Recebi este natal, o livro “Heike Monogatari” (ou a epopeia dos Heike, traduzido de forma muito aproximada). Já tinha abordado o conflito dos Taira e Minamoto por isso vou concentrar-me mais no poema em si e na visão do mundo que ele nos dá.
Ao longo do séc. XIII foram surgindo poemas sobre o assunto: a ascensão e queda de uma família que detivera tanto poder era um tema bem apetecível. Artistas itinerantes cantavam e declamavam, espalhando-se as estórias. Foi-se criando um verdadeiro ciclo, até que no séc. XIV foi compilado uma versão do que seria considerada a versão canónica do tema (um pouco como sucedeu com as lendas arturianas), embora numerosos episódios fossem deixados à margem. Formaram-se duas escolas de interpretação do tema em mosteiros (uma delas sobreviveu até aos nossos dias), sendo os intérpretes normalmente cegos. A forma de interpretar era a seguinte: era tocado um tema com o Biwa (instrumento vagamente semelhante ao alaúde) e depois cantava os versos apropriados. Tenho um cd e para ser franco não gosto na sonoridade que me parece demasiado estilizada (mesmo em relação ao Kabuki e ao Noh, que aliás o suplantaram no gosto dos públicos respectivamente popular e aristocrático). Ainda no princípio do séc. XX o Imperador Meiji gostava de ouvir esse repertório.
segunda-feira, dezembro 29, 2003
sábado, dezembro 20, 2003
A Galiza Celta
Temos conhecimento dos celtas através dos seus adversários: os gregos (Heródoto e Estrabão) e sobretudo pelos romanos (Avieno, Mela), todos eles membros da mesma cultura mediterrânica, que depreciava outras formas devida que não a que os rodeavam, chamando-lhe barbarum (literalmente, "que não fala", "que balbuceia"). Rechaçavam, portanto, uma cultura procedente das margens do Mar Cáspio e montanhas do Cáucaso, que se instalou primeiro na Europa Central, sendo posteriormente empurrada pelas tribos germânicas para a orla da costa atlântica: Bretanha, Ilhas Britânicas, Gália e Ibéria (costa Cantábrica e Galiza), por volta do ano 600 a. C.
Os celtas careciam de chefes e de um poder central, sendo o conceito de Estado desconhecido para eles. Na verdade, o mundo celta estava dividido numa miríade de pequenos grupos de dez a quarenta famílias unidas por laços de parentesco e independentes umas das outras. Residiam em povoamentos fortificados a que os arqueólogos chamam Citânias e a tradição popular galega Castros e Cróas. Eram recintos de forma circular ou oval, rodeados de parapeitos concêntricos, terraplanados ou muralhas de terra ou pedra, geralemnte construídas no alto de montes de difícil acesso e bem protegidos. A sua construção formava uma espirar desde o solo até ao cume, dando voltas ao redor da colina onde se encontravam, terminando numa plataforma circular. Desde as suas atalaias controlavam as culturas, os rebanhos, as explorações mineiras, e davam o alarme em caso de serem atacados. Estes pequenos povoados salpicavam todo o território ( só na Galiza foram contabilizados 3.000 castros), e de tempos a tempos guerreavam entre si, se bem que não entendiam a guerra como uma conquista, mas sim uma incursão em busca de saque: ataques rápidos, apanhar o que podia (na maioria cabeças de gado) e regressar ao povoamento antes do adversário reagir.
Para além da Agricultura e da Pecuária, conheciam os rudimentos da Metalurgia, formando armas de ferro que os ajudaram a impor-se sobre os seus vizinhos. Também levantaram monumentos de pedra, com fins religiosos e/ou funerários: os Dólmens (chamados na Galiza Arquetas), os Túmulos (Mamoas) e os Menires (Pedras Fitas).
Eram grandes comerciantes e fabricavam embarcações com peles, com as quais se aventuravam para longe da cosnta.
As práticas religiosas eram levadas a cabo pelos Druídas (Sacerdotes, Juízes, Profetas, Astrónomos, Astrólogos, Médicos, Filósofos, Políticos...), não sendo em vão que o seu nome signifique Homens Sábios ou Mestres de Sabedoria ( os entendidos não chegam a acordo na tradução exacta de Druída. Pessoas com mais poder que os chefes de clã, que não podiam falar na sua presença e que deviam consultá-los antes de tomar uma decisão.
Certos aspectos da cultura celta faziam-nos particularemnte ingratos aos olhos dos seus "civilizados" vizinhos do sul: realizavam sacrifícios humanos aos seus deuses, cortavam a cabeça dos seus inimigos, e combatiam trajando somente os seus torques e seus longos cabelos, preferindo a morte à derrota. Deles dirá Estrabão com desprezo, que tinham "...insensibilidade animal".
Consideravam uma honra morrer no campo de batalha, e os corpos dos caídos eram deixados no campo de batalha como alimento para os animais necrófagos, especialmente as aves, que levarám a sua alma para o Paraíso...
Os celtas careciam de chefes e de um poder central, sendo o conceito de Estado desconhecido para eles. Na verdade, o mundo celta estava dividido numa miríade de pequenos grupos de dez a quarenta famílias unidas por laços de parentesco e independentes umas das outras. Residiam em povoamentos fortificados a que os arqueólogos chamam Citânias e a tradição popular galega Castros e Cróas. Eram recintos de forma circular ou oval, rodeados de parapeitos concêntricos, terraplanados ou muralhas de terra ou pedra, geralemnte construídas no alto de montes de difícil acesso e bem protegidos. A sua construção formava uma espirar desde o solo até ao cume, dando voltas ao redor da colina onde se encontravam, terminando numa plataforma circular. Desde as suas atalaias controlavam as culturas, os rebanhos, as explorações mineiras, e davam o alarme em caso de serem atacados. Estes pequenos povoados salpicavam todo o território ( só na Galiza foram contabilizados 3.000 castros), e de tempos a tempos guerreavam entre si, se bem que não entendiam a guerra como uma conquista, mas sim uma incursão em busca de saque: ataques rápidos, apanhar o que podia (na maioria cabeças de gado) e regressar ao povoamento antes do adversário reagir.
Para além da Agricultura e da Pecuária, conheciam os rudimentos da Metalurgia, formando armas de ferro que os ajudaram a impor-se sobre os seus vizinhos. Também levantaram monumentos de pedra, com fins religiosos e/ou funerários: os Dólmens (chamados na Galiza Arquetas), os Túmulos (Mamoas) e os Menires (Pedras Fitas).
Eram grandes comerciantes e fabricavam embarcações com peles, com as quais se aventuravam para longe da cosnta.
As práticas religiosas eram levadas a cabo pelos Druídas (Sacerdotes, Juízes, Profetas, Astrónomos, Astrólogos, Médicos, Filósofos, Políticos...), não sendo em vão que o seu nome signifique Homens Sábios ou Mestres de Sabedoria ( os entendidos não chegam a acordo na tradução exacta de Druída. Pessoas com mais poder que os chefes de clã, que não podiam falar na sua presença e que deviam consultá-los antes de tomar uma decisão.
Certos aspectos da cultura celta faziam-nos particularemnte ingratos aos olhos dos seus "civilizados" vizinhos do sul: realizavam sacrifícios humanos aos seus deuses, cortavam a cabeça dos seus inimigos, e combatiam trajando somente os seus torques e seus longos cabelos, preferindo a morte à derrota. Deles dirá Estrabão com desprezo, que tinham "...insensibilidade animal".
Consideravam uma honra morrer no campo de batalha, e os corpos dos caídos eram deixados no campo de batalha como alimento para os animais necrófagos, especialmente as aves, que levarám a sua alma para o Paraíso...
sexta-feira, dezembro 19, 2003
Madame de Pompadour-III
Mas como estava a dizer, a pobre Pompadour foi considerada responsável por estas derrotas: o que era uma guerra vital para a França era visto como um capricho de mulher que queria exibir-se. O facto de serem amigos seus os responsáveis pela condução da política só piorava as coisas (em Inglaterra, como o regime era parlamentar e eleito- mesmo que fossem umas eleições muito estranhas com os “burgos podres”, -existia uma maior legitimidade a toda a política do governo).
Os serões que organizava para distrair o rei eram (relativamente) simples: pouco mais que uma dezena de amigos íntimos do rei e da marquesa, e um punhado de pessoas que conseguia com enormes intrigas ser admitido a esses serões para mostrar o favor régio. Ceava-se à lareira com mínimo cerimonial e etiqueta (por vezes o próprio rei servia um convidado e via-se duques de pé perante nobres plebeus), num ambiente (relativamente) descontraído, lia-se, cantava-se. Chegou-se mesmo a representar peças de teatro numa parte do palácio que foi alterado para o efeito, (e aí as disputas eram terríveis para se ser admitido na companhia ou num determinado papel). Esse teatro acabou por ser interrompido pelo rei por ficar muito caro (guarda-roupas, cenários, etc.) e pelas intrigas que eram criadas. Tudo isso era feito, depois das cerimónias normais da corte de modo que se prolongava pela noite dentro.
A família real auto-excluía-se deste círculo para mostrar a sua desaprovação para com a favorita, e nem sequer reconhecia a sua existência, mas acabaram por algum modo por transigir dado ela ter feito tudo para lhes agradar (pagava dívidas à rainha, arranjava cargos para os seus amigos) e afinal as anteriores favoritas tinham sido bem mais antipáticas.
Amiga de Voltaire e do círculo de filósofos, favoreceu a princípio os enciclopedistas. Mais tarde, com as suas responsabilidades políticas acrescidas e afastou-se desse grupo (sem nunca romper abertamente com eles), mas o partido devoto nunca lhe perdoou (que já a detestava pela função que ocupava), e acusou-a de ser em parte responsável pela expulsão dos Jesuítas.
Morreu com 43 anos, tuberculosa, em 1764 (já tinha deixado a função de Favorita por uma década, por não ter saúde nem beleza e dedicou-se a ajudar o real amante na governação- isso faz-nos pensar sobre quais os trabalhos mais difíceis).
Já agora, como não vou ter acesso a computador para a semana que vem, venho desejar a todos os leitores do Tempore um Feliz Natal!
Os serões que organizava para distrair o rei eram (relativamente) simples: pouco mais que uma dezena de amigos íntimos do rei e da marquesa, e um punhado de pessoas que conseguia com enormes intrigas ser admitido a esses serões para mostrar o favor régio. Ceava-se à lareira com mínimo cerimonial e etiqueta (por vezes o próprio rei servia um convidado e via-se duques de pé perante nobres plebeus), num ambiente (relativamente) descontraído, lia-se, cantava-se. Chegou-se mesmo a representar peças de teatro numa parte do palácio que foi alterado para o efeito, (e aí as disputas eram terríveis para se ser admitido na companhia ou num determinado papel). Esse teatro acabou por ser interrompido pelo rei por ficar muito caro (guarda-roupas, cenários, etc.) e pelas intrigas que eram criadas. Tudo isso era feito, depois das cerimónias normais da corte de modo que se prolongava pela noite dentro.
A família real auto-excluía-se deste círculo para mostrar a sua desaprovação para com a favorita, e nem sequer reconhecia a sua existência, mas acabaram por algum modo por transigir dado ela ter feito tudo para lhes agradar (pagava dívidas à rainha, arranjava cargos para os seus amigos) e afinal as anteriores favoritas tinham sido bem mais antipáticas.
Amiga de Voltaire e do círculo de filósofos, favoreceu a princípio os enciclopedistas. Mais tarde, com as suas responsabilidades políticas acrescidas e afastou-se desse grupo (sem nunca romper abertamente com eles), mas o partido devoto nunca lhe perdoou (que já a detestava pela função que ocupava), e acusou-a de ser em parte responsável pela expulsão dos Jesuítas.
Morreu com 43 anos, tuberculosa, em 1764 (já tinha deixado a função de Favorita por uma década, por não ter saúde nem beleza e dedicou-se a ajudar o real amante na governação- isso faz-nos pensar sobre quais os trabalhos mais difíceis).
Já agora, como não vou ter acesso a computador para a semana que vem, venho desejar a todos os leitores do Tempore um Feliz Natal!
terça-feira, dezembro 16, 2003
Madame de Pompadour-II
Tendo recebido uma excelente educação num colégio religioso, tinha uma cultura que lhe permitiu tornar-se uma mecena das artes ao patrocinar imensos artistas (Boucher): o estilo Luís XV, é em grande parte fruto do seu próprio gosto (a arte rocócó). Ora a sua carreira mostra os pontos fortes do regime absoluto e as suas tremendas limitações. Vinda de um estrato social inferior, conseguiu galgar as escadas do poder; estando a sua beleza e saúde a fenecer (a partir dos 30), a sua situação ficaria comprometida. Conseguiu no entanto (mudando é certo as suas funções), manter o seu poder. Como já tinha referido ela era inteligente e culta e deste modo procurou alegrar e manter o rei bem disposto, depois dos seus afazeres na corte e governo, e para a substituir no leito real, escolhia jovens bonitas mas que cujo intelecto limitado não lhe fizesse sombra. Arranjou uma mini-corte que passava os serões com o rei e que servia para o distrair. E começou a dedicar-se à política e a colocar amigos no poder. Por vezes com bons resultados: o duque de Choiseul, um competente governante era seu amigo. Mas a opinião pública ficava irritada por ver uma amante dedicar-se à grande política. Foi acusada de ser a responsável pela inversão das alianças tradicionais, ao aliar-se ao inimigo de sempre a Áustria (ou Sacro-Império Romano-Germánico pela designação correcta, e não a Inglaterra como muitas vezes se pensa) e entrar em guerra com a Prússia de Frederico o Grande. Se assim foi, tinha maior perspicácia do que se julga: esta era a verdadeira ameaça, com o seu regime militarista e vontade de expansão, e não o Sacro-Império. A guerra que se travou e que ficou conhecida como guerra dos 7 anos foi um desastre para a França: disputava-se “apenas” o domínio da América do Norte (e Canadá), Índia e outras possessões (entrepostos em Africa, Ásia, etc.) com a Inglaterra, ao mesmo tempo que se combatia com a Prússia no continente europeu. Ora enquanto a burguesia inglesa apostava tudo neste conflito, a nobreza da corte francesa não tinha grande interesse em fazer sacrifícios pelas possessões que nada lhe rendiam directamente (nem sequer glória, pois os postos de comando não valiam o sacrifício da travessia). A própria capacidade de mobilização de recursos era diferente: embora a França fosse mais rica em habitantes e recursos naturais, a Inglaterra tinha melhor capacidade de mobilização e de produção. A nobreza francesa dependia dos rendimentos de propriedades agrícolas (de que eram normalmente abstencionistas), e de dádivas do rei gastando tudo nas despesas de representação da corte, uma vez que esta era a melhor garantia de manter a sua posição social (mantendo o favor do rei), mas não reinvestindo no país (excepto com os artesãos que se dedicavam à manufactura de produtos de luxo); na Inglaterra, os grupos dominantes dedicavam-se conforme os casos à agricultura, comércio e indústria produzindo riquezas (ou indo à bancarrota se as coisas corressem mal, sem um rei que lhes pagasse as dívidas), e investindo produzindo mais riqueza.
segunda-feira, dezembro 15, 2003
Madame de Pompadour-I
O rei Luís XV teve a sorte de ter sempre gente a governar por ele. Bisneto de Luís XIV, sucedeu-lhe em 1715, mas sendo uma criança (5 anos de idade), a regência coube a Filipe, duque de Orleães, um devasso notório que passava boa parte do tempo em orgias; de qualquer modo tentou estabilizar as finanças que estavam um caos após as guerras do rei sol (nem sempre correndo bem, como no escândalo de Law, uma especulação que correu mal), levou uma política pacífica, abrandou o absolutismo e abriu de algum modo o regime ao devolver poderes ao parlamento. O cardeal Fleury foi mais bem sucedido, e com medidas de austeridade (e mantendo um bom entendimento com os outros países), levou a França à prosperidade. Com a sua morte (1743), o rei teve de começar a governar sozinho. Dedicou-se o que pôde, e para enganar o tédio da vida da corte de Versailles, participava em caçadas e arranjou amantes. Uma delas, Poisson, era de origem burguesa, o que provocou escândalo, dado que as favoritas eram sempre escolhidas dentro da alta aristocracia. Conseguiu cativar as boas graças do rei (tinha ela uns 24 anos), e recebeu o título de Marquesa de Pompadour (e uma série de propriedades, jóias, etc.), nome pelo qual ficou célebre na história.
sexta-feira, dezembro 12, 2003
HNN
Aproveitando a deixa do Parca, vou também recomendar uma página de Internet que me parece de consulta absolutamente obrigatória para quem se interessa por História. Trata-se da History News Network da George Mason University. Tal como o nome indica, é um portal de notícias sobre temática histórica, onde se recolhem artigos, polémicas, discussões sobre todos os temas possíveis e imagináveis. Quem quer saber o que a comunicação social (principalmente anglo-saxónica, mas também de outros países) diz sobre assuntos históricos, aqui é o lugar certo para procurar. Além disso também publica artigos próprios, onde, por exemplo, se corrigem erros historiográficos recorrentes. É um verdadeiro ponto de encontro entre História, Jornalismo, Política e Opinião Pública.
Kendo
Comecei recentemente a praticar kendo e por isso vou fazer um pequeno post sobre o assunto (o kendo, não sobre a minha experiência).
O Japão ao contrário da Europa no período medieval, desenvolveu verdadeiras escolas de treino no combate à espada (embora os cavaleiros medievais europeus fossem treinados desde a infância, isso era feito de forma informal em casa ou pelo tutor), com filosofias e técnicas distintas, que atraíam estudantes aos melhores mestres. O treino era feito com espadas de madeira, antes de se pegar em espadas. Mas mesmo um golpe de uma espada de madeira além de extremamente doloroso, podia provocar ferimentos razoavelmente graves (crânio e ossos partidos, etc). Com a pacificação do período Tokugawa, procurou-se elaborar um treino geral e comum, e começou-se a utilizar espadas feitas de bambu com armaduras parciais que garantiam um risco quase nulo de ferimentos.
Como técnica de combate procura desferir um golpe o mais depressa possível de modo a incapacitar o adversário, logo, aposta no ataque (compreendem assim melhor aquelas coreografias dos filmes de samurai, em que um combatente por ser mais rápido a mexer-se vence inúmeros adversários?). Não se preocupa assim em defender (ao contrário da esgrima), pois um adversário com os intestinos abertos (no caso de um duelo a sério) não dá mais problemas. Se os combates devido à técnica utilizada são curtos, a extrema exigência em termos físicos, também facilita a sua curta duração.
O Japão ao contrário da Europa no período medieval, desenvolveu verdadeiras escolas de treino no combate à espada (embora os cavaleiros medievais europeus fossem treinados desde a infância, isso era feito de forma informal em casa ou pelo tutor), com filosofias e técnicas distintas, que atraíam estudantes aos melhores mestres. O treino era feito com espadas de madeira, antes de se pegar em espadas. Mas mesmo um golpe de uma espada de madeira além de extremamente doloroso, podia provocar ferimentos razoavelmente graves (crânio e ossos partidos, etc). Com a pacificação do período Tokugawa, procurou-se elaborar um treino geral e comum, e começou-se a utilizar espadas feitas de bambu com armaduras parciais que garantiam um risco quase nulo de ferimentos.
Como técnica de combate procura desferir um golpe o mais depressa possível de modo a incapacitar o adversário, logo, aposta no ataque (compreendem assim melhor aquelas coreografias dos filmes de samurai, em que um combatente por ser mais rápido a mexer-se vence inúmeros adversários?). Não se preocupa assim em defender (ao contrário da esgrima), pois um adversário com os intestinos abertos (no caso de um duelo a sério) não dá mais problemas. Se os combates devido à técnica utilizada são curtos, a extrema exigência em termos físicos, também facilita a sua curta duração.
quinta-feira, dezembro 11, 2003
Links
Este site contém numerosas fontes primárias na área de História Medieval, abarcando temas como a literatura, legislação, historiografia, teologia. Como exemplos: contém os decretos do concílio de Niceia (de que já falei num post), o épico os nibelungos, a história da decadência e queda do império romano de Gibbons (pronto, este não é uma fonte primária, mas é um clássico na mesma), os textos de Boécio, o manual do inquisidor de Bernardo Gui (o inquisidor do nome da rosa). Haja tempo de vida suficiente para se ler tudo, e ninguém tem desculpa para dizer que não pode ler essas obras porque são caras, não existem na sua biblioteca, estão esgotadas ou coisa do género. E que saiba ler inglês e latim.
terça-feira, dezembro 09, 2003
Agradecimentos
Queria agradecer a simpatia com que acolheram este último post e indicar um site nacional de pintura que me parece muito bom, cortesia de RP; de facto a imagem portuguesa que indiquei no post sobre iluminuras podia ser bonita, mas era apenas uma.
sexta-feira, dezembro 05, 2003
Iluminuras
Hoje decidi fazer alguma "propaganda" a um site porque acho que merece pela qualidade das imagens.
Contém algumas das fantásticas iluminuras do livro “Les três riches heures du Duc de Berry”. Para os que tem preguiça de ler em inglês, são iluminuras de um livro de horas (livro que continha as orações segundo as horas canónicas (vésperas, matinas, etc), acrescido de orações para certos dias santos especiais e para as missas). O patrono da obra foi o duque de Berry: politicamente era moderadamente incompetente, mas foi sempre um defensor da causa francesa contra os borguinhões e ingleses (com o resultado na batalha de Azincourt em 1415).
As imagens deste site mostram o quotidiano dos camponeses segundo as estações do ano; outras descrevem festas, banquetes e caçadas dos senhores. Característica do gótico tardio é a imensa riqueza de pormenores (alguns artistas chegariam ao ponto de saturar a imagem, a ponto de não se perceber qual o tema em questão- esta seria uma das criticas de Miguel Ângelo). As cores também são outra das maravilhas desta forma de arte: muito azul e uma variedade que não deixa de surpreender. Embora as leis da perspectiva não fossem conhecidas matematicamente, eram de algum modo intuídas. Lembremo-nos que o renascimento em Itália estava a dar os primeiros passos, mas o gótico estava a fechar com chave de ouro.
Mas para mostrar que cá dentro também se faziam coisas de excelente qualidade, aqui vai um link com uma imagem do apocalipse de Lorvão (depositado na Torre do Tombo).
É um manuscrito de finais do século XII, sobre o comentário ao apocalipse da autoria de Beato de Liebana (séc. VIII). O desenho para o olho não habituado pode aparecer algo tosco, mas como se pode observar as cores são muito mais quentes (para quem se recorda do livro “O nome da Rosa”, é feita essa referência dos apocalipse da península serem os melhores), e esta pequena amostra lusitana confirma-o plenamente (já agora, não posso deixar de agradecer à Patrícia por me ter ensinado como se colocam estes links que tanta dor de cabeça me deram, na ausência do meu conselheiro habitual que está de férias).
Contém algumas das fantásticas iluminuras do livro “Les três riches heures du Duc de Berry”. Para os que tem preguiça de ler em inglês, são iluminuras de um livro de horas (livro que continha as orações segundo as horas canónicas (vésperas, matinas, etc), acrescido de orações para certos dias santos especiais e para as missas). O patrono da obra foi o duque de Berry: politicamente era moderadamente incompetente, mas foi sempre um defensor da causa francesa contra os borguinhões e ingleses (com o resultado na batalha de Azincourt em 1415).
As imagens deste site mostram o quotidiano dos camponeses segundo as estações do ano; outras descrevem festas, banquetes e caçadas dos senhores. Característica do gótico tardio é a imensa riqueza de pormenores (alguns artistas chegariam ao ponto de saturar a imagem, a ponto de não se perceber qual o tema em questão- esta seria uma das criticas de Miguel Ângelo). As cores também são outra das maravilhas desta forma de arte: muito azul e uma variedade que não deixa de surpreender. Embora as leis da perspectiva não fossem conhecidas matematicamente, eram de algum modo intuídas. Lembremo-nos que o renascimento em Itália estava a dar os primeiros passos, mas o gótico estava a fechar com chave de ouro.
Mas para mostrar que cá dentro também se faziam coisas de excelente qualidade, aqui vai um link com uma imagem do apocalipse de Lorvão (depositado na Torre do Tombo).
É um manuscrito de finais do século XII, sobre o comentário ao apocalipse da autoria de Beato de Liebana (séc. VIII). O desenho para o olho não habituado pode aparecer algo tosco, mas como se pode observar as cores são muito mais quentes (para quem se recorda do livro “O nome da Rosa”, é feita essa referência dos apocalipse da península serem os melhores), e esta pequena amostra lusitana confirma-o plenamente (já agora, não posso deixar de agradecer à Patrícia por me ter ensinado como se colocam estes links que tanta dor de cabeça me deram, na ausência do meu conselheiro habitual que está de férias).
quarta-feira, dezembro 03, 2003
Questões rápidas...
Hoje vou fazer um pequeno teste de conhecimentos. Sabem o que significa Jihaad? Acham que é Guerra Santa? Resposta errada. Significa esforçar-se (ou esforço, ou algo do género). A jihaad é o esforço que cada muçulmano deve fazer dentro de si.
E Intifada? Acham que é guerra das pedras? Lamento mas erraram novamente: significa reagir bem (segundo me asseguraram, é uma expressão muito usada no futebol quando uma equipa está a perder na 1ª parte e depois consegue recuperar na segunda).
Faz-nos pensar sobre o quanto o ocidente percebe do mundo muçulmano. E lembrem-se aqueles que acham que percebem ao menos da história do ocidente, que se acham que um cruzado é um tipo de armadura que vai matar infiéis numa cruzada, estão novamente enganados: o termo aplicava-se aos peregrinos que iam a Jerusalém e que levavam uma cruz bordada ao peito.
E Intifada? Acham que é guerra das pedras? Lamento mas erraram novamente: significa reagir bem (segundo me asseguraram, é uma expressão muito usada no futebol quando uma equipa está a perder na 1ª parte e depois consegue recuperar na segunda).
Faz-nos pensar sobre o quanto o ocidente percebe do mundo muçulmano. E lembrem-se aqueles que acham que percebem ao menos da história do ocidente, que se acham que um cruzado é um tipo de armadura que vai matar infiéis numa cruzada, estão novamente enganados: o termo aplicava-se aos peregrinos que iam a Jerusalém e que levavam uma cruz bordada ao peito.
segunda-feira, dezembro 01, 2003
A Caaba
Aproveitando o recente findar da festa do Ramadão, aqui lanço umas pistas sobre o Santuário da Cidade Santa Muçulmana que é Meca: A (Al-)Kaaba, que contém nela a Pedra Negra, um meteorito semelhante a um bétilo.
A palavra etimologicamente designa o que é quadrado, mas também os seios de uma virgem, e foi relacionada ao nome da deusa Kaabou, dado poe Santo Epifânio à deusa virgem, mãe de Dusares. Essa estrutura quadrada, na qual foi integrada a Pedra Negra no tempo de Maomé, abrigaria um bétilo, simbolo da deusa-mãe. Durante a época pré-islâmica o santuário foi contornado pela muralha sagrada (Hâram) e estava coberto por um tecido que foi queimado na juventude de Maomé, antes de ter iniciado a sua missão religiosa. Não sendo possível qualquer qualquer escavação no local, é difícil determinar a época da fundação do santuário, apesar das várias propostas. A sua construção deve ter-se iniciado pelo início da nossa era, embora o culto da Pedra Negra seja muito anterior. Segundo as tradições muçulmanas, influenciadas pelos textos bíblicos, situam neste santuário o sacrifício do filho de Abraão , e que lhe atribui a sua construção. A sua origem nabateia é possível, embora não tenha sido demonstrada. O santuário está ligado à fundação de Meca, em redor de um ponto de água, importantíssima na região desértica que medeia as regiões do Sul, produtoras de incenso, e a actual Jordânia, aonde chegavam as caravanas. O nome dessa nascente, Zamzam, foi ligado ao da divindade suméria Zababa. Seja como for, possuía um carácter sagrado que permitiu a fundação do santuário com o seu bétilo. Durante os séculos que precederam o islamismo, a Caaba tornou-se, certamente por questões económicas e em consequência da ascendente importância da família Quraychitas na Arábia, um lugar de peregrinação para numerosas tribos árabes. No seu Harâm estavam representadas todas as divindades da antiga Arábia e dos países vizinhos, trezentas e sessenta no total, quer sob a forma de bétilos ou de estátuas, quer pintadas. Assim, via-se aí uma representação de Jesus (Isa) e da virgem maria.
A palavra etimologicamente designa o que é quadrado, mas também os seios de uma virgem, e foi relacionada ao nome da deusa Kaabou, dado poe Santo Epifânio à deusa virgem, mãe de Dusares. Essa estrutura quadrada, na qual foi integrada a Pedra Negra no tempo de Maomé, abrigaria um bétilo, simbolo da deusa-mãe. Durante a época pré-islâmica o santuário foi contornado pela muralha sagrada (Hâram) e estava coberto por um tecido que foi queimado na juventude de Maomé, antes de ter iniciado a sua missão religiosa. Não sendo possível qualquer qualquer escavação no local, é difícil determinar a época da fundação do santuário, apesar das várias propostas. A sua construção deve ter-se iniciado pelo início da nossa era, embora o culto da Pedra Negra seja muito anterior. Segundo as tradições muçulmanas, influenciadas pelos textos bíblicos, situam neste santuário o sacrifício do filho de Abraão , e que lhe atribui a sua construção. A sua origem nabateia é possível, embora não tenha sido demonstrada. O santuário está ligado à fundação de Meca, em redor de um ponto de água, importantíssima na região desértica que medeia as regiões do Sul, produtoras de incenso, e a actual Jordânia, aonde chegavam as caravanas. O nome dessa nascente, Zamzam, foi ligado ao da divindade suméria Zababa. Seja como for, possuía um carácter sagrado que permitiu a fundação do santuário com o seu bétilo. Durante os séculos que precederam o islamismo, a Caaba tornou-se, certamente por questões económicas e em consequência da ascendente importância da família Quraychitas na Arábia, um lugar de peregrinação para numerosas tribos árabes. No seu Harâm estavam representadas todas as divindades da antiga Arábia e dos países vizinhos, trezentas e sessenta no total, quer sob a forma de bétilos ou de estátuas, quer pintadas. Assim, via-se aí uma representação de Jesus (Isa) e da virgem maria.
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