Se os portugueses eram corruptos, a Companhia das Índias com a sua avareza conseguia exasperar os seus subordinados: muitas vezes eram embarcados alimentos já com bicho por serem mais baratos, e água em pouca quantidade. Os produtos para comerciar com os indígenas escasseavam devido ao desejo de poupar e muitos dos escravos morriam nas viagens por não lhes ser atribuída alimentação. Os oficias do exército ignoravam assim muitas vezes os protestos dos representantes da companhia nas suas instruções por considerarem que por a Companhia não cumprir a sua parte ao assegurar-lhes roupas, comida e medicamentos, eles e os seus homens deveriam arranjar-se por outros meios (leia-se ficar com parte do espólio conquistado). As tropas rapidamente se trocavam indisciplinadas, recusando-se a cumprir ordens.
Outra praga era a cupidez devido ao espírito comercial: estando a decorrer combates, os representantes da companhia vendiam produtos aos portugueses. E se os portugueses raras vezes desertavam, o mesmo não sucedia com os neerlandeses (para quem ficar surpreendido pelo facto de eles desertarem para os “papistas”, é preciso não esquecer que a esmagadora parte da população do campo era católica, sendo calvinista a elite das cidades, mercadores e nobres, mas o medo aos espanhóis era tão grande, assim como o nacionalismo, que o país conseguiu manter-se unido), sob a promessa de melhores condições de alimentação. E esses desertores nunca eram entregues pelos portugueses, mesmo que acordos assim o estipulassem. Essa gente acabou por ficar integrada na população branca local.
Ou seja, se as pessoas pareciam tolerar que as coisas corressem mal, por o sistema ser todo corrupto e incompetente (acabando por ser uma justificação para o próprio comportamento), outra bem diferente, é tratar mal as pessoas deliberadamente para poupar custos e aumentar os lucros dos accionistas (coisa que já não era tão bem aceite).
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