado (seguindo o resto do exército alemão) o desmoronamento de toda a frente (dado que os tanques americanos tinham acabado de ser destruídos e se estava a dar um movimento de pânico e de retirada das tropas por moto próprio, para não dizer deserção e fuga pura e simples). Ora para mim essa visão tem vários problemas: primeiro, os alemães não sabiam que o adversário fugira, e andar a toda a velocidade de noite sem fazer reconhecimentos pode dar mau resultado; depois, os alemães tinham de ser necessariamente cautelosos, pois as suas perdas eram muito difíceis de substituir, enquanto os aliados podiam-se dar ao luxo de perder unidades e equipamento sem problemas, que existia sempre mais há disposição (e se não era assim, agiam dessa maneira). E mesmo que o destacamento tivesse avançado, os aliados teriam colocado qualquer coisa no caminho, nem que fossem os cozinheiros e pessoal administrativo armados de pistolas como sucedeu em outras ocasiões, além de sofrerem de limitações de combustível e abastecimentos que não lhes permitiriam dar “passeios” de centenas de km à sua vontade. Além de que os ingleses do VIII exército não estavam assim tão longe, e Montgomery não teria perdido uma ocasião dessas para “brilhar” salvando os americanos. Kasserine foi um brilhante feito das armas alemãs em si mesmo, e esperar que os comandantes façam tudo correcto sem terem as informações necessárias é um pouco abusivo (mesmo que o adversário faça tudo mal, como foi o caso).
O maior problema do eixo, foi fruto do regime nazi: tinham um comando repartido ente 3 figuras, entre Rommel, Kesselring e Von Armin, cada um com a seu esfera de domínio, obrigando-os constantemente a debater entre si pela conduta a seguir. Embora fossem os três extremamente competentes (os dois primeiros sendo comandantes de primeiro plano), isso fazia-os perder tempo em vez de agirem imediatamente (e muitas vezes tendo as suas mensagens interceptadas pelos aliados graças à máquina Enigma). Isso foi ideia de Hitler que gostava de repartir os comandos, em vez de os unificar. As limitações que tinham de recursos (e sobretudo de reforços), obrigava-os a ser (como já referi) extremamente cautelosos, não arriscando mais do que o necessário (mesmo assim, eram mais audaciosos que os aliados).

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