segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Alcibiades




Acabei de ler este fim-de-semana a guerra do Peloponeso de Tucidides. Portanto decidi escrever sobre a personagem que domina o final da obra (a bem dizer, a segunda metade), Alcibíades.
Nascido por volta de 450 AC, era parente de Péricles, o que significa que pertencia a uma das mais ricas nobres e influentes famílias atenienses. Teve os melhores mestres da época, e foi mesmo discípulo de Sócrates (aparecendo mesmo nalguns diálogos de Platão). Bem parecido, rico, inteligente, culto, bom conversador tinha tudo para agradar; o problema é que era vaidoso, cínico, e muito, muito ambicioso; enquanto que o seu ilustre parente fora o primeiro homem da cidade, mas respeitara sempre a democracia e servia a cidade, Alcibíades pretendia (pelo menos assim foi apresentado) apenas o poder e as honrarias. Participou na guerra do Peloponeso, e depois de alguns combates, conseguiu convencer os seus concidadãos a romper a trégua assinada (421 AC) com os espartanos. Tendo entrado a princípio no partido aristocrático, como este o olhara com desconfiança, acabou por virar-se para o partido popular favorável à guerra (que o poderia dar a glória que pretendia). Conseguiu que fosse aprovada uma expedição contra Siracusa na Sicília, que forneceria dinheiro, homens e matérias-primas que dariam a vantagem definitiva contra Esparta. Mas então a sua sorte mudou. Foi acusado de várias blasfémias (a mutilação das estátuas de Hermes, a profanação dos mistérios de Eleusis, de que ainda hoje se discute se ele foi de facto culpado), e depois de uma série de peripécias teve de fugir. A expedição terminou num desastre, perdendo-se mais de 20.000, uma centena de barcos e muito dinheiro; expedição fora de facto decisiva, mas não como planeado. Refugiou-se junto dos espartanos e deu-lhes vários conselhos contra a sua pátria, que foram muito úteis (nomeadamente, a escolha do comandante que esmagaria os atenienses na sicília). Mas acabou por ter de fugir (por uma questão de amores com a mulher de um dos reis de Esparta (eram sempre 2) para a corte de um dos satrápas persas, que dominava a costa asiática. Convenceu este que em vez de apoiar os espartanos como fizera até então, devia manter um equilíbrio entre os dois adversários para se enfraquecerem e deixarem a Pérsia em paz. Entretanto, entrara em negociações com Atenas, e exigiu para o seu regresso (prometendo o apoio da Pérsia para esmagar Esparta), que fosse abolido o regime democrático e nomeado uma oligarquia. Atenas resignou-se mas a oligarquia não o chamou de volta. A frota de Atenas em Samos revoltou-se e considerou-se a única representante legal de Atenas seguindo a democracia (o resto das forças atenienses fieis à cidade foram esmagadas). Alcibiades conseguiu convencer as forças em Samos a reconhece-lo como chefe democrático, e venceu os espartanos em vários reencontros e reconquistando territórios; a oligarquia caiu. Voltou e foi recebido triunfalmente em Atenas (407). Mas no ano seguinte vários dos seus lugares-tenentes foram derrotados e acabou por se retirar. Tentou ir para a Pérsia para convencer o grande rei a atacar Esparta, mas um dos satrápas a comando dos espartanos mandou assassina-lo. Era um final algo inglório mas de certo modo apropriado para quem levara uma vida tão movimentada.

1 comentário:

Anónimo disse...

Como conseguiste arranjar a Guerra do Peloponeso de Tucidides? Estou a ter dificuldade... obrigada