terça-feira, dezembro 16, 2003

Madame de Pompadour-II

Tendo recebido uma excelente educação num colégio religioso, tinha uma cultura que lhe permitiu tornar-se uma mecena das artes ao patrocinar imensos artistas (Boucher): o estilo Luís XV, é em grande parte fruto do seu próprio gosto (a arte rocócó). Ora a sua carreira mostra os pontos fortes do regime absoluto e as suas tremendas limitações. Vinda de um estrato social inferior, conseguiu galgar as escadas do poder; estando a sua beleza e saúde a fenecer (a partir dos 30), a sua situação ficaria comprometida. Conseguiu no entanto (mudando é certo as suas funções), manter o seu poder. Como já tinha referido ela era inteligente e culta e deste modo procurou alegrar e manter o rei bem disposto, depois dos seus afazeres na corte e governo, e para a substituir no leito real, escolhia jovens bonitas mas que cujo intelecto limitado não lhe fizesse sombra. Arranjou uma mini-corte que passava os serões com o rei e que servia para o distrair. E começou a dedicar-se à política e a colocar amigos no poder. Por vezes com bons resultados: o duque de Choiseul, um competente governante era seu amigo. Mas a opinião pública ficava irritada por ver uma amante dedicar-se à grande política. Foi acusada de ser a responsável pela inversão das alianças tradicionais, ao aliar-se ao inimigo de sempre a Áustria (ou Sacro-Império Romano-Germánico pela designação correcta, e não a Inglaterra como muitas vezes se pensa) e entrar em guerra com a Prússia de Frederico o Grande. Se assim foi, tinha maior perspicácia do que se julga: esta era a verdadeira ameaça, com o seu regime militarista e vontade de expansão, e não o Sacro-Império. A guerra que se travou e que ficou conhecida como guerra dos 7 anos foi um desastre para a França: disputava-se “apenas” o domínio da América do Norte (e Canadá), Índia e outras possessões (entrepostos em Africa, Ásia, etc.) com a Inglaterra, ao mesmo tempo que se combatia com a Prússia no continente europeu. Ora enquanto a burguesia inglesa apostava tudo neste conflito, a nobreza da corte francesa não tinha grande interesse em fazer sacrifícios pelas possessões que nada lhe rendiam directamente (nem sequer glória, pois os postos de comando não valiam o sacrifício da travessia). A própria capacidade de mobilização de recursos era diferente: embora a França fosse mais rica em habitantes e recursos naturais, a Inglaterra tinha melhor capacidade de mobilização e de produção. A nobreza francesa dependia dos rendimentos de propriedades agrícolas (de que eram normalmente abstencionistas), e de dádivas do rei gastando tudo nas despesas de representação da corte, uma vez que esta era a melhor garantia de manter a sua posição social (mantendo o favor do rei), mas não reinvestindo no país (excepto com os artesãos que se dedicavam à manufactura de produtos de luxo); na Inglaterra, os grupos dominantes dedicavam-se conforme os casos à agricultura, comércio e indústria produzindo riquezas (ou indo à bancarrota se as coisas corressem mal, sem um rei que lhes pagasse as dívidas), e investindo produzindo mais riqueza.

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