segunda-feira, julho 19, 2004

NAGASAKI

Morreu Charles W. Sweeney, o homem que pilotou o bombardeiro que lançou a bomba atómica sobre Nagasaki. Tinha 84 anos e nunca se arrependeu.
 
Nos últimos anos, uma série de historiadores mais ou menos políticamente motivados têm acusado a administração norte-americana da altura, liderada pelo presidente Harry Truman, de ter usado a bomba atómica contra um país que já estava derrotado.
 
Baseando-se numa enorme quantidade de informação que era desconhecida ou inacessível para os decisores políticos e militares da altura, estes autores passam um duro julgamento sobre a decisão de usar a bomba. Para eles, o Japão estava prester a render-se. Bastava manter os bombardeamentos convencionais (que, por sinal, eram quase tão mortíferos como os atómicos) e invadir as principais ilhas do arquipélago japonês.  Ou seja: usar as bombas atómicas foi não só desnecessário, como criminoso.
 
Isto é o que dá olhar o passado com as lentes (bastante deformadas) do presente. Isto é o que dá ignorar ou desmentir a previsão, feita na altura, de que a invasão do Japão ia matar um milhão de pessoas. Isto é o que dá preferir não ver que o teatro do Pacífico foi o mais cruel e brutal (com excepção de algumas áreas da frente Leste) de toda a 2ª Guerra Mundial. Em mais parte nenhuma se viram exércitos a lutar até ao último homem, como em Iwo Jima, Tarawa e Okinawa. Em Tarawa, por exemplo, dos 4800 defensores japoneses e coreanos, só 17 é que foram feitos prisioneiros no final da batalha. Todos os outros foram mortos pelos marines ou suicidaram-se. Em Okinawa, os civis japoneses lançaram-se do alto das falésias da ilha para evitarem a captura.
 
Ignorar tudo isto é a pior das cegueiras. É não perceber que, no Verão de 1945, o cansaço provocado pela guerra era enorme. O fim estava à vista, mas ninguém estava disposto a adiá-lo um dia mais para além do necessário. A invasão do Japão iria prolongar os combates pelo menos mais um ano. Um ano de carnificina.
 
Imaginem o que aconteceria se Truman tivesse decidido não usar a bomba? Por muito que custe aceitar aos revisionistas, a grande responsabilidade do presidente era ganhar a guerra, gastando o menor número possível de vidas americanas. Não usar uma arma tão decisiva como a bomba atómica era pura e simplesmente impensável.
 
Nos dias de hoje, a ideia da guerra total repugna-nos. Em 1945, os líderes e a população dos países aliados não tinham esse luxo. Todos sabiam que era matar ou morrrer. O nazismo e o imperialismo japonês não teriam qualquer piedade caso vencessem.
 
Cinquenta anos depois de ter largado a bomba em Nagasaki, Charles Sweeney foi a uma comissão do Senado dos Estados Unidos lembrar que, às vezes, é preciso tomar decisões duras e assumi-las. Era bom que as suas palavras não fossem esquecidas:
 
«Não estou aqui a celebrar o uso de armas atómicas. Bem pelo contrário. Espero que a minha missão [atómica] seja a última deste tipo. Nós, como nação, devemos abominar a existência de armas nucleares. Essa é, aliás, a minha opinião».
 
«No entanto, isso não significa que, em Agosto de 1945, dados os acontecimentos da guerra e a recalcitrância do nosso inimigo, o presidente Truman não estivesse obrigado a usar todas as armas ao seu dispôr para acabar com a guerra. Concordei com Harry Truman na altura, e ainda concordo com ele hoje».

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