terça-feira, junho 06, 2006

Respostas

Um amigo meu enviou-me este link de um artigo do público que tinha lido. Respondi-lhe, e decidi colocar aqui o mail que lhe enviei.

"Não posso falar pelo Ratzinger, mas posso dar-te uma achega da relação dos nazis com o cristianismo.
Em primeiro lugar, de forma subtil, no topo da hierarquia existia uma divisão entre os que eram católicos (Himmler, Goebbels) e protestantes (Borman). Não sendo qualquer um deles crente, desprezavam os da outra confissão. É um bocado difícil de explicar isto, mas Himmler mas mandava prender evangélicos sem dores de consciência, Borman tinha todo o prazer em mandar padres e freiras para campos de concentração (digamos que era uma espécie de solidariedade para com aqueles que tinha sido da sua confissão, embora já não acreditassem nela). Himmler admirava a igreja católica pela sua hierarquia, obediência, e liturgia, usava-a como modelo, embora planeando um dia livrar-se desse concorrente indesejado já que tinha uma origem não ariana, e estava sediada num país de raça inferior e pregava uma doutrina concorrente.
A Igreja era tolerada e usada porque convinha, mas um dia, ela seria eliminada, como tinha acontecido com os partidos e os sindicatos. E o Deus dos Nazis era bem diferente.
Quanto à igreja: no princípio, tal como a aristocracia e a classe média, ela só queria alguém que os salvasse dos comunistas; a igreja apoiava os conservadores (nunca os nazis que eram vistos como um bando de revolucionários, os discursos dos anos 20 eram muito anti-clericais), mas na década de 30 os nazis moderaram o discurso e tornaram-se respeitáveis. Os conservadores aliaram-se aos nazis e resolveram os problemas. Quem foi eliminado foi toda a casta de "vermelhos", o que não desagradou a ninguém (além dos próprios). O partido católico (existia um) opôs-se aos nazis, mas depois do "suicídio" do seu líder e mais alguns colaboradores na noite das facas longas, os católicos calaram-se. Porque reclamar, se tudo corria bem? Depois vieram as limitações da liberdade de discurso, de imprensa, perseguições de recalcitantes (padres e freiras que não sabiam estar calados), a eutanásia forçada de deficientes, mas tudo era compensado pelo aparecimento em cerimónias oficiais, o silenciamento dos elementos mais à esquerda do partido (que era na origem um partido com forte componente de esquerda) e manutenção dos privilégios. E é preciso não esquecer que o extermínio de prisioneiros é só a partir de 1942, até então não se praticava (o pessoal parece achar que campo de concentração=câmara de gaz e mortes indiscriminadas, o que é falso).
Onde estava Deus? Isso interessa? Foram seres humanos que praticaram (e praticam) os horrores por livre arbítrio. É só a nós que nos temos de culpar."

Sem comentários: