quarta-feira, setembro 19, 2007

Iron Hearts, Iron Hulls

Este livro trata da participação blindada italiana na guerra do norte de Africa. Ora o capítulo mais interessante é o primeiro que fala sobre a itália dos anos 20 e 30.
Sendo um país recente, não possuía colónias e quando tentou conquistar territórios só lhe restava zonas marginais. Quando rebentou a primeira guerra mundial, embora tivesse excelentes relações com a Alemanha, a sua rivalidade com o império austro-hungaro e as promessas dos aliados, fez a Itália balançar para este campo. Terminada a guerra, a Itália recebeu menos do que lhe foi prometido, além de estar numa situação de crise. O seu parque industrial era inferior às outras potências industriais europeias, não possuía combustíveis nem matérias-primas (carvão, petróleo, ferro), tendo de importar tudo.
O fascismo nos anos 20 esteve demasiado ocupado em adquirir o controle do país, para se lançar em expedições.
Entretanto, decidiram criar uma força blindada (que era vista como a arma do futuro) e foram construídos milhares de tanques ligeiros e extremamente ágeis.
Nos anos 30, com o aparecimento de outros regimes nacionalistas, a Itália pôde lançar-se em aventuras externas sem perigos de retaliação. Na Etiópia, e em Espanha utilizou os seus tanques como arma fulcral (apesar de algumas derrotas estrondosas acabaram por se sair bem) e do ponto de vista táctico acabaram por chegar às mesmas conclusões que os alemães: os tanques deviam ser utilizados em grandes formações e sempre apoiados por infantaria, artilharia e aviação, e nunca enviados isolados (como fariam os ingleses) ou mero suporte da infantaria (como os franceses); só assim conseguiriam os seus tanques extremamente ligeiros e rápidos (ideais no seu impérios colonial).Por outro lado, o seu novo império colonial era composto por territórios atrasados, que não lhe davam riquezas e ainda exigiam despesas (que para a construção de infra-estruturas, quer de tropas de defesa).
Entretanto, os italianos aperceberam-se que os seus tanques apesar de bons para os seus domínios coloniais (por serem muito rápidos e deslocarem-se em grandes distâncias) como o Fiat L3 e L11, contra outros europeus estavam a ficar ultrapassados e decidiram construir outros; mas os elevados custos, a desorganização e sobretudo a resistência em deitar fora milhares de tanques que tanto tinham custado à Itália construir, impediram essa modernização ser levada a cabo de forma rápida.
Entretanto, Mussolini que desconfiava de Hitler, acabou por se deixar atrair por uma coligação por este, dada as promessas que lhe eram feitas formando o Eixo, mas sem se comprometer a uma guerra (o que o tornou muito popular no seu país, e admirado pelos seus supostos adversários). De facto Mussolini sabia que a Itália não estava preparada para a guerra moderna, e o plano de rearmamento só estaria pronto (na melhor das hipóteses) em 1943.
Com a campanha fulgurante de Hitler em França, Mussolini decidiu arriscar e declarou guerra aos aliados (perdendo o dinheiros dos turistas e divisas congeladas nesses países).
O plano de ataque à Grécia foi mal concebido e pior executado (para começar, a Itália atacou com menos efectivos do que dispunham os gregos, num território desconhecido), e não ter perdido a Albânia foi uma sorte; os alemães acabaram por resolver a situação.
Para o mau desempenho das tropas italianas contribuiu o facto do governo dar provas de oportunismo político, arranjando inimigos conforme as ocasiões, o que fazia com que os soldados não conseguissem entusiasmar-se pelo combate. As tropas não recebiam qualquer treino de combate com fogo real (as munições e combustível eram caros), de modo que muitos oficiais e soldados disparavam pela primeira vez na vida quando entravam em combate (e os mais velhos tinham-no feito só na grande guerra).
Os capítulos seguintes tratam dos combates no norte de africa. Os italianos a partir da Líbia atacaram com o objectivo de conquistar o Egipto. O momento era perfeito (os ingleses tinham enviado as suas melhores tropas para a Grécia) e a fraqueza dos tanques italianos era compensada pela superioridade numérica e conseguiram chegar à fronteira. Só que aí, o comandante italiano (Grazianni) decidiu parar para não entrar numa guerra de atricção (apesar de ter uma vantagem numérica de homens de 1 para 10); apesar de Mussolini lhe exigir que avançasse, não o fez. Quando os ingleses foram reforçados, contra-atacaram. E levaram tudo pela frente; destruíram os tanques italianos e anti-tanques (havia anti-tanques que disparavam a poucas dezenas de metros tiros directos, sem consequências para os carros ingleses). Quando tudo parecia perdido, Hitler enviou Rommel, que reverteu a situação.
Ora o autor indica que a modernização das forças italianas começaram também a dar os seus frutos na época de Rommel; começaram a ser enviados tanques com verdadeiros canhões (de 47 mm) como o M13/40 em grandes quantidades e não a conta-gotas. Apesar de terem pior blindagem e armamento que os seus equivalentes os italianos passaram a utilizar um recurso eficaz: avançar o mais depressa possível para ao adversário, anulando essas vantagens e beneficiando do apoio inter-armas. Mais tarde outros tanques ainda melhores (mas sempre piores que os dos seus adversários) foram sendo enviados.
Apesar da performance das divisões italianas ser muito inferior às suas congéneres alemãs, acabaram por ser melhor do que lhe é atribuído; o seu ratio de perdas/danos foi igual à dos seus adversários (mesmo quando estes já dispunham de Shermans e os italianos ainda combatiam com M13/40). Para isso contribuiu quer as tácticas já indicadas, a superior experiência das suas tripulações (que combatiam sem parar ao contrário das aliadas, que eram substituídas), o uso de ataques de flanco, camuflagem e serviços de informação que por vezes eram superiores aos alemães.
O autor considera que as forças italianas no período de Rommel (que os aproveitou ao máximo, permitindo quer tivessem resultados muito melhores do que com o seu próprio comando) e portaram-se muito bem dadas as circunstâncias, e não poderiam ter feito mais. Mas que o governo italiano esse sim, poderia ter feito as coisas de forma diferente. Concentrando os seus recursos no norte de Africa, em vez de enviar centenas de milhares de homens e centenas de tanques e aviões para a Rússia, onde nada contribuíram; a apoiar Rommel, poderiam ter alterado o resultado da campanha do médio oriente (mas não da guerra em si, já que a sorte se jogou na frente de leste).

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