sexta-feira, dezembro 19, 2003

Madame de Pompadour-III

Mas como estava a dizer, a pobre Pompadour foi considerada responsável por estas derrotas: o que era uma guerra vital para a França era visto como um capricho de mulher que queria exibir-se. O facto de serem amigos seus os responsáveis pela condução da política só piorava as coisas (em Inglaterra, como o regime era parlamentar e eleito- mesmo que fossem umas eleições muito estranhas com os “burgos podres”, -existia uma maior legitimidade a toda a política do governo).
Os serões que organizava para distrair o rei eram (relativamente) simples: pouco mais que uma dezena de amigos íntimos do rei e da marquesa, e um punhado de pessoas que conseguia com enormes intrigas ser admitido a esses serões para mostrar o favor régio. Ceava-se à lareira com mínimo cerimonial e etiqueta (por vezes o próprio rei servia um convidado e via-se duques de pé perante nobres plebeus), num ambiente (relativamente) descontraído, lia-se, cantava-se. Chegou-se mesmo a representar peças de teatro numa parte do palácio que foi alterado para o efeito, (e aí as disputas eram terríveis para se ser admitido na companhia ou num determinado papel). Esse teatro acabou por ser interrompido pelo rei por ficar muito caro (guarda-roupas, cenários, etc.) e pelas intrigas que eram criadas. Tudo isso era feito, depois das cerimónias normais da corte de modo que se prolongava pela noite dentro.
A família real auto-excluía-se deste círculo para mostrar a sua desaprovação para com a favorita, e nem sequer reconhecia a sua existência, mas acabaram por algum modo por transigir dado ela ter feito tudo para lhes agradar (pagava dívidas à rainha, arranjava cargos para os seus amigos) e afinal as anteriores favoritas tinham sido bem mais antipáticas.
Amiga de Voltaire e do círculo de filósofos, favoreceu a princípio os enciclopedistas. Mais tarde, com as suas responsabilidades políticas acrescidas e afastou-se desse grupo (sem nunca romper abertamente com eles), mas o partido devoto nunca lhe perdoou (que já a detestava pela função que ocupava), e acusou-a de ser em parte responsável pela expulsão dos Jesuítas.
Morreu com 43 anos, tuberculosa, em 1764 (já tinha deixado a função de Favorita por uma década, por não ter saúde nem beleza e dedicou-se a ajudar o real amante na governação- isso faz-nos pensar sobre quais os trabalhos mais difíceis).
Já agora, como não vou ter acesso a computador para a semana que vem, venho desejar a todos os leitores do Tempore um Feliz Natal!

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