sexta-feira, junho 04, 2004

Suicídio

Algures na primeira metade do séc. XX, é pedido que um grupo de voluntários leve uma carga de explosivos até próximo de um bunquer inimigo e a faça detonar. Apresentam-se voluntários que são abatidos; novos voluntários desta vez conseguem fazê-lo, mas o inimigo apaga a mecha. Outro grupo de voluntários repete a tarefa e o mesmo sucede. O comandante dá uma ordem aos voluntários seguintes: eles terão de se certificar de que o inimigo não apague a mecha, ficando junto próximo a ela até explodir: basicamente, pede-lhes o suicídio; eles aceitam perfeitamente. A missão é levada em diante com sucesso.
Este episódio decorreu na guerra russo-japonesa de 1901, e os soldados eram claro, nipónicos. O oficial em situação normal deveria ser levado a tribunal marcial, pois não é aceitável a exigência de suicídio a soldados (situação apesar de tudo subtilmente diversa de ordens do género “corram para a trincheira inimiga com um ninho de metralhadoras”, ou “resistam às forças esmagadoras que vem na vossa direcção”, pois por vezes o imprevisto sucede), mas o caso foi abafado. Pior: os soldados foram apresentados como modelo de patriotismo e espírito marcial (busho), digno dos antigos samurais. O que é de espantar neste caso, é que eles eram de origem humilde (camponeses) e foram promovidos post-mortem, contando-se a sua história nas escolas para servir de exemplo às crianças, sendo-lhes mesmo erigidas estátuas. Aos poucos, os ideias que tinham sido apanágio de uma classe, foram sendo inculcados a toda a população, resultando em parte na tragédia que foi a participação japonesa na II guerra.

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