terça-feira, janeiro 17, 2006

O Papa desenterrado




Formoso nasceu em Itália em princípios do séc. IX. Seguiu uma carreira clerical e como numerosos sacerdotes serviu reis como diplomata (por curiosidade: era bispo não residente do Porto, que estava em mãos muçulmanas). Entrou em conflito com o papa João VIII e foi excomungado e foi destituído das suas funções (nomeadamente como bispo). Mas foi perdoado, retomou os seus cargos e acabou por ser eleito Papa; morreu em 896. Ora a partir daqui é que a sua “vida” se torna interessante. Em 897, um dos seus sucessores (Estêvão) decidiu organizar um sínodo, mandou desenterrar o cadáver de Formoso, vesti-lo com as vestes Pontifícias e julga-lo. Foi considerado culpado das acusações, destituído, mutilado, atirado ao rio e todos os seus actos considerados inválidos, incluindo a consagração e nomeação de bispos e por aí além (de padres nomeados por esses bispos, dos sacramentos feitos por estes, etc). O resultado foi uma tremenda desorganização da Igreja (dado que se considerava nulos todos os actos recentes). Isto provocou uma reacção que levou à prisão e assassínio do Papa Estêvão. Depois de uma série de peripécias, um Papa acabou por considerar válidos todos os actos de Formoso, anular o seu julgamento e deposição (colocando um ponto final à situação de confusão que se dera). Todo o episódio foi considerado uma aberração, e serviria de base para a doutrina da Igreja de não anular actos de pessoas consagradas. Mas alguns séculos depois, a Igreja voltaria a efectuar julgamentos de pessoas acusadas de heresia já falecidas.

3 comentários:

RS disse...

Estória deliciosa!

Anónimo disse...

Podes crer!

F.

Anónimo disse...

QUEM SOMOS NOS PARA JUGAMOS ALGUEM