sexta-feira, agosto 18, 2006

Satyricon



Comprei há uns tempos o filme de Felini; tinha-o visto há uns bons 10 anos e agora pude revê-lo.
A história é uma adaptação livre da obra de Petrónio, relatando as aventuras de 2 libertos (Encolpio e Ascilto) que disputam os favores de um escravo (Giton) na época de Nero. O ambiente é algo surrealista, muito diferente das obras de Hollywood, com cenários e cores muito fortes; o ambiente de decadência que se normalmente associa a Roma está bem representado, com toda uma galeria de personagens depravadas (heterossexuais e homosexuais) e pitorescas. A história não é contínua, sendo por episódios que se sucedem sem grande relação entre si (o que de algum modo acontece no livro, dado que este nos chegou mutilado).
O início começa com uma disputa entre os libertos sobre o escravo num bordel (de ambiente grandioso e escuro). Vemos depois uma arenga de um poeta (Aganemnon) sobre a decadência das artes numa galeria /museu (existindo o episódio no livro, parece-me que foi plenamente adaptado aos tempos modernos). Segue-se o banquete de Trimalquião (o cenário é ao ar livre embora representando uma villa): um liberto milionário que se gaba da sua fortuna e vemos os seus amigos (com menos posses) a elogia-lo e a apresentarem as suas vidas (acho que a cena do cozinheiro tem mais impacto no livro, com tantos pormenores visuais, o filme perde bastante). A partir daqui o filme vai-se afastando cada vez mais do livro (e de qualquer cronologia coerente). Capturam um semi-deus hermafrodita (matando os seus companheiros) para obter um resgate mas ele acaba por morrer por falta de cuidados; são mais tarde feitos prisioneiros num navio e explorados sexualmente (embora isso não os desagradasse). Numa casa de patrícios em que os donos foram ordenados que cometessem suicídio (só fugindo os filhos), dois dos companheiros divertem-se com uma escrava que ficou. Um deles é obrigado noutro episódio a combater numa arena a imitar o labirinto de Cnossos, descobrindo no final que está impotente; numa espécie de bordel tenta recuperar a sua virilidade mas falha, parte em busca de uma feiticeira que acaba por cura-lo.
Ok, o que se segue é a minha impressão pessoal.
O filme não é para todos os estômagos, mas eu gostei muito e é visualmente belíssimo. Todo o ambiente é cínico e bem disposto, embora se fique com uma certa sensação de vazio (sobretudo no fim): aqueles personagens apenas seguem os seus prazeres, estão dispostas a qualquer intriga, mentira, calúnia ou assassínio para obterem o que querem (gratificação imediata), mas limitando-se a isso sem qualquer objectivo formando um maior contraste com o casal suicida (episódio introduzido por Felini, precisamente creio eu para marcar a diferença).

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