Este post deveria aparentemente pertencer ao Roma Antiga, mas dado que são dúvidas e reflexões minhas, coloco-o no tempore.
Vi recentemente um filme que foi polémico “A paixão de Cristo”. Vou discutir alguns erros ou incorrecções históricas que notei (não, não vou discutir o anti-semitismo, a crueldade, a suposta historicidade ou não dos acontecimentos ou outros elementos que foram debatidos há uns tempos atrás).
A primeira é inofensiva (por comparação com o que se discutiu) e quase passa despercebida: um oficial chama a Pilatos de Cônsul. É um erro algo grosseiro. Era o cargo mais prestigiado da república e como tal se mantinha no império; existiam 2 cônsules em Roma, um normalmente o imperador, e outro uma pessoa que tivesse cumprido o cursus honorum e o seu favor (de boas famílias). Terminado esse período, podia-se tornar procônsul (governador de uma província senatorial), o que não era o caso de Pilatos que era um legado (nomeado directamente pelo imperador e não pelo senado, sendo comandante das tropas locais e saído de uma família equestre). Ou seja, é um erro algo básico para quem teve tantos cuidados de reconstituição (bastava consultar um daqueles esquemas hierárquicos sobre a administração romana que se encontra numa história universal para evitar esse erro) do período.
O outro é uma questão de opinião: Pilatos a falar em aramaico? Em Itália aprendia-se latim como língua mãe (os outros dialectos e línguas como o celta, osco, etrusco e afins tinham desaparecido ou estavam em vias de extinção reduzidas às populações camponesas de zonas isoladas); quem tivesse pretensões a ser culto aprendia o grego que era a língua literária (e para cargos nas zona oriental do império dava jeito, dado ser a língua franca, tal como o inglês actualmente). Ora o aramaico era a língua usada pelas populações semitas do próximo oriente (palestina, síria), mas quem vivesse em zonas urbanas também acabava por aprender o grego que se espalhara com os reinos helenísticos; quais as probabilidades de um governador romano dar-se ao trabalho de aprender uma língua de gente que desprezaria como bárbara (aramaico), se bastava usar outra que seria em princípio compreendida (grego). Poderia quanto muito usar um intérprete; além de que os legados eram normalmente rotativos; estaria num período numa província, terminado o seu mandato iria para outra e dar-se ao trabalho de aprender a nova língua (digamos o celta, o púnico)? Dá-me ideia de que não estiveram foi para filmar numa terceira língua e ficaram-se pelas duas (que já era complicado suficiente para os actores).
Outra dúvida: no filme, Jesus fala com Pilatos em latim (que era completamente ignorado no oriente fora das casernas). Duvido muito que soubesse latim; poderia saber como pequeno artesão o grego, o que não era invulgar (e comunicar com judeus vindos da diáspora) e comunicar com Pilatos nessa língua, mas isto é apenas uma suposição.
1 comentário:
ora bolas, partindo do ponto de vista de que Jesus é o filho de Deus, ele pode falar a lingua que quiser, e a saber, ele poderia falar todas as linguas que possam ter existido , e isso fluentemente....
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