segunda-feira, junho 27, 2005

O período Heian- III

De grande relevo na cultura Heian foi a Academia. Foi fundada para divulgar o conhecimento da literatura e cultura chinesas de modo a cultivar as elites. Aí, professores (muitas vezes de origem chinesa), ensinavam o direito, os clássicos, um pouco dos cânones. Diversos anos de estudos e exames eram exigidos. Mas no entanto algumas limitações foram reduzindo o alcance desse projecto. Para se alcançar um cargo importante, o fundamental era pertencer-se a um clã importante não sendo necessário o comprovativo da academia (embora para obter cargos de menor relevo pretendidos por membros de clã pouco importantes já fosse uma quase garantia a posse do certificado, o que é paradoxal). Rapidamente os cargos na academia foram-se tornando hereditários (e não por nomeação pelos governantes ou pelo professor) dentro de certos clãs; começaram a surgir acusações de favoritismo na passagem de exames (os professores apenas passavam os seus familiares para mais ninguém poder ser mestre). A academia foi-se tornando cada vez mais fechada, o seu prestígio caiu, até estar em ruínas e no final do período Heian (séc. XII), depois de um incêndio foi abandonada.
Sendo o chinês a língua literária em que eram escritos poemas, jogos, histórias, e tudo o que valia a pena ser escrito, vemos curiosamente que foi na língua Japonesa que foram escritas as obras-primas e por mulheres, que sendo menos cultas, não deviam ter esgotado a sua criatividade a decorar os clássicos chineses.
A epopeia de Genji por Murakami (desconhece-se o nome da autora, por isso é usado este nome), uma estória que se prolonga por várias gerações é considerada uma das obras maiores da literatura mundial. Descreve a sociedade corte com numerosas descrições psicológicas de forma viva (pessoalmente ainda não terminei de o ler, mas concordando com o que é descrito, acho o livro entediante, decididamente não tenho preferência por sociedades cortesãs). Um outro livro contemporâneo escrito por outra mulher, é uma colecção de descrições com todos os preconceitos de uma mulher de corte (um exemplo: ela refere-se à vista repugnante de um homem peludo a dormir à sombra de uma árvores considerando que o homem se tivesse um mínimo de bom gosto ficaria escondido durante o dia e só sairia à noite quando ninguém o visse).
O Japão mantendo-se fiel à sua religião tradicional (o xintoismo, numa qual são adorados os Kami- algo que tanto podem ser deuses como espíritos dos antepassados) e existem rituais praticamente para tudo, deu um enorme relevo ao budismo. Faziam parte das embaixadas para a china, grupos de monges que deviam aprender tudo o que podiam, copiavam textos sagrados, mantras, etc. Ora, Um dos monges numa expedição, tratou de aprender o máximo que pôde sobre esoterismo. Aprendendo numerosos encantamentos de protecção, acabou por criar a sua própria versão de budismo. Otras seitas seguiram os seus passos (iniciando-se com monges da sua seita ou aprendendo directamente na China), diminuindo assim a importância do conhecimento literário na religião em favor de uma religião mais “prática”.
Outro monge considerou que se estava a cair num período de decadência em que as pessoas eram incapazes de ter força para cumprir os preceitos budistas (não matar, comer carne, etc) e o melhor era esforçar-se mais pela atitude e simplificar as exigências (basicamente, baixar a fasquia). Esta doutrina tornou-se popular para com todos os que não podiam cumprir o budismo a preceito (que se limitava aos monges, e mesmo destes falarei depois) como guerreiros, pescadores, caçadores. Também existiam discussões entre seitas que defendiam que todos tinham a possibilidade de reencarnar e tornar-se melhor, e outros que defendiam que os eta (equivalente aos pária) estavam excluídos desse ciclo.
As seitas tradicionais de Nara (a antiga capital), com a sua prosperidade económica (doações de dinheiro e terras pelo estado e aristocratas) tinham-se relaxado disciplinarmente. Chegavam a ter filhos, emprestar dinheiro (num caso chegou aos 180% de juros anuais!), beber e comer como grandes senhores. Logo eram incapazes de cumprir com os seus deveres de zelar com orações pelo país. As novas seitas que referi anteriormente, embora se mantivessem mais disciplinadas moralmente lutavam entre sí por pontos de prestigio edoutrina, chegando a criar verdadeiros batalhões de monges que saqueavam mosteiros vizinhos (surgindo futuramente os temíveis exércitos de sohei).

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