quarta-feira, setembro 10, 2003

As Cruzadas vistas pelo Islão - parte II

A Jihad - o início

No início do séc. XII, o mundo muçulmano tinha praticamente esquecido a Jihad, a guerra religiosa travada contra os inimigos do Islão. A explosiva expansão da sua religião durante o séc. VIII tinha-se reduzido às memórias de grandeza dessa época. Após a queda de Jerusalém, muitos proeminentes líderes religiosos, como o qadi Abu Sa’ ad al-Harawi, tentaram convencer o Califa Abássida a preparar a Jihad contra os Firanji. No entanto, somente perto de duas décadas depois é que o sultão turco designou um proeminente militar, um atabeg chamado Zengi, para resolver o problema Firanj.
Após a primeira cruzada, a moral dos muçulmanos estava de rastos. Os Firanj detinham uma reputação de ferocidade entre os Turcos e os Árabes. Com os espectaculares sucessos em Antioquia e Jerusalém, os Firanj pareciam quase imparáveis. Eles humilhavam o poderoso califado egípcio anualmente e faziam investidas em terras inimigas impunemente. Exceptuando os vassalos do Egipto, a maioria dos aterrorizados líderes muçulmanos dos territórios mais próximos pagavam um pesado tributo para assegurar a paz. Zengi iniciou o longo e lento processo de modificar a imagem que os muçulmanos tinham dos Firanj.
Tendo recebido o domínio das terras à volta de Mossul e Alepo, Zengi começou uma campanha contra o Firanj em 1132 com a ajuda do seu lugar-tenente Sawar. Em cinco anos conseguiu reduzir o número dos castelos importantes ao longo da fronteira do Condado de Edessa e derrotou o exército firanj em batalha. Em 1144 capturou a cidade de Edessa e neutralizou de forma efectiva o primeiro domínio estabelecido pelos Cruzados.
Zengi foi o primeiro líder muçulmano a enfrentar os firanj e que não só sobreviveu, como triunfou. Ele provou que os firanj podiam ser bloqueados. Os líderes de Bagdad aprovaram os sucessos de Zengi, e cedo um grande número de títulos precediam o seu nome: O Emir, o General, o Grande, o Justo, o Ajudante de Deus, o Triunfante, o Único, o Pilar da Religião, a Pedra de Base do Islão, …Honra de Reis, Apoiante de Sultões … o Sol dos Merecedores, … Protector do Príncipe dos Fiéis. Zengi gostou tanto da enchente de elogios, que insistiu que os seus arautos e escrivães utilizassem todos os títulos na sua correspondência.
Embora Zengi fosse um grande herói militar, ele foi simplesmente muito implacável e cruel nas suas campanhas contra Damasco para motivar os muçulmanos para uma guerra religiosa. Uma noite do ano 1146, encontrando-se ele alcoolizado, ao ter presenciado a um erro do seu eunuco particular, Lulu (“pérola”), e prometeu mandá-lo executar por incompetência. Mais tarde, enquanto Zengi dormia, Lulu pegou na adaga do seu dono e apunhalou-o repetidamente e fugiu, coberto pela escuridão da noite.

Sem comentários: