Vou contar duas histórias que considero interessantes.
No século III A.C. um grupo de gauleses (as crónicas diziam que eram 800) foi exilado e decidiu servir as cidades gregas da Magna Grécia; traíram os vários senhores e acabaram por ser contratados por Roma; ao serviço desta, saquearam templos de aliados e Roma rapidamente os despediu pelos protestos. Depois de mais umas aventuras, foram contratados pelos epirotas que os colocaram como guarnição da sua capital; estes mercenários traíram mais uma vez os seus senhores e venderam a população a um grupo de piratas Ilírios que estavam de passagem; depois a História não fala mais deste grupo.
A segunda estória é ainda mais curiosa. Quando os americanos desembarcaram na Normandia, do exército eclético que os alemães lhes opuseram, estava uma unidade coreana. Ora pergunta o leitor, como chegaram coreanos até aí? Bem, recuando um década, o território estava em mãos dos japoneses; estes tiveram uma curta guerra contra a URSS nas vésperas da II Guerra, chamada o “Incidente Manchu” (em que Jukov os deixou muito mal-tratados, fazendo com que evitassem declarar-lhes a guerra quando Hitler lhes pediu). Ora uma unidade de Coreanos recrutada pelos Japoneses foi assim aprisionada pelos soviéticos. Estando nos campos de concentração, quando se deu a invasão da URSS pela Alemanha, estes homens foram remobilizados mas rapidamente se renderam aos nazis, dado o fraco estímulo que tinham para combater por um país que nada lhes dizia. Ora se a Alemanha era muito exigente em termos de pureza de raça para detalhes administrativos, era-o muito menos quando se tratava de recrutar soldados para as SS (que eram os únicos que podiam recrutar estrangeiros, dado que o exército só aceitava alemães), levando a que a unidade de elite alemã, aceitasse todos os “sub-humanos” possíveis e imaginários, que eram reclassificados para serem aceites (mongóis, bálticos, asiáticos, latinos), considerando-se que se estavam afinal a combater pelo Reich; foram colocados na Normandia e claro que quando puderam, renderam-se imediatamente aos americanos; não sei o que lhes sucedeu de seguida, mas imagino que tenham ido parar a um campo de concentração americano e com um bocado de sorte tenham ficado a trabalhar nos E.U.A.; seja como for, acabaram por sobreviver a uma série de guerras que não eram a deles, de exército em exército, e de campo de concentração em campo de concentração, o que já não é mau.
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