Quase toda a gente já ouviu falar dos samaritanos (nem que seja do “bom samaritano”). Quando Salomão morreu, o seu reino dividiu-se entre um reino a sul (Judá) e outro a norte (Israel). O do norte farto do que poderíamos chamar o centralismo de Judá e da sua capital Jerusalém, recusava até reconhecer esta cidade como cidade Santa. Os assírios entretanto apareceram, destruíram o seu reino e deportaram uma parte dos habitantes. Alguns colonos assírios foram aí estabelecidos, mas segundo os samaritanos seriam poucos e prontamente assimilados, sem contributos culturais ou religiosos; em compensação os Judeus pretenderam que os samaritanos seriam descendentes desses mesmo colonos, uma nova população com outros deuses que misturando-se acabariam por criar um povo mestiço e religião sincrética.
De qualquer modo, os samaritanos tinham um Templo próprio rival de Jerusalém (no monte Guerezim). Nos séculos seguintes, acabaram por ver a sua sorte ser muito variável: perseguidos pelos judeus, mal tolerados pelos romanos, quase exterminados pelos bizantinos, conseguiram sobreviver até ao século XX, reduzidos a menos de um milhar.
Não são considerados verdadeiros judeus pelos grupos de Judeus mais ortodoxos(e eles devolvem o cumprimento, considerando que eles é que são os verdadeiros seguidores da antiga religião). Para um leigo, são praticamente indistinguíveis: circuncidam-se, reverenciam a Torá, tem os mesmo mandamentos, e a maioria das crenças são as mesma. Mantém no entanto um sacerdócio hereditário (descendentes dos antigos sacerdotes do Velho Testamento), recusam todos os outros livros sagrados para os judeus (como o Talmud), ainda praticam os sacrifícios de animais; acabam por ser bastante arcaicos (o judaísmo é praticamente resultado das transformações dos rabinos depois da destruição do segundo Templo de Jerusalém).
segunda-feira, novembro 26, 2007
quarta-feira, setembro 19, 2007
Iron Hearts, Iron Hulls
Este livro trata da participação blindada italiana na guerra do norte de Africa. Ora o capítulo mais interessante é o primeiro que fala sobre a itália dos anos 20 e 30.
Sendo um país recente, não possuía colónias e quando tentou conquistar territórios só lhe restava zonas marginais. Quando rebentou a primeira guerra mundial, embora tivesse excelentes relações com a Alemanha, a sua rivalidade com o império austro-hungaro e as promessas dos aliados, fez a Itália balançar para este campo. Terminada a guerra, a Itália recebeu menos do que lhe foi prometido, além de estar numa situação de crise. O seu parque industrial era inferior às outras potências industriais europeias, não possuía combustíveis nem matérias-primas (carvão, petróleo, ferro), tendo de importar tudo.
O fascismo nos anos 20 esteve demasiado ocupado em adquirir o controle do país, para se lançar em expedições.
Entretanto, decidiram criar uma força blindada (que era vista como a arma do futuro) e foram construídos milhares de tanques ligeiros e extremamente ágeis.
Nos anos 30, com o aparecimento de outros regimes nacionalistas, a Itália pôde lançar-se em aventuras externas sem perigos de retaliação. Na Etiópia, e em Espanha utilizou os seus tanques como arma fulcral (apesar de algumas derrotas estrondosas acabaram por se sair bem) e do ponto de vista táctico acabaram por chegar às mesmas conclusões que os alemães: os tanques deviam ser utilizados em grandes formações e sempre apoiados por infantaria, artilharia e aviação, e nunca enviados isolados (como fariam os ingleses) ou mero suporte da infantaria (como os franceses); só assim conseguiriam os seus tanques extremamente ligeiros e rápidos (ideais no seu impérios colonial).Por outro lado, o seu novo império colonial era composto por territórios atrasados, que não lhe davam riquezas e ainda exigiam despesas (que para a construção de infra-estruturas, quer de tropas de defesa).
Entretanto, os italianos aperceberam-se que os seus tanques apesar de bons para os seus domínios coloniais (por serem muito rápidos e deslocarem-se em grandes distâncias) como o Fiat L3 e L11, contra outros europeus estavam a ficar ultrapassados e decidiram construir outros; mas os elevados custos, a desorganização e sobretudo a resistência em deitar fora milhares de tanques que tanto tinham custado à Itália construir, impediram essa modernização ser levada a cabo de forma rápida.
Entretanto, Mussolini que desconfiava de Hitler, acabou por se deixar atrair por uma coligação por este, dada as promessas que lhe eram feitas formando o Eixo, mas sem se comprometer a uma guerra (o que o tornou muito popular no seu país, e admirado pelos seus supostos adversários). De facto Mussolini sabia que a Itália não estava preparada para a guerra moderna, e o plano de rearmamento só estaria pronto (na melhor das hipóteses) em 1943.
Com a campanha fulgurante de Hitler em França, Mussolini decidiu arriscar e declarou guerra aos aliados (perdendo o dinheiros dos turistas e divisas congeladas nesses países).
O plano de ataque à Grécia foi mal concebido e pior executado (para começar, a Itália atacou com menos efectivos do que dispunham os gregos, num território desconhecido), e não ter perdido a Albânia foi uma sorte; os alemães acabaram por resolver a situação.
Para o mau desempenho das tropas italianas contribuiu o facto do governo dar provas de oportunismo político, arranjando inimigos conforme as ocasiões, o que fazia com que os soldados não conseguissem entusiasmar-se pelo combate. As tropas não recebiam qualquer treino de combate com fogo real (as munições e combustível eram caros), de modo que muitos oficiais e soldados disparavam pela primeira vez na vida quando entravam em combate (e os mais velhos tinham-no feito só na grande guerra).
Os capítulos seguintes tratam dos combates no norte de africa. Os italianos a partir da Líbia atacaram com o objectivo de conquistar o Egipto. O momento era perfeito (os ingleses tinham enviado as suas melhores tropas para a Grécia) e a fraqueza dos tanques italianos era compensada pela superioridade numérica e conseguiram chegar à fronteira. Só que aí, o comandante italiano (Grazianni) decidiu parar para não entrar numa guerra de atricção (apesar de ter uma vantagem numérica de homens de 1 para 10); apesar de Mussolini lhe exigir que avançasse, não o fez. Quando os ingleses foram reforçados, contra-atacaram. E levaram tudo pela frente; destruíram os tanques italianos e anti-tanques (havia anti-tanques que disparavam a poucas dezenas de metros tiros directos, sem consequências para os carros ingleses). Quando tudo parecia perdido, Hitler enviou Rommel, que reverteu a situação.
Ora o autor indica que a modernização das forças italianas começaram também a dar os seus frutos na época de Rommel; começaram a ser enviados tanques com verdadeiros canhões (de 47 mm) como o M13/40 em grandes quantidades e não a conta-gotas. Apesar de terem pior blindagem e armamento que os seus equivalentes os italianos passaram a utilizar um recurso eficaz: avançar o mais depressa possível para ao adversário, anulando essas vantagens e beneficiando do apoio inter-armas. Mais tarde outros tanques ainda melhores (mas sempre piores que os dos seus adversários) foram sendo enviados.
Apesar da performance das divisões italianas ser muito inferior às suas congéneres alemãs, acabaram por ser melhor do que lhe é atribuído; o seu ratio de perdas/danos foi igual à dos seus adversários (mesmo quando estes já dispunham de Shermans e os italianos ainda combatiam com M13/40). Para isso contribuiu quer as tácticas já indicadas, a superior experiência das suas tripulações (que combatiam sem parar ao contrário das aliadas, que eram substituídas), o uso de ataques de flanco, camuflagem e serviços de informação que por vezes eram superiores aos alemães.
O autor considera que as forças italianas no período de Rommel (que os aproveitou ao máximo, permitindo quer tivessem resultados muito melhores do que com o seu próprio comando) e portaram-se muito bem dadas as circunstâncias, e não poderiam ter feito mais. Mas que o governo italiano esse sim, poderia ter feito as coisas de forma diferente. Concentrando os seus recursos no norte de Africa, em vez de enviar centenas de milhares de homens e centenas de tanques e aviões para a Rússia, onde nada contribuíram; a apoiar Rommel, poderiam ter alterado o resultado da campanha do médio oriente (mas não da guerra em si, já que a sorte se jogou na frente de leste).
Sendo um país recente, não possuía colónias e quando tentou conquistar territórios só lhe restava zonas marginais. Quando rebentou a primeira guerra mundial, embora tivesse excelentes relações com a Alemanha, a sua rivalidade com o império austro-hungaro e as promessas dos aliados, fez a Itália balançar para este campo. Terminada a guerra, a Itália recebeu menos do que lhe foi prometido, além de estar numa situação de crise. O seu parque industrial era inferior às outras potências industriais europeias, não possuía combustíveis nem matérias-primas (carvão, petróleo, ferro), tendo de importar tudo.
O fascismo nos anos 20 esteve demasiado ocupado em adquirir o controle do país, para se lançar em expedições.
Entretanto, decidiram criar uma força blindada (que era vista como a arma do futuro) e foram construídos milhares de tanques ligeiros e extremamente ágeis.
Nos anos 30, com o aparecimento de outros regimes nacionalistas, a Itália pôde lançar-se em aventuras externas sem perigos de retaliação. Na Etiópia, e em Espanha utilizou os seus tanques como arma fulcral (apesar de algumas derrotas estrondosas acabaram por se sair bem) e do ponto de vista táctico acabaram por chegar às mesmas conclusões que os alemães: os tanques deviam ser utilizados em grandes formações e sempre apoiados por infantaria, artilharia e aviação, e nunca enviados isolados (como fariam os ingleses) ou mero suporte da infantaria (como os franceses); só assim conseguiriam os seus tanques extremamente ligeiros e rápidos (ideais no seu impérios colonial).Por outro lado, o seu novo império colonial era composto por territórios atrasados, que não lhe davam riquezas e ainda exigiam despesas (que para a construção de infra-estruturas, quer de tropas de defesa).
Entretanto, os italianos aperceberam-se que os seus tanques apesar de bons para os seus domínios coloniais (por serem muito rápidos e deslocarem-se em grandes distâncias) como o Fiat L3 e L11, contra outros europeus estavam a ficar ultrapassados e decidiram construir outros; mas os elevados custos, a desorganização e sobretudo a resistência em deitar fora milhares de tanques que tanto tinham custado à Itália construir, impediram essa modernização ser levada a cabo de forma rápida.
Entretanto, Mussolini que desconfiava de Hitler, acabou por se deixar atrair por uma coligação por este, dada as promessas que lhe eram feitas formando o Eixo, mas sem se comprometer a uma guerra (o que o tornou muito popular no seu país, e admirado pelos seus supostos adversários). De facto Mussolini sabia que a Itália não estava preparada para a guerra moderna, e o plano de rearmamento só estaria pronto (na melhor das hipóteses) em 1943.
Com a campanha fulgurante de Hitler em França, Mussolini decidiu arriscar e declarou guerra aos aliados (perdendo o dinheiros dos turistas e divisas congeladas nesses países).
O plano de ataque à Grécia foi mal concebido e pior executado (para começar, a Itália atacou com menos efectivos do que dispunham os gregos, num território desconhecido), e não ter perdido a Albânia foi uma sorte; os alemães acabaram por resolver a situação.
Para o mau desempenho das tropas italianas contribuiu o facto do governo dar provas de oportunismo político, arranjando inimigos conforme as ocasiões, o que fazia com que os soldados não conseguissem entusiasmar-se pelo combate. As tropas não recebiam qualquer treino de combate com fogo real (as munições e combustível eram caros), de modo que muitos oficiais e soldados disparavam pela primeira vez na vida quando entravam em combate (e os mais velhos tinham-no feito só na grande guerra).
Os capítulos seguintes tratam dos combates no norte de africa. Os italianos a partir da Líbia atacaram com o objectivo de conquistar o Egipto. O momento era perfeito (os ingleses tinham enviado as suas melhores tropas para a Grécia) e a fraqueza dos tanques italianos era compensada pela superioridade numérica e conseguiram chegar à fronteira. Só que aí, o comandante italiano (Grazianni) decidiu parar para não entrar numa guerra de atricção (apesar de ter uma vantagem numérica de homens de 1 para 10); apesar de Mussolini lhe exigir que avançasse, não o fez. Quando os ingleses foram reforçados, contra-atacaram. E levaram tudo pela frente; destruíram os tanques italianos e anti-tanques (havia anti-tanques que disparavam a poucas dezenas de metros tiros directos, sem consequências para os carros ingleses). Quando tudo parecia perdido, Hitler enviou Rommel, que reverteu a situação.
Ora o autor indica que a modernização das forças italianas começaram também a dar os seus frutos na época de Rommel; começaram a ser enviados tanques com verdadeiros canhões (de 47 mm) como o M13/40 em grandes quantidades e não a conta-gotas. Apesar de terem pior blindagem e armamento que os seus equivalentes os italianos passaram a utilizar um recurso eficaz: avançar o mais depressa possível para ao adversário, anulando essas vantagens e beneficiando do apoio inter-armas. Mais tarde outros tanques ainda melhores (mas sempre piores que os dos seus adversários) foram sendo enviados.
Apesar da performance das divisões italianas ser muito inferior às suas congéneres alemãs, acabaram por ser melhor do que lhe é atribuído; o seu ratio de perdas/danos foi igual à dos seus adversários (mesmo quando estes já dispunham de Shermans e os italianos ainda combatiam com M13/40). Para isso contribuiu quer as tácticas já indicadas, a superior experiência das suas tripulações (que combatiam sem parar ao contrário das aliadas, que eram substituídas), o uso de ataques de flanco, camuflagem e serviços de informação que por vezes eram superiores aos alemães.
O autor considera que as forças italianas no período de Rommel (que os aproveitou ao máximo, permitindo quer tivessem resultados muito melhores do que com o seu próprio comando) e portaram-se muito bem dadas as circunstâncias, e não poderiam ter feito mais. Mas que o governo italiano esse sim, poderia ter feito as coisas de forma diferente. Concentrando os seus recursos no norte de Africa, em vez de enviar centenas de milhares de homens e centenas de tanques e aviões para a Rússia, onde nada contribuíram; a apoiar Rommel, poderiam ter alterado o resultado da campanha do médio oriente (mas não da guerra em si, já que a sorte se jogou na frente de leste).
segunda-feira, agosto 20, 2007
Guns, Germs and steel-VI
Num outro capítulo, é-nos apresentada uma verdadeira surpresa (mais uma de várias): ficamos a saber que a africa subsariana era na maioria povoada não pelos actuais africanos mas por pigmeus e Khoisian (são de pele negra mas as semelhanças ficam-se por aqui, já que a aparência e cultura são muito diferentes)), e quem sabe por outros grupos culturais que desapareceram. Entretanto um grupo, os nigerio-congo que são os antepassados dos modernos africanos sub-sarianos por razões variadas (demográficas, técnicas, enfim o costume) espalhou-se e foi absorvendo/conquistando/fundindo-se (conforme as situações) com as populações pré-existentes (embora ainda sobrevivam outras populações, com outras línguas em zonas diferentes, mas em situação claramente minoritária). O mesmo que se passara na Europa. O norte e leste de africa continuou a ser povoado por falantes de línguas africano-semitas, e Madagáscar por austranésios que tinham aí chegado na altura da sua expansão.
O resto do livro acaba por ser um resumo da obra.
Num outro capítulo, é-nos apresentada uma verdadeira surpresa (mais uma de várias): ficamos a saber que a africa subsariana era na maioria povoada não pelos actuais africanos mas por pigmeus e Khoisian (são de pele negra mas as semelhanças ficam-se por aqui, já que a aparência e cultura são muito diferentes)), e quem sabe por outros grupos culturais que desapareceram. Entretanto um grupo, os nigerio-congo que são os antepassados dos modernos africanos sub-sarianos por razões variadas (demográficas, técnicas, enfim o costume) espalhou-se e foi absorvendo/conquistando/fundindo-se (conforme as situações) com as populações pré-existentes (embora ainda sobrevivam outras populações, com outras línguas em zonas diferentes, mas em situação claramente minoritária). O mesmo que se passara na Europa. O norte e leste de africa continuou a ser povoado por falantes de línguas africano-semitas, e Madagáscar por austranésios que tinham aí chegado na altura da sua expansão.
O resto do livro acaba por ser um resumo da obra.
quinta-feira, agosto 09, 2007
Guns, Germs and Steel-V
Um outro capítulo interessante é o de “como os chineses se tornaram chineses”. Aí ficamos a saber que todo o sudeste asiático e ilhas até à Oceânia eram até há uns 10000 anos atrás povoados por povos de tez mais escura (que se podem considerar aparentados aos indígenas da Papua Nova Guiné e austrália). Chamemos-lhes aborígenes. A arqueologia indica que viviam da caça e recolecção, em grupos de pequena dimensão.
Há uns milhares de anos atrás (cerca de 4000 antes de Cristo? Talvez antes?), grupos de asiáticos (que vamos chamar de austronésios que são os antepassados dos Filipinos, indonésios e polinésios) vindos do sul da china espalharam-se lentamente pelo sudeste asiático e ilhas. Como já tinham a agricultura, domesticação de alguns animais e ferramentas mais desenvolvidas, movimentavam-se em grupos maiores e assim puderam absorver/destruir parte dos povos aborígenes que foram encontrando. Entretanto outros grupos como os austroasiaticos (que inclui os Khmers e vietnamitas), os Thai e muitos outros vindos do norte da china (que falavam diversas línguas não aparentadas entre si) ainda mais desenvolvidos espalharam-se também pelo sul da China e conseguiram absorver/destruir os austronésios que encontraram. Por sua vez, um outro grupo no norte da China que podemos chamar de chineses propriamente ditos, começaram a criar estado organizados, desenvolvendo armas de bronze e depois ferro, criaram cavalos, desenvolveram a escrita, cidades, fortalezas, cortes, enfim tudo o que associamos à china, começaram depois de 1000 AC a conquistar o sul da China. Esses diversos reinos Chineses descreviam os do sul (constituídos por austronésios/asiáticos) como selvagens que viviam primitivamente, tatuavam-se e não tinham estados organizados. Os austronésios acabaram por desaparecer na China e sudeste asiático (no sul da china os austronésios foram absorvidos culturalmente, mas do ponto de vista físico deixaram marcas, havendo uma diferença entre os habitante do norte e sul da china, resultando da fusão de chineses do norte com austronésios, austroasiaticos e outros) e só conseguiram sobreviver nas ilhas da Ásia e oceânia (numa vasta área, que vai de Taiwan até à ilha da Páscoa, passando por Madagáscar); os austroasiaticos e afins espalharam-se pelo sudeste asiático onde ainda vivem actualmente.
E os aborígenes? Alguns conseguiram sobreviver na Malásia e Filipinas em pequenos grupos, na Nova Guiné (onde são a maioria) e na Austrália (onde são uma minoria, mas aqui o problema foi a colonização branca).
Há uns milhares de anos atrás (cerca de 4000 antes de Cristo? Talvez antes?), grupos de asiáticos (que vamos chamar de austronésios que são os antepassados dos Filipinos, indonésios e polinésios) vindos do sul da china espalharam-se lentamente pelo sudeste asiático e ilhas. Como já tinham a agricultura, domesticação de alguns animais e ferramentas mais desenvolvidas, movimentavam-se em grupos maiores e assim puderam absorver/destruir parte dos povos aborígenes que foram encontrando. Entretanto outros grupos como os austroasiaticos (que inclui os Khmers e vietnamitas), os Thai e muitos outros vindos do norte da china (que falavam diversas línguas não aparentadas entre si) ainda mais desenvolvidos espalharam-se também pelo sul da China e conseguiram absorver/destruir os austronésios que encontraram. Por sua vez, um outro grupo no norte da China que podemos chamar de chineses propriamente ditos, começaram a criar estado organizados, desenvolvendo armas de bronze e depois ferro, criaram cavalos, desenvolveram a escrita, cidades, fortalezas, cortes, enfim tudo o que associamos à china, começaram depois de 1000 AC a conquistar o sul da China. Esses diversos reinos Chineses descreviam os do sul (constituídos por austronésios/asiáticos) como selvagens que viviam primitivamente, tatuavam-se e não tinham estados organizados. Os austronésios acabaram por desaparecer na China e sudeste asiático (no sul da china os austronésios foram absorvidos culturalmente, mas do ponto de vista físico deixaram marcas, havendo uma diferença entre os habitante do norte e sul da china, resultando da fusão de chineses do norte com austronésios, austroasiaticos e outros) e só conseguiram sobreviver nas ilhas da Ásia e oceânia (numa vasta área, que vai de Taiwan até à ilha da Páscoa, passando por Madagáscar); os austroasiaticos e afins espalharam-se pelo sudeste asiático onde ainda vivem actualmente.
E os aborígenes? Alguns conseguiram sobreviver na Malásia e Filipinas em pequenos grupos, na Nova Guiné (onde são a maioria) e na Austrália (onde são uma minoria, mas aqui o problema foi a colonização branca).
quinta-feira, agosto 02, 2007
A História de Genji-final
Terminei este verão a leitura do romance "A história de Genji", que vou resumir agora.
A mulher que dá um filho a Genji (a jovem Akashi), tem como principal dote saber usar o Koto (uma espécie de guitarra) de forma exímia; o mesmo com sawflower. Murasaki não tem qualquer capacidade especial (por culpa de Genji que reconhece que falhou na sua educação) mas é bonita.
Quando chega a vez de escolher uma nova imperatriz, é feito um concurso de pintura, em que facções rivais se disputam (cada facção tem de num prazo limitado perante uma assembleia de pintar temas de livre escolha); a facção vencedora é a de Genji (contra Tono) e é a filha de Genji (a jovem Akashi) que é escolhida como nova imperatriz. Aliás, a avó materna da jovem Akashi é considerada um paradigma da sorte: mulher de um vice-governador sem importância, tornou-se monja juntamente com o marido numa zona longínqua, sem perspectivas para a filha, quando esta se torna concubina da pessoa mais poderosa do país, e eles acabam por tornar-se avós de uma imperatriz e bisavós de príncipes imperiais.
Outras amadas de Genji sabem bem escrever quer na forma (a caligrafia em si é uma arte para os japoneses), quer no conteúdo (as missivas nunca são feitas descrevendo algo directamente, mas sempre com recurso a poemas, que são extremamente crípticos para ocidentais).
A vida de Genji segue como sempre: festas, concursos de poesia, de caligrafia e pintura e um ocasional flirtanço. Até que o seu irmão o imperador retirado Suzuku que tem uma especial predilecção por uma das filhas (a terceira princesa) e decide arranjar-lhe um marido. O problema é quem? Como a sua mãe não era uma pessoa importante, não haveria ninguém na corte para apoia-la. Mesmo assim vários candidatos apresentam-se imediatamente, nomeadamente um dos filhos de Tono (Kashiwaga), mas Suzuku decide convencer o seu irmão a Genji a casar com ela. Genji sabe que isso irá desagradar a Murasaki (afinal uma princesa imperial tem sempre estatuto e poderia servir de rival) mas decide seguir em frente e casar com a sobrinha. Murasaki mantém as aparências e faz boa cara, mas as restantes esposas de Genji não são tão amáveis, pois devem muito a Murasaki e ignoram como será a nova esposa. Esta acaba por viver em semi-reclusão de algum modo infeliz. E é aí que entra em jogo Kashiwaga: este que acabara por casar com uma irmã da terceira princesa (a segunda princesa) como prémio de consolação, mas não a esquece e depois de várias artimanhas, consegue entrar no palácio de Genji e viola-a. Ela nada pode dizer, pois mesmo forçada ficará mal vista; ele sente remorsos (por ter enganado Genji, não pela violação), escreve-lhe e essa correspondência acaba por cair nas mãos de Genji (que fica espantado por os textos serem tão directos e comprometedores, coisa que ele nunca fazia). Embora desagradado, quer acima de tudo manter as aparências (o escândalo danificaria as suas relações com os Fujiwara e o Suzuku) e embora nasça uma criança, ele acaba por se ligar ao bebé. Ele acaba por encarar toda a situação com fatalidade, pois relembra-se do que sucedera anos antes com Fujitsubo.
A acção vai a partir daí passar de Genji para outras personagens (que entra na sombra e torna-se cada vez mais melancólico, sobretudo depois da morte de Murasaki): Kashiwaga, Yugiri e outros da geração seguinte, em diversos capítulos, até que Genji morre.
Kashiwaga morrera de depressão, e Yugiri que fora seu amigo (e acabar por descobrir a história do amigo), apoia a viúva do amigo; com o tempo apoia-a financeiramente, mas portando-se sempre de forma impecável, não levantando a mínima suspeita; um dia tenta violá-la, mas ela corre depressa e fecha-se num quarto. Ele não se demove e consegue que ela fique isolada de amigos sendo obrigada a viver como sua concubina (com a aprovação da família de Tono, que tem menos um encargo financeiro com que se preocupar).
Esta nova geração é nas aparências menos estouvada do que a precedente, e sendo menos glamorosa, tem de recorrer a diversas artimanhas para conseguir conquistaras as mulheres, mas são também personagens mais realistas e menos idealizadas.
Passam diversos anos e seguem-se as aventuras do suposto filho de Genji (Kaoru) e o neto Niou (que é príncipe imperial). Estes são amigos e descobrem que um outro príncipe irmão de Genji vive retirado na pobreza (de acordo com os seus padrões) e como descobrem que são bonitas e tocam bem o koto, tentam convencer o príncipe a dar-lhes as filhas em casamento (partilhando-as entre si por acordo), mas ele morre sem consentir.
Niou viola uma delas (casando mais tarde com ela) e a outra morre de depressão. Kaoru que fica desgostoso pela morte da jovem que lhe estava destinado e apaixona-se pela jovem que ficara com o seu amigo; como estabelecer relações com ela é complicado, acaba por descobrir uma terceira irmã (não reconhecida), que vive na província. Ele tenta casar com ela, leva-a para uma casa, mas Niou interessa-se por ela e ela dividida entre dois amores (acabando por fazer amor com Niou sem grandes alternativas, quando Kaoru nunca a obrigara a nada) atira-se ao rio. Ambos os amigos ficam desgostosos, mas descobre-se mais tarde que a jovem sobreviveu e fica a viver num mosteiro. Kaoru tenta que ela volte para ele mas ela recusa e assim termina a história.
A mulher que dá um filho a Genji (a jovem Akashi), tem como principal dote saber usar o Koto (uma espécie de guitarra) de forma exímia; o mesmo com sawflower. Murasaki não tem qualquer capacidade especial (por culpa de Genji que reconhece que falhou na sua educação) mas é bonita.
Quando chega a vez de escolher uma nova imperatriz, é feito um concurso de pintura, em que facções rivais se disputam (cada facção tem de num prazo limitado perante uma assembleia de pintar temas de livre escolha); a facção vencedora é a de Genji (contra Tono) e é a filha de Genji (a jovem Akashi) que é escolhida como nova imperatriz. Aliás, a avó materna da jovem Akashi é considerada um paradigma da sorte: mulher de um vice-governador sem importância, tornou-se monja juntamente com o marido numa zona longínqua, sem perspectivas para a filha, quando esta se torna concubina da pessoa mais poderosa do país, e eles acabam por tornar-se avós de uma imperatriz e bisavós de príncipes imperiais.
Outras amadas de Genji sabem bem escrever quer na forma (a caligrafia em si é uma arte para os japoneses), quer no conteúdo (as missivas nunca são feitas descrevendo algo directamente, mas sempre com recurso a poemas, que são extremamente crípticos para ocidentais).
A vida de Genji segue como sempre: festas, concursos de poesia, de caligrafia e pintura e um ocasional flirtanço. Até que o seu irmão o imperador retirado Suzuku que tem uma especial predilecção por uma das filhas (a terceira princesa) e decide arranjar-lhe um marido. O problema é quem? Como a sua mãe não era uma pessoa importante, não haveria ninguém na corte para apoia-la. Mesmo assim vários candidatos apresentam-se imediatamente, nomeadamente um dos filhos de Tono (Kashiwaga), mas Suzuku decide convencer o seu irmão a Genji a casar com ela. Genji sabe que isso irá desagradar a Murasaki (afinal uma princesa imperial tem sempre estatuto e poderia servir de rival) mas decide seguir em frente e casar com a sobrinha. Murasaki mantém as aparências e faz boa cara, mas as restantes esposas de Genji não são tão amáveis, pois devem muito a Murasaki e ignoram como será a nova esposa. Esta acaba por viver em semi-reclusão de algum modo infeliz. E é aí que entra em jogo Kashiwaga: este que acabara por casar com uma irmã da terceira princesa (a segunda princesa) como prémio de consolação, mas não a esquece e depois de várias artimanhas, consegue entrar no palácio de Genji e viola-a. Ela nada pode dizer, pois mesmo forçada ficará mal vista; ele sente remorsos (por ter enganado Genji, não pela violação), escreve-lhe e essa correspondência acaba por cair nas mãos de Genji (que fica espantado por os textos serem tão directos e comprometedores, coisa que ele nunca fazia). Embora desagradado, quer acima de tudo manter as aparências (o escândalo danificaria as suas relações com os Fujiwara e o Suzuku) e embora nasça uma criança, ele acaba por se ligar ao bebé. Ele acaba por encarar toda a situação com fatalidade, pois relembra-se do que sucedera anos antes com Fujitsubo.
A acção vai a partir daí passar de Genji para outras personagens (que entra na sombra e torna-se cada vez mais melancólico, sobretudo depois da morte de Murasaki): Kashiwaga, Yugiri e outros da geração seguinte, em diversos capítulos, até que Genji morre.
Kashiwaga morrera de depressão, e Yugiri que fora seu amigo (e acabar por descobrir a história do amigo), apoia a viúva do amigo; com o tempo apoia-a financeiramente, mas portando-se sempre de forma impecável, não levantando a mínima suspeita; um dia tenta violá-la, mas ela corre depressa e fecha-se num quarto. Ele não se demove e consegue que ela fique isolada de amigos sendo obrigada a viver como sua concubina (com a aprovação da família de Tono, que tem menos um encargo financeiro com que se preocupar).
Esta nova geração é nas aparências menos estouvada do que a precedente, e sendo menos glamorosa, tem de recorrer a diversas artimanhas para conseguir conquistaras as mulheres, mas são também personagens mais realistas e menos idealizadas.
Passam diversos anos e seguem-se as aventuras do suposto filho de Genji (Kaoru) e o neto Niou (que é príncipe imperial). Estes são amigos e descobrem que um outro príncipe irmão de Genji vive retirado na pobreza (de acordo com os seus padrões) e como descobrem que são bonitas e tocam bem o koto, tentam convencer o príncipe a dar-lhes as filhas em casamento (partilhando-as entre si por acordo), mas ele morre sem consentir.
Niou viola uma delas (casando mais tarde com ela) e a outra morre de depressão. Kaoru que fica desgostoso pela morte da jovem que lhe estava destinado e apaixona-se pela jovem que ficara com o seu amigo; como estabelecer relações com ela é complicado, acaba por descobrir uma terceira irmã (não reconhecida), que vive na província. Ele tenta casar com ela, leva-a para uma casa, mas Niou interessa-se por ela e ela dividida entre dois amores (acabando por fazer amor com Niou sem grandes alternativas, quando Kaoru nunca a obrigara a nada) atira-se ao rio. Ambos os amigos ficam desgostosos, mas descobre-se mais tarde que a jovem sobreviveu e fica a viver num mosteiro. Kaoru tenta que ela volte para ele mas ela recusa e assim termina a história.
sexta-feira, junho 01, 2007
Guns, Germs and Steel-IV
Como o João Moutinho referiu, o facto de a eurasia se estender em milhares de kilómetros de oeste a este, foi outra vantagem. As plantas podiam ser transportadas na mesma latitude e espalhar-se sem problemas de adaptação por extensas zonas. Ora na américa isso é impossível: uma planta ou animal criado nos andes, um pouco mais a norte onde o clima é muito mais quente, demoraria extenso tempo a adaptar-se; uma planta cultivada na california não se poderia ser cultivada a lestem pois aí o clima é desertico e os povos aí existentes não lhe dariam qualquer uso; deste modo nunca a passariam para os povos que estavam a leste em zonas mais férteis, que teriam de aprender por sua própria conta. Este isolamente devido aos climas e diferenças geogáficas, reduzia mais a possibilidade de evolução, pois cada zona tinha de inventar tudo, sem beneficiar das descobertas de outros povos.
Algo semelhante se passou com a escrita: na eurásia foi inventada pelo menos pelos sumérios, egipcios (embora o egipto faça parte de africa, tal como o norte de africa, forma uma zona distinta do centro e sul), Índia e China. Todas estas zonas tinham a particularidade de terem sociedades fortemente hierarquizadas, com parte da população que não se dedicava a funções produtivas do sector primário (artesãos, funcionários, nobres, sacerdotes); as necessidades administrativas obrigaram a inventar sistemas de registo que partindo de formas muito simples (um símbolo fácil de de compreender traduzia uma palavra ou ideia), que se foram tornando mais abstractos. Esses sistemas foram difundidos, copiados, alterados e simplificados ou complicados conforme os povos por onde se espalhavam. Na américa a escrita foi inventada pelos olmecas no actual méxico, e de uma maneira ou de outra foi sendo transmitida até aos aztecas na zona da américa central; em nenhuma outra zona da américa foi inventada a escrita, dado que os povos que rodeiavam a meso-américa viviam em sistemas políticos mais simples que não necessitavam da escrita ou tendo culturas mais sofisticas, não beneficiaram do conhecimento de outros devido ao seu isolamento (ao contrário do que sucedeu na eurásia). Apenas os incas utilizaram um sistema de registar dados através de fios (os Quipus), mas cujo funcionamento é ainda um mistério.
Algo semelhante se passou com a escrita: na eurásia foi inventada pelo menos pelos sumérios, egipcios (embora o egipto faça parte de africa, tal como o norte de africa, forma uma zona distinta do centro e sul), Índia e China. Todas estas zonas tinham a particularidade de terem sociedades fortemente hierarquizadas, com parte da população que não se dedicava a funções produtivas do sector primário (artesãos, funcionários, nobres, sacerdotes); as necessidades administrativas obrigaram a inventar sistemas de registo que partindo de formas muito simples (um símbolo fácil de de compreender traduzia uma palavra ou ideia), que se foram tornando mais abstractos. Esses sistemas foram difundidos, copiados, alterados e simplificados ou complicados conforme os povos por onde se espalhavam. Na américa a escrita foi inventada pelos olmecas no actual méxico, e de uma maneira ou de outra foi sendo transmitida até aos aztecas na zona da américa central; em nenhuma outra zona da américa foi inventada a escrita, dado que os povos que rodeiavam a meso-américa viviam em sistemas políticos mais simples que não necessitavam da escrita ou tendo culturas mais sofisticas, não beneficiaram do conhecimento de outros devido ao seu isolamento (ao contrário do que sucedeu na eurásia). Apenas os incas utilizaram um sistema de registar dados através de fios (os Quipus), mas cujo funcionamento é ainda um mistério.
segunda-feira, abril 23, 2007
Guns, germs and steel-III
Bem, no livro Guns, Germs and Steel, o autor foca nos capítulos seguintes a importância da distribuição geográfica de animais e plantas passíveis de serem facilmente domesticados: a zona do crescente fértil por estar numa zona central da eurásia (que é uma massa de terra enorme) estava em vantagem em relação a outras zonas de clima semelhante noutras zonas do globo, pois teria forçosamente maior diversidade e quantidade de plantas/animais (por exemplo, o milho que é das plantas mais conhecidas, demorou milhares de anos a conseguir crescer de forma a tornar-se aceitável para se tornar a planta principal de cultivo dos índios, que tiveram de cultivar outras coisas antes em regime semi-nómada; no crescente fértil, os primeiros agricultores tinham logo acesso a trigo, centeio e cevada que lhes dava elevado rendimento (quer em quantidade quer a nível nutricional) e permitiu dar o salto rápido. O mesmo se passava com os animais: o lama, o único animal de maior porte domesticável nos andes não se compara em força a um boi ou um cavalo o que impedia o trabalho de muitas das terras (e respectivo crescimento populacional); no crescente fértil também existia um grande número de animais disponíveis para servir de alimento (porco, vaca, galinha, vaca, ovelha) que fornecem um maior número de proteínas. Só esses factores garantiam que a zona do crescente fértil ( e civilizações por ela influenciadas) possuía uma vantagem de milhares de anos no desenvolvimento civilizacional (o que quer dizer que os habitantes do Peru ou da Nova Guiné, poderiam ter chegado ao nível das civilizações do ocidente ou algo equivalente, desde que lhes dessem mais alguns milhares de anos suplementares). E o autor recusa que os habitantes da eurásia fossem culturalmente mais disponíveis à mudança que os de outras zonas: os índios usaram imediatamente o cavalo assim que puderam, os africanos sub-saharianos o gado bovino quando puderam: se eles não domesticaram nenhuma espécie indígena, foi porque nem todas espécies de animais em estado selvagem podem ser domesticados como espécie (uma coisa é transformar uma hiena individual em bicho de estimação, outra é tentar transformá-lo num substituto do cão, coisa que não resulta).
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