quarta-feira, maio 10, 2006

Cisma




Um facto curioso: durante anos, considerava-se que o cisma entre a Igreja católica Romana e Grega deveu-se à progressiva separação das duas comunidades, que foram perdendo o contacto e foram-se encarando de forma cada vez mais hostil, levando a fricções (a questão dos iconoclastas teria envenenado ainda mais a situação), até à ruptura final em 1054.
Ora actualmente começa-se a encarar as coisas de forma completamente diversa: teria sido o retomar dos contactos entre as duas partes que teria levado a uma progressiva hostilidade.
Se recuarmos até ao séc. V e VI, vemos que vários príncipes bárbaros tinham servido nas cortes de Ravena (enquanto durou) e Constantinopla. Com a queda do império do ocidente, o império do oriente tinha uma reconhecida superioridade cultural e intelectual; mesmo a nível político, os Papas viravam-se para Bizâncio quando precisavam de ajuda (sobretudo até Carlos Magno). Com o estender de competências da Igreja Católica Romana, a criação do Sacro-Império, a estabilização de vários estados no ocidente, este foi-se progressivamente autonomizando, desenvolvendo uma cultura e identidade próprias, que não eram apenas restos da cultura antiga. Ora a partir do séc. X intensificaram-se os contactos e as impressões foram pouco agradáveis: os latinos (estou a considerar do ponto de vista da Igreja) consideravam os gregos efeminados e intriguistas, os gregos consideravam os latinos rudes e bárbaros. Os problemas políticos e religiosos apenas vieram acentuar a questão e o rompimento não foi nenhum choque para ambos os lados.

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