quinta-feira, novembro 02, 2006

A mulher do Baixo-Império à alta idade média-II

As invasões bárbaras modificaram este panorama. Os vários povos germânicos assim que puderam compilaram códigos de leis, e dada a escassez das fontes, temos de utiliza-las. Estes calculavam o valor de uma pessoa, conforme uma série de critérios: estatuto social, idade, virgindade no caso das mulheres. Um homem que matasse uma idosa, pagava uma multa pequena à família, um pouco maior se fosse uma criança, e uma pequena fortuna se fosse em idade núbil. Se violasse uma mulher virgem (leia-se, a viver em casa dos pais) teria de casar com ela e pagar uma importante quantia aos pais (sendo castrado se não tivesse os recursos). A mulher era assim vista como propriedade da família (primeiro do pai, depois do marido). Ora se durante os primeiros séculos, estes reinos bárbaros utilizavam o divórcio sem grandes problemas, a Igreja foi progressivamente impondo a ideia da indissolubilidade do matrimónio. Nada mais fácil de resolver: no caso de uma mulher idosa, quem tivesse um mínimo de bens, só tinha de matar a mulher e pagar a multa que não era grande coisa. Para colmatar isso, a Igreja criou pesadas penas espirituais para expiação desse pecado (jejuns e penitências prolongadas durante anos), de modo a não se tornar atractivo esse método. Com o tempo (e a progressiva cristianização da sociedade por volta do séc. X), acabou por conseguir banir o divórcio de forma legal. No entanto, mediante umas contorções, este sobreviveu como um privilégio dos membros da realeza, embora com outra designação, o de anulação, o que significa que o casamento tinha um impeditivo à priori que o tornava nulo (como o parentesco próximo), embora na esmagadora maioria das vezes, o motivo real era político (conhecendo as pessoas já anteriormente esse parentesco, estou a falar de parentesco em 5 ou 6 grau). Durante estes séculos, vemos diversas mulheres que assumiram um papel importante: a mulher de Clóvis para a sua conversão, Fredegonda e Brunhilda na direcção dos respectivos reinos francos, tendo os maridos, filhos e netos na sombra, Amalasunth no reino Ostrogodo. Mas isso nada nos diz sobre as condições das mulheres comuns. A Igreja por um lado, tinha uma visão muito negativa da mulher (via-a como a encarnação de Eva, fonte de tentação e pecado, estando ainda longe dos tempos do culto Mariano e de tudo o que isso implicou), mas a estrita ortodoxia nunca lhe negou a existência da alma, ou a possibilidade de salvação juntamente com o homem. E embora desvalorizando o sexo e negando-lhe valor por sí (servia unicamente para a baixa tarefa da reprodução e nunca para ter prazer), legitimou o sexo dentro do contexto do casamento (contra certas tendências que o pretendiam ver como pecado em qualquer ocasião). Mas como já disse, toda essa visão da mulher afectava unicamente os teólogos, dado que o resto da humanidade continuava a viver a sua vida tranquila (e a bem dizer, boa parte do resto do clero também).

2 comentários:

Anónimo disse...

é legal que você coloque no final onde você conseguiu essas ideias. seu trabalho ira ter mais credibilidade.

Anónimo disse...

é legal que você coloque no final onde você conseguiu essas ideias. seu trabalho ira ter mais credibilidade.