segunda-feira, junho 13, 2005

Como se tornar num deus involuntariamente

Nos finais do séc. IX, em pleno período “Heian” um ex-imperador que governava em nome do imperador (que era uma criança), decidiu para suplantar a influência do clã Fujiwara, promover um funcionário de origens modestas (leia-se: de um clã de importância secundária) de nome Michizune para servir de contra-poder. Michizune fora governador nas províncias e conhecia bem os seus problemas. Com o apoio de outros semelhantes a si, tentou efectuar reformas que permitissem evitar a perda de autoridade e rendimentos que o estado estava a sofrer devido à apropriação da autoridade do estado pelos governadores e senhores locais. Mas os clãs da corte opuseram-se, e o chefe do clã Fujiwara conseguiu convencer o imperador quando este chegou à maioridade, que Michizune pretendia destroná-lo em favor de outro parente. Michizune foi então exilado para a província (e o ex-imperador seu protector colocado num mosteiro). Mas a história seria caprichosa. Michizune que já era idoso, morreu pouco depois e por coincidência, o mau tempo e tempestades assolaram o Japão. Os adivinhos foram peremptórios: o fantasma do defunto estava a vingar-se. Foram efectuados sacrifícios e cerimónias de expiação e algum tempo depois o tempo melhorou. Começou-se a associar o nome de Michizune a um deus dos raios, e (não percebo bem como) a protector dos letrados; ainda actualmente ele tem um culto no Japão, com templos.
Algumas das suas reformas seriam implementadas um século depois, mas por essa altura já era tarde demais para fazer frente aos senhores feudais e os Fujiwara tinham um poder reduzido à corte; no séc. XII começaria o conflito Taira/Minamoto. Vou assim começar uma série de posts sobre o período Heian.

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