sexta-feira, novembro 21, 2003

Derrotas coloniais-IV

Que se note que o conselho dos XIX (órgão que liderava a companhia) se esforçava para resolver esses problemas, nomeando pessoas competentes com uma folha de serviço o mais adequado possível; o problema era que a estratégia perfeita para corso e enriquecimento rápido não se coadunava com investimentos a longo prazo de retorno duvidoso; uma expedição de saque trazia lucros imediatos, enquanto que preparar e manter a conquista exigia a manutenção de guarnições, tropas e frotas de socorro durante anos a fio para a guerra, ou seja unicamente dinheiro a sair e pouco ou nenhum a entrar. Portugal podia dar-se a esse luxo, uma vez que a manutenção do seu império era vital para a sua sobrevivência como estado independente, enquanto que nos Países-Baixos, via-se o comércio como a actividade prioritária, a guerra só em caso de último recurso ou se os riscos fossem mínimos. Ou seja, sobreviveria não apenas quem tivesse recursos, mas quem os sacrificasse sem remorsos à guerra.
Claro que os cenários foram muito diferentes uns dos outros: S. Tomé povoada por portugueses que se dedicavam à plantação de açúcar, pouca resistência ofereceu, colaborou activamente com os neerlandeses e só deu problemas no fim (e mesmo assim, “comprou” a retirada dos ocupantes). Em Pernambuco, a anos pacíficos sob o governo do Conde de Nassau, sucederam confrontos e guerrilhas quando a ocupação endureceu um pouco (mas não tanto assim que justificasse a reacção portuguesa!). Em Angola, a guerra pode-se dizer que foi praticamente contínua, com uns breves intervalos, usando-se as tribos indígenas como auxiliares, devastando-se aldeias e massacrando-se populações (alguns acabaram por ser mais astutos e iam balançando de acordo com a sorte das armas).
A Companhia das Índias Ocidentais depois de um começo promissor acabou por perder em quase todas as frentes: foi corrida de Angola, S. Tomé, Brasil, da Baia de Hudson, do comércio no Canadá. Conseguiu sobreviver com algumas feitorias na costa do Ouro e com os escravos obtidos aí, lá pode manter e desenvolver os territórios das Caraíbas que conquistara.

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